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Euclides e o berço de Os Sertões
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Os Sertões na cultura brasileira de hoje
2001-12-12 00:00:00

 

Os Sertões não são e nunca foram modelo imitável de linguagem acessível ao grande público.Ao contrário, sua sintaxe arcaizante, sua retórica com base nas hipérboles e nas antíteses, seu vocabulário de cunho científico não suscitam imitadores. No entanto, a posição de realce deste livro na literatura brasileira é evidente, porque algo de seu valor intrínseco o faz superar imperfeições que em outras obras teriam sido mortais. Os Sertões são uma grande obra literária, mas não só isso.

Se não fosse a qualidade artística de seu texto, o livro já teria caído no esquecimento. Ora, não sendo ficcional, a causa da sua marcante presença na cultura nacional está no senso inato do épico, que prevalece em todas as suas páginas. Este sopro épico deu a Euclides o formato adequado para transmitir com sinceridade a sua mensagem, que se resume na denúncia de um crime. Se já estivesse em voga o termo genocídio, Euclides o teria empregado para resumir o que ocorrera em Canudos.Sua convicção pessoal a respeito de situações, conceitos e personagens históricas é de tal modo persuasiva que, mesmo frente à mais fidedigna documentação conflitante com aquela convicção, o leitor é sempre tentado a rejeitar essa realidade e a aceitar a óptica euclidiana.

Com isso, Euclides em Os Sertões consegue atingir os homens de todas as épocas, através da utilização de elementos vitais como a miséria, a injustiça, o egoísmo, a abnegação, a própria morte, que, por serem comuns à condição humana, ultrapassam as barreiras geográficas e linguísticas para criar entre o leitor e a obra uma verdadeira simpatia. É o que se chama função sintonizadora da linguagem, presente em toda obra de valor universal.

Daí a certeza da sobrevivência deste grande livro como documento literário e como bem cultural.

 
Márcio José Lauria
 
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