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Euclides e o berço de Os Sertões
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Plagiando Euclides
2009-10-14 17:01:03

 

Plagiando Euclides
14/10/2009 15:43:08

Eis que o rio-pardense é, antes de tudo, um forte! Não tem o desânimo exaustivo dos habitantes de outras plagas.

A sua aparência, entretanto, à primeira vista, mostra o contrário... Falta-lhe a elegância do paulistano, o charme do carioca, a estrutura atlética do residente no litoral. É tímido, reservado, esquivo. O andar despreocupado, quase gingante e sinuoso, apresenta a calma em relação ao tempo. Agrava essa impressão a postura relaxada, mão na cintura, como quem não tem pressa para interromper uma conversa.

A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente à primeira parede que encontra; de carro, se estaciona para trocar duas palavras com um conhecido, recosta um braço na direção, descansando o outro na porta. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme, pois seu caminho é constantemente interrompido  por um aperto de mão.

É o homem permanentemente disposto a um dedo de prosa.

Reflete a cordialidade do interiorano, a mão estendida e a disposição perene para um bate-papo de esquina.

Entretanto, toda essa aparência de tranqüilidade ilude.

Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização de caboclo, operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, revelando novos estados de espírito e disposição para a superação de obstáculos, e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros fortes, iluminada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, de imediato, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos  da tranqüilidade habitual, e da figura vulgar do caipira, desponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã bronzeado e potente, num desdobramento surpreendente de força e raciocínio extraordinários.

Este contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo momento, em todos os pensamentos da vida interiorana – caracterizada sempre pela monotonia e mesmice de todos os dias.

É impossível idealizar-se cavalheiro mais desajeitado e deselegante; sem posição, pernas abertas de qualquer jeito, cuja aproximação se vê impedida pelo ventre proeminente, resultado de muitos barris de chope nos finais de semana. 

Mas se um problema se levanta, ou se alguém necessita de sua ajuda, ei-lo em momentos transformado, agindo e fazendo o melhor possível, adquirindo, assim, uma rapidez  admirável, mesmo sem um meio de transporte motorizado.

Vimo-lo nessa situação especial.

Não há como contê-lo, então, no ímpeto. Que venham impedimentos, gripes suínas, dificuldades financeiras, recusas de profissionais necessários à execução de seu projeto, porque por onde passa o problema, para ele, também chega a solução.

Foi assim com a suspensão da Semana Euclidiana.

Não aceitou o fato. Negociou um adiamento, apenas. Chegado o mês de outubro, a sua correria já havia rendido muitos frutos. Pode colhê-los. E quando se fala no homem, é no sentido geral, homem e mulher. E os frutos foram muitos, a abertura da Semana foi um espetáculo maravilhoso, que a todos agradou. Até mesmo o Ciclo de Estudos conseguiu trazer gabaritados professores, com significativa representação no meio acadêmico. Tudo fruto de muita luta, até o último momento. O rio-pardense prestigiou, patenteou, subvencionou e esteve presente em muitas dessas atividades.

Esse rio-pardense, antes de tudo um Hércules, é você, que prestigiou os eventos, são todos que os idealizaram e os efetivaram. São aqueles que trabalharam nos bastidores, na limpeza, na alimentação, na iluminação, no som, no empréstimo dos locais, na confecção dos materiais, no atendimento às pessoas. Esse rio-pardense é, igualmente, o prefeito desta cidade, que marcou presença na Cultura, que trouxe pessoas de outros lugares para abrir nossos horizontes.

Esse rio-pardense é você, professor conscientizado e amigo, que não mediu esforços para nos prestigiar com sua presença!

Esses rio-pardenses somos nós todos, amalgamados em uma só coisa: a luta pela sobrevivência da Semana Euclidiana, que não só está acontecendo como também tem sido muito rica em eventos, participações especiais e em idéias.

E, para provar que esse Hércules enfrenta qualquer desafio de cabeça erguida, faço-me una aqui com o professor Nicolas Costa, ao dizer: que a próxima Semana seja a da Paz, que reúna – quem sabe? – os descendentes de todos os lados das vítimas dessa tragédia euclidiana, em exercício de paz e compreensão. Que traga para cá alunos de todas as cidades, mas também das favelas, para que tenham um lugar de reivindicação por uma escola no lugar onde residem, seja ele qual for, assim como há nos bairros. Que venham mostrar aos representantes da área acadêmica os seus reais problemas e reivindicações. (Marcosss, esta é uma missão para o “Deus” de Cantagalo!).

Unamo-nos em torno dessa idéia. Novos e antigos. Diretoria atual e ex-diretores. Professores de todos os lugares e de todas as épocas.

Deixemos de lado todas as divergências mesquinhas. Olhemos para este planeta com imparcialidade e distância: de lá do espaço sideral, de onde só se visualiza um Todo; observemos desse foco que nos reduz a bactérias, ou a húmus da terra... E veremos que individualmente não somos absolutamente nada.

Deixemos de lado os doutores na arte de matar, que hoje utilizam escandalosamente a ciência, e formulam leis para a guerrilha, para a desocupação de moradias, para a exploração dos menos favorecidos, para novos esquemas de corrupção. Iniciemos uma nova via – a do diálogo, da troca de idéias, da não-violência, da paz, do amor ao próximo.

Malgrado todas as nossas limitações, tanto de idéias quanto de recursos, que esse esforço seja feito. Vamos a ela, à Semana Euclidiana 2010 – a Semana da Paz!

 

Maria Olívia Garcia

 
Maria Olivia Garcia
 
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