Antônio Celso Chiaradia enviou-me, há uns mês e pouco, cinco nítidas fotografias de São José do Rio Pardo, tiradas por seu pai, em 1942.
Escrevi-lhe pedindo mais informes sobre a família, mas não recebi resposta até agora. Sei apenas que o pai foi gerente do Banco Francês e Italiano, com sede própria no belo prédio da Rua Marechal Deodoro, depois Banco Moreira Sales e Unibanco. Uma edificação elegante e sóbria, admirada por pessoas que entendem de arquitetura, como o conde Sebastião Pagano, que a considerou uma dos mais bonitas da cidade, juntamente com aquela casa vizinha, construída no local onde hoje estão as Lojas Cem, e posta abaixo sem nenhum remorso.
Detalhe de minha remota infância: recém-alfabetizado, eu olhava com suspeição a vistosa placa de latão, colocada entre duas portas de entrada do orgulhoso casarão: Banca Francese e Italiana per l’America del Sud. De fato, era muito para minhas primeiras incursões na linguagem.
Mas vamos às fotos:
CIDADE MÍNIMA
Panorama visto das proximidades da velha casa da família Bittencourt, proprietária das terras onde se formou a Vila Formosa.
É de observar-se que a foto mostra a pequenez da cidade, com suas ruas principais, a saber, da esquerda para a direita: Benjamin Constant, Francisco Glicério, pequeno trecho da João Pessoa (hoje Francisquinho Dias) e sua continuação natural, a estrada do cemitério, agora denominada Avenida Comendador Luiz Gonçalves Júnior.
Aparecem alguns casarões, que também não mereceriam jamais ter sido postos abaixo: o sobrado da família Soares (atual Ranchão), o chalé de Oliveiros Pinheiro (substituído pela sede do Rio Pardo Futebol Clube), a Casa Lacreta – onde hoje se constrói grande conjunto comercial com apartamentos no andar superior, isso na Marechal Deodoro, próximo à Escola Tarquínio Cobra Olyntho, então novinha em folha.
Para todos os lados, grandes espaços vazios, que já não existem.
O ATERRO DE EUCLIDES
Notável cena, tomada numa tarde de sol, na Avenida Euclides da Cunha. Um casal e uma criança (vistos de costas) passeiam numa charrete, puxada por um animal, pelo aterro construído no nível da ponte metálica até os trilhos da Companhia Mojiana de Estradas de Ferro.
A avenida, muito mais larga, asfaltada, tem hoje duas pistas e canteiro central. As árvores da foto antiga parecem ser oitis, aquelas que soltam cachos com bolinhas, roxas quando maduras, e excelentes para serem assopradas em canudinhos, nas extintas guerras de moleques.
ANTES DO CRISTO
O ponto de observação do fotógrafo e das demais pessoas é a pedreira situada à direita da estátua do Cristo Redentor, erigida mais tarde pelo esforço de Manuel de Sousa Rosa e todo o povo rio-pardense.
Note-se que quase nada estava construído a partir da igreja de Santo Antônio. Por ali terminava o perímetro urbano e caía-se na zona rural.
LUGAR BOM DE NADAR
A ilha São Pedro, em local próximo à margem direita do rio Pardo.
Ninguém pensava em poluição de espécie alguma. Nadava-se despreocupado no rio, nos córregos, em açudes.
O outro lado do rio, que dá para o Santo Antônio, continua inalterado.
A PONTE DE EUCLIDES
Ela parece até mais garbosa do que hoje.
Os galhos da árvore que emoldura a foto muito bem enquadrada não parecem de mangueiras (hoje com uma sobrevivente apenas), muito menos da paineira que se debruçava sobre a redoma da cabana histórica.