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Euclides e o berço de Os Sertões
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Memorial Euclides da Cunha
2007-03-05 14:42:37

 

Memorial Euclides da Cunha
29/11/2006 11:02:47

(“ao interior está reservado um novo e grande papel de desenvolvimento”)

 

Álvaro R. O. Netto

 

 

O arquiteto Willian Fagiolo está empenhado em construir em São José do Rio Pardo o “Memorial Euclides da Cunha.” Neste momento é  um plano ousado porque a cidade atravessa uma de suas piores fases. Deixando o pessimismo de lado, a análise que cabe aqui é que essa iniciativa significa a recondução da cultura rio-pardense à sua vocação natural que é o culto à memória do escritor Euclides da Cunha, que escreveu aqui Os Sertões, considerado o melhor livro do Brasil em pesquisa realizada entre intelectuais sérios, pela revista Veja, e também lembrado como uma das melhores obras da humanidade. Qualquer cidade do planeta teria muito orgulho e se preocuparia muito, e mais, com o fato de ser o “Berço de Os Sertões’. Não é o que se vê atualmente em São José do Rio Pardo.

O movimento euclidiano está perdendo forças, se transformando em atividade paroquial, sem nenhuma preocupação com as tradições que construíram o valor do euclidianismo por estas bandas. A desconstrução da Semana Euclidiana é um exemplo. A transformação da Casa de Cultura Euclides da Cunha em sede da Secretaria de Turismo, outro; o afastamento da Câmara Municipal da programação da Semana Euclidiana, outro; a mudança do desfile de abertura da Semana para o Dia dos Pais, outro. A redução do Corpo Docente dos Ciclos de Estudos Euclidianos e do número de maratonistas, outro. E nesta trilha, o que se percebe é que a Semana Euclidiana não está sendo propriamente euclidiana. Falta-lhe a visão de mundo que caracterizou seu patrono...

Acho esta questão extremamente difícil de se discutir porque  depende  de conceitos que vão se formando aos poucos  e se sedimentando em nosso pensamento, através de percepções que acabam sendo individuais, diferenciadas. Nem melhores, nem piores. Eu acredito — e trabalhei muito nessa direção — que a vida e a obra de Euclides da Cunha têm dimensão cósmica; maior, muito maior do que a limitada percepção de pessoas comuns. Esta característica, ainda a meu ver, deve nortear tudo que estiver vinculado de alguma forma a Euclides da Cunha. Temos que escarafunchar cada minuto de sua vida e tentar perceber o porquê de seus gestos, valores e atitudes, sempre pautados pela ética, pela humildade, pela persistência, pela altivez, pela correção, pela impessoalidade, pelo respeito ao próximo, pela indignação e, principalmente, pela generosidade, porque dedicou sua vida a melhorar e a refletir sobre o homem, a terra, pensando que só assim teríamos um Brasil menos desigual. Foi um justo. Tê-lo como modelo nos faz euclidianos.  Suas obras de arte (tanto as pontes como Os Sertões, sua viagem à Amazônia, ou outros textos) vieram de sua dignidade, genialidade, de sua percepção das necessidades humanas, quase sempre barradas pela ganância, intransigência, arrogância e tantas outras porcarias muito comuns em cada um de nós.

O pensamento euclidiano foi superior e merece tanto a preocupação do Willian Fagiolo como a de todos nós. As primeiras considerações de Fagiolo para o Memorial serão enviadas aos euclidianos “barrados no baile”, espalhados por este Brasil. Vou pedir-lhes opiniões e sugestões sobre o projeto. Com certeza elas poderão servir como subsídios para a construção do Memorial que deverá ter, no seu nascedouro, participação nacional.

São José do Rio Pardo teve a sorte (sei lá se foi só sorte!) de ser o local onde nasceu o livro que projetou Euclides da Cunha. Aqui estão documentos únicos relacionados ao mestre. A Cabana de Zinco está intacta, seu diploma de engenheiro está na Casa Euclidiana, algumas de suas cadernetas de anotações estão no Grêmio Euclides da Cunha, originais de cartas, livros de sua biblioteca particular estão aqui, acervos de euclidianos estudiosos foram doados à Casa Euclidiana. Seus restos mortais e de seu filho preferido repousam em Mausoléu no Recanto Euclidiano, que fica na Avenida Euclides da Cunha, perto da praça Francisco de Escobar, o grande incentivador de Euclides para escrever Os Sertões. Há, ainda, produtos e estabelecimentos comercias com o nome do escritor e, mais recentemente, a Faculdade de Filosofia também aderiu e passou a se chamar FEUC – Faculdade Euclides da Cunha e, certamente, poderá ter importante participação na organização do Memorial.  A sala das sessões da Câmara Municipal tem como patrono Francisco de Escobar.

Isto tudo porque São José do Rio Pardo, através de um trabalho desinteressado, em termos de projeção pessoal, do Dr. Oswaldo Galotti e do professor Hersílio Ângelo, cultivou e reverenciou por “protesto e adoração”, como disse Venâncio Filho, o pensamento euclidiano com a criação da Semana  Euclidiana, o mais antigo movimento cultural do país sem solução de continuidade, que acabou colocando a cidade no mapa, dando-lhe singularidade.

Tudo isso junto transformou São José do Rio Pardo em um centro de referência nacional para os estudos euclidianos. Começa aí, talvez, a preocupação de Willian Fagiollo em colocar o fermento que está faltando nisso tudo e dar a real dimensão que Euclides da Cunha deve ter na cidade onde ele teve a paz necessária para escrever a obra que o imortalizou. O euclidianismo criou impulso, entrou nas Universidades  e está se espalhando para outras cidades. Foi aqui que ele começou. Ou voltamos a nos preocupar com isso, ou corremos o risco de sermos caudatários, ironicamente, daquilo que criamos...

Willian já conversou com algumas pessoas sobre sua intenção e pretende ampliar a discussão envolvendo cada segmento de São José do Rio Pardo. Uma agenda está sendo construída nesse sentido, com o cuidado de não envolver o projeto com a política. É um mega projeto que pretende ter, também, a assinatura de Oscar Niemeyer e vai mudar praticamente todas as características da cidade, hoje limitada e submissa a interesses de grandes plantadores de cana-de-açúcar, sem que isso tenha ensejado um mínimo de ordenamento da atividade por parte dos responsáveis pelo município.

Nas preliminares de seu projeto já devidamente protegido, Fagiolo considera que “ao interior está reservado um novo e grande papel de desenvolvimento mais ordenado e onde se poderá manter um estilo de vida com qualidade e um tanto de calor humano. As exigência e a mentalidade já não são as mesmas. O interiorano mudou. Ganhou força econômica, conquistou presença social e importância política. O que é importante, no entanto, é que cultiva suas raízes, num misto de contemporaneidade e de revalorização das origens e dos costumes” E mais adiante: “São José do Rio Pardo, embarcando em uma canoa furada há tempos, tem sido um patinho feio, apesar das suas riquezas culturais, geográficas, climáticas, arquitetônicas e dos milhares de Euclidianos, potenciais turistas espalhados no mundo todo e que poderiam agregar desenvolvimento, riqueza e renda ao Município, trazendo, como conseqüência, mobilidade social.”

Há exemplos no mundo todo. Foi com este pensamento que a equipe responsável pela Secretaria de Turismo e Casa de Cultura Euclides da Cunha trabalhou durante a primeira gestão de Santurbano. O movimento euclidiano nacionalizado era um projeto que ainda pode ser retomado. Basta arregaçar as mangas. A oportunidade já apareceu...

 

Alvaro R. O. Netto

 
Alvaro R. O. Netto
 
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