A instituição da Casa Eu-clidiana foi o reconhecimento do Governo do Estado à comunidade rio-pardense por seu empenho e constância em realizar anualmente, durante décadas, um programa de difusão cultural através das Semanas Euclidianas.
Pode-se afirmar que elas tiveram início na primeira romaria realizada em 15 de agosto de 1912 quando um grupo de admiradores do escritor reuniu-se para “recordar o amigo ausente” no recanto que mais evocava a presença de Euclides da Cunha em São José do Rio Pardo: a ponte, a cabana e o rio; era o começo de um culto jamais rompido.
Comemorando o 17º aniversário da ponte, Vicente de Carvalho inaugurou, em 18 de maio de 1918, o medalhão de bronze com a efígie de Euclides fixado em bloco de granito rosa. Em 15 de agosto de 1925 foi instituído o feriado municipal “Dia de Euclides”. No mesmo ano, em 14 de novembro, foi criado o Grêmio Euclides da Cunha formado por 22 sócios entre eles 7 participantes da primeira romaria. Em 1936 as comemorações passaram a ser organizadas pela Comissão de Festejos Euclidianos nomeada pelo prefeito dr. Luiz Gonçalves Jr., presidida pelo dr. Agripino Ribeiro da Silva e secretariada pelo dr. Oswaldo Galotti.
O presidente Getúlio Vargas em 1938, pelo decreto nº 25, incorporou a Cabana ao Patrimônio Histórico Nacional atendendo ao pedido do prof. Francisco Venâncio Filho.
O movimento euclidiano, em franco progresso, passou a exigir mais tempo para as apresentações programadas; além disso havia uma certa contradição em se realizar festividades no dia do aniversário da morte do escritor de “Os Sertões”; para solucionar esse impasse o dr. Oswaldo Galotti teve, em 1938, a iniciativa de instituir a Semana Euclidiana que seria realizada anualmente de 8 a 15 de agosto com atividades culturais, sociais e esportivas; merecidamente foi o dr. Galotti quem pronunciou no dia 8 a primeira conferência da Semana com o sugestivo título “Euclides da Cunha e São José do Rio Pardo”.
O prof. Hersílio Angelo, para atrair a juventude ao estudo da obra de Euclides da Cunha e despertar seu interesse pelas Semanas, em 1939, criou entre os alunos do curso médio do Ginásio do Estado a Maratona Intelectual Euclidiana.
O sucesso da primeira Semana contou com a participação de seis conferencistas ilustres, entre eles o prof. Francisco Venâncio Filho que foi o elo de ligação entre São José do Rio Pardo e intelectuais do Rio de Janeiro, de caravanas de estudantes de São Paulo, Campinas, Mococa, São João da Boa Vista e de centenas de romeiros, evidenciou a necessidade de a Comissão de Festejos Euclidianos ter seu próprio espaço para tantas atividades. Suas reuniões eram realizadas no prédio da Prefeitura o qual já se tornara insuficiente para suas próprias atividades; além disso, com o passar do tempo, livros, objetos e documentos relativos à vida e obra de Euclides da Cunha, recebidos por doação, foram se acumulando; assim a Comissão passou a estudar a possibilidade de ter um prédio próprio para suas atividades e também para criar o Museu Euclidiano com o acervo já recebido e contando com futuras doações; além disso no Museu seria possível efetuar eventos durante o ano todo, que até então estavam restritos às datas de nascimento de Euclides, da inauguração da ponte e às Semanas em agosto.
O dr. Honório de Sylos, ainda no ano de 1938, possivelmente com a “assistência técnica” do dr. Oswaldo Galotti, elaborou o projeto de criação da Casa Euclidiana e o apresentou ao dr. Álvaro Guião secretário de Educação, o qual se interessou pelo assunto que logo teve a sua aprovação; entretanto com o falecimento do dr. Álvaro seu sucessor não cuidou de promulgar o projeto através de um decreto-lei; apesar do empenho do dr. Honório e do apoio do poeta Guilherme de Almeida, durante a gestão de dois Interventores e de vários Secretários, o processo permaneceu prisioneiro da burocracia e da indiferença das autoridades.
Somente em 1946 o dr. Honório de Sylos, sendo Diretor Geral do Departamento Estadual de Informações teve a oportunidade de apresentar seu projeto ao novo Interventor Federal dr. José Carlos de Macedo Soares que recebeu com agrado a iniciativa fazendo questão de encaminhar e acompanhar o processo; para agilizar sua tramitação o dr. Honório recebeu o auxílio de outro poeta, Cassiano Ricardo. Em poucos meses, finalmente, a Casa Euclidiana de São José do Rio Pardo, conforme decreto-lei nº 15.961, assinado pelo dr. José Carlos de Macedo Soares em 14 de agosto de 1946, tendo como patrono Euclides da Cunha, foi instituída.
Esse mesmo decreto-lei, entre outras providências, determinou a abertura de uma verba de dez mil cruzeiros destinada ao pagamento de prêmios aos vencedores da Maratona Intelectual Euclidiana promovida entre os alunos dos colégios estaduais oficializando assim o evento que se tornaria uma das colunas das Semanas Euclidianas.
Nesse ano a Semana foi patrocinada pela Prefeitura Municipal e pelo Departamento Estadual de Informações; apesar do falecimento do prof. Francisco Venâncio Filho em viagem para São José, foi de um brilhantismo raro, destacando-se a chegada do Interventor dr. José Carlos de Macedo Soares no dia 15 à noite quando recebeu muitas homenagens pela criação da Casa Euclidiana; após visitar a Prefeitura o dr. Macedo Soares, em segunda romaria, dirigiu-se à cabana acompanhado pelos participantes da Semana e pelo povo; na volta conheceu as redações da “Gazeta do Rio Pardo” e “Resenha”, a Rádio Difusora e antes de partir inaugurou a sede da Associação Atlética Riopardense.
O decreto-lei nº 15.985 do dia 26 de agosto do mesmo ano que declarou de utilidade pública o imóvel da rua Marechal Floriano a fim de ser adquirido ou desapropriado pelo Estado, facilitou em muito a instalação da Casa Euclidana; no entanto devido à demora no processo de desapropriação ela passou a funcionar de forma precária de 1954 até 1957 quando o Governo do Estado autorizou a reforma do prédio e destinou à Prefeitura a verba de quinhentos mil cruzeiros.
Comemorando a data de nascimento de Euclides da Cunha, a Casa Euclidiana foi inaugurada oficialmente no dia 20 de janeiro de 1959.