Com a rapidez galopante de nosso tempo, mais uma Semana Euclidiana se foi num fechabrir de olhos, como diria Guimarães Rosa.
Diferentemente do que aconselha o cronista de outras épocas, Álvaro Moreira, as amargas sim, e em primeiro lugar.
Fomos no sábado, 12 de agosto, sepultar o Prof. Vinício Rocha dos Santos, último sobrevivente da geração de professores que marcou a nítida feição cultural de nossa cidade. Ao lado do Dr. Abdiel Cavalcânti Braga, de Odilon Machado César, José Germinal Artese, Maria Isabel Ada Parisi, Laércio Barbosa, Jorge Luiz Abichabki, Hersílio Ângelo e alguns outros poucos, o Prof. Vinício exerceu marcante influência no ensino público e particular de São José do Rio Pardo, durante décadas. Eu me sentiria muito ingrato se, ao término do velório, não tivesse dito as palavras que disse. Conforta-me saber que expressei para seus familiares o sentimento dominante no espírito daquelas poucas pessoas ali presentes que souberam, a tempo, de sua morte e lhe puderam prestar as devidas homenagens. Certamente a Semana Euclidiana de 2007 lembrará a boa contribuição do Prof. Vinício, integrante da primeira diretoria da então Casa Euclidiana, ao lado de Almeida Magalhães e Oswaldo Galotti.
Na quarta-feira, 9, fui agradavelmente surpreendido com a generosidade de amigos no lançamento de meu livro Vidro de Aumento. Não esperava a presença de tantas pessoas. Muito menos o esforço conjugado da Casa de Cultura Euclides da Cunha, do Centro Cultural Ítalo-Brasileiro e da Fábrica de Expressão no proporcionarem recepção tão requintada num ambiente apropriado. À Ana Lúcia e colaboradores da Casa de Cultura; à Rina e companheiros do CCIB; à Lúcia Vitto e seus brilhantes músicos, meus agradecimentos. Aos colegas, amigos e parentes que lá estiveram , um muito obrigado sincero.
Na quinta, 10, tivemos o lançamento de importante obra de iniciação euclidiana – Os Sertões mais curto – de Célia Mariana Franchi Fernandes da Silva, a rio-pardense Prof.ª Celinha, das mais brilhantes integrantes do corpo de palestrantes do Ciclo de Estudos Euclidianos. Outra bela festa, com a presença de outros músicos da Fábrica de Expressão, desta vez na Casa de Cultura. Primorosa a apresentação do livro pela Prof.ª Marleine Paula Marcondes e Ferreira de Toledo. Muito especial a tertúlia pós-lançamento, em que Manoel Roberto Fernandes da Silva e Antônio Fernando de Sylos, amigos desde a mais tenra infância, foram revolvendo fatos e rememorando pessoas, trazendo à tona uma São José do Rio Pardo e um estilo de vida que só existem na memória de cada um. De se pensar, a partir daquele prazeroso convívio, em se criarem outros pretextos para pessoas que se estimam e se conhecem tão bem, encontrarem-se com mais freqüência e deixarem tudo isso convenientemente registrado.
Nos dois lançamentos de livros, gratíssima a presença de Flávio Eduardo Leme de Godoy, que, não sendo rio-pardense de nascimento, o é por espontânea decisão. Também ele participou de todos os bate-papos, contribuindo com sua boa memória a também desenterrar pessoas e coisas de mais de meio século. Filho do coletor federal, Sr. Jairo, e de D. Maria Lúcia, Flávio Eduardo aqui viveu quando garoto, mas nutre por esta cidade e por todos nós a mais afetuosa amizade, sendo mesmo o principal responsável pela ligação de muitos conterrâneos nossos residentes em São Paulo com a nossa São José do Rio Pardo. A preocupação atual dele é a organização dos festejos comemorativos do setuagésimo aniversário de inauguração do prédio de nosso “ginásio”, a Escola Estadual Euclides da Cunha, em outubro próximo.
Pelo que é possível ouvir-se na cidade toda, a questão da data do desfile da Semana Euclidiana ainda provocará muita discussão. Melhor será mantê-lo a 9 de agosto ou fazê-lo sempre no domingo da Semana? Estão divididas as opiniões, mas o importante é que ele continue a ser um ponto de referência popular nos festejos de agosto, com a participação de todas as escolas, de todas as entidades. Impressionou-me bastante a massa humana concentrada compactamente ao longo de toda a extensão da Rua Francisquinho Dias. Um belo espetáculo. Primorosas tantas apresentações, que representam o esforço quase sempre anônimo de milhares de pessoas. Não haverá exagero em dizer-se que para cada desfilante há, quando menos, dez colaboradores cujo trabalho não é ressaltado individualmente. Mas o que me tocou de verdade foram os que abriram alegres e sorridentes o grande cortejo – aquelas pessoas de todas as idades e de todas as condições sociais catalogadas como portadoras de necessidades especiais. Algo que dignifica os que se dedicam com tanto afinco a esse grandioso projeto de inclusão social, sem demagogia, sem política, sem sequer esperar o alheio reconhecimento.
Muito festejada a apresentação do Coral da Nestlé, no grande salão do Rio Pardo Futebol Clube, antecedendo a conferência oficial da Semana, a cargo do Prof. Nicola de Souza Costa. O trabalho de Maria Teresa Ratti de Oliveira e seus companheiros foi largamente aplaudido pelo grande público, e mais ruidosamente pelos maratonistas. Pena o impolido gesto cometido por tantos espectadores que, terminada a parte do Coral, saíram ostensivamente do local, como se nada lhes significasse a palavra de um prestigioso filósofo e historiador, capaz de levantar com propriedade e competência os muitos pontos de contato entre Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa e Os Sertões, de Euclides da Cunha. Felizmente a deseducada atitude de uns tantos foi reparada e superada pela carinhosa recepção que o Rotary Clube proporcionou em sua sede ao Prof. Nicola, aos palestrantes do Ciclo de Estudos e ao laborioso pessoal da Casa de Cultura Euclides da Cunha.
Preocupante a falta espontânea de público na romaria à cabana de Euclides, na tarde de 15 de agosto. Afinal, esta data foi declarada feriado local, desde 1925, para que a cidade toda prestasse sua homenagem ao malogrado escritor. Como as outras datas do calendário cívico brasileiro, o nosso 15 de agosto também se transformou em dia de lazer, sem outro significado educativo ou moral para a maioria de nossos conterrâneos. Triste sinal dos tempos. Triste omissão de quem não poderia se omitir na transmissão dos valores que forjam o caráter dos cidadãos.
Não sabia da força de penetração da TV Direta, de Mococa. Na noite de 15 de agosto, fui convidado a dar entrevista em seus estúdios. Ao caminhar pelas ruas da cidade, na manhã de 16, mais de uma dezena de pessoas me disse haver ouvido o programa sobre Euclides e a Semana Euclidiana. Outras tantas me fizeram saber que acompanharam a reprise de minha fala, no começo da tarde do mesmo dia.
É como dizem: uma imagem vale por mil palavras. Mil palavras com imagem, então...