Memoriais e relatórios sobre a ponte.
Notícias do trabalho de sua reconstrução
e notas sociais do jornal "O Rio Pardo"
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Fonte: http://www.saojoseonline.com.br/euclides/comemo.htm
Autor: Rodolpho José Del Guerra
"O Rio Pardo", jornal rio-pardense, surgido em 12 de fevereiro de 1899, teve a direção do Dr. Mauro Pacheco, passando, dois meses depois, às mãos do Dr. Álvaro de Oliveira Ribeiro, que o dirigiu até 12 de fevereiro de 1901, quando foi vendido ao Sr. Valêncio Bulcão. O jornal registrou, com destaque, todos os fatos relacionados com a vida social e funcional do engenheiro-escritor Euclides da Cunha, que gozava do mais alto conceito na cidade.
Os parágrafos, neste capítulo, com raras exceções, são transcrições do jornal citado. Outras transcrições estão no capítulo "A Ponte de Euclides".
* Memorial de 18 de fevereiro de 1898. "(...) Essa comissão (engenheiros: Gama Cochrane, Euclides da Cunha e Carlos Wolkermann), depois de proceder exame detalhado, regressou a esta capital, depois de ter tomado as medidas mais urgentemente reclamadas, dando começo a desmontagem da ponte provisória, ficando encarregado do respectivo serviço e com residência em São José, o engenheiro Euclides da Cunha." (Secretaria da Agricultura).
* 5 de março de 1899. "Cumprimentamos o Dr. Euclides da Cunha e sua exma. família , que há algum tempo antes, acham-se de volta à nossa cidade. O Dr. Euclides da Cunha vem continuar os trabalhos já iniciados de reconstrução da ponte sobre o rio Pardo."
* 20 de abril de 1899. "O governo do Estado recebeu o parecer enviado pelo Dr. Euclides da Cunha sobre a reforma da cadeia."
* 23 de abril de 1899. "Já estão construídos, sólidos e elegantes, os dois pilares das margens. Brevemente começarão os trabalhos para edificação de 1 ou 2 pilares centrais para o que já se acha colocada sobre o caixão uma máquina a vapor para aspirar a água, descobrindo-se o leito do rio."
* Maio de 1899. A família de Euclides recebeu a visita de Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha, pai de Euclides, a de um irmão e de uma irmã de Anna e, no final do mês, a do Dr. Gama Cochrane, da Superintendência de Obras do Estado, em visita de inspeção.
* 18 de maio de 1899. "Concluíram-se no dia 13 do corrente, às 11 horas da noite, os trabalhos de concreto do 1º pilar da ponte metálica sobre o rio Pardo, depois de 6 dias e 6 noites de trabalho consecutivo." (Seguem-se elogios a Euclides).
* 1 de junho de 1899. Artigo de Humberto de Queiroz, de Mococa, assinado com a letra Q: "De cá para lá". (Veja "Cronologia biográfica...", à pag. 10, último §).
* 26 de junho de 1899. "Chegaram ontem a esta cidade os drs. Francisco de Paula Ramos de Azevedo, Ataliba Valle e Joaquim da Silveira Braga, engenheiros que vêm, por parte do governo e do ex-empreiteiro da ponte metálica, realizar uma 2ª vistoria para final solução do litígio determinado pelo desabamento da ponte."
* 13 de julho de 1899. "Dr. Orville Derby — Vindo da capital de São Paulo, esteve nesta cidade, em dias da semana passada, de visita ao Dr. Euclides da Cunha, o notável homem de ciências Dr. Orville Derby, chefe da Comissão Geográfica e Geológica do Estado."
* 13 de agosto de 1899. (Apenas trechos de um longo artigo). "(...) Continua a construção dos pilares dentro do rio (...). Dr. Euclides conseguiu superar as dificuldades. Outro que não fosse o ilustrado e operoso funcionário que, na frase elegante e concisa do Dr. Ramos de Azevedo, constitui a "resistência da Repartição de Obras Públicas do Estado", teria desanimado, ou, então, ergueria o pilar sobre uma base falsa, como aconteceu com a primeira ponte e, em vez de possuirmos uma obra sólida e elegante que prestasse reais serviços à população desta cidade e do município, iríamos ter um segundo mundéo. (...)" Ele diz que a rocha viva foi encontrada a 4 m abaixo do leito do rio, graças à luta e a "perspicácia do engenheiro habilíssimo."
* 25 de março de 1900. "Devido ao zelo, competência e energia do Dr. Euclides da Cunha, o serviço (...) está avançando (...). A ponte metálica vem trazer para o nosso município grande melhoramento, atraindo para a nossa cidade a safra de café de grande parte do município de Mococa (...)."
* 6 de maio de 1900. "A festa que se realizou dia 3 do corrente, em comemoração ao grande feito de 1500 (4º Centenário do Descobrimento do Brasil) foi o mais brilhante e importante que há na memória entre nós. (...) À noite, tivemos passeata pelas ruas da cidade, com aproximadamente duas mil pessoas. Falou o Dr. Jovino de Sylos. Em frente ao paço da Câmara Municipal orou o Dr. José Rodolpho Nunes. Desta redação falou o Dr. Álvaro de Oliveira Ribeiro. Falaram: Dr. Aquino, Tarquínio Cobra Olyntho, te.-cel. João Moreira, dr. Raimundo Black, Miguel Santoro, Dr. José de Oliveira Leite, Padre José de Ancassuerd, dr. Guilherme Tell e o Dr. Euclides da Cunha, que em eloquentíssimas frases saudou as três Nações: Portugal, Itália e Brasil." / Nesta mesma edição foi publicado o artigo de Euclides da Cunha "O 4º Centenário do Brasil" (Veja "Cronologia biográfica...", à pág. 11, 2 primeiros §).
* 10 de maio de 1900. "Hóspedes do Dr. Euclides da Cunha um filho e uma filha do general Solon, há pouco falecido em Belém do Pará. Dando as boas vindas aos recém-chegados, felicitamos a exma. snra. D. Anninha Solon Ribeiro da Cunha pela agradável surpresa que teve no último domingo com a presença dos seus dignos irmãos."/ Ainda em maio, Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha, pai de Euclides, o visitou em São José. / No final do mês, em visita de inspeção, esteve na cidade o Dr. Gama Cochrane.
* 17 de maio de 1900. "Está entre nós o simpático moço Alarico Sólon Ribeiro que veio visitar o seu cunhado e a sua digna irmã D. Anninha Sólon Ribeiro da Cunha. Cumprimentamo-lo."
* 15 de julho de 1900. "Terminou ante-ontem o conserto da parte metálica da ponte sob a inteligente e criteriosa direção do Dr. Euclides da Cunha." (Seguem-se elogios).
* 16 de agosto de 1900. No final do longo artigo "As exéquias do Rei Humberto", uma referência ao engenheiro, sempre citado: "Não compareceu o Dr. Euclides da Cunha, segundo nos comunicou o sr. agente consular, por motivo de encômodo de saúde."
* 4 de novembro de 1900. Artigo transcrito do jornal "Comércio de São Paulo" - "O ilustrado engenheiro Dr. Euclides da Cunha concluiu sua obra sobre a dramática expedição militar do Sertão da Bahia. / É, como já foi dito, um livro emocionante. / A lúgubre epopéia é descrita com todo o rubro esplendor do colorido de que se revestiu. / Divide-se esta desenvolvida obra em partes: a Terra, o Homem, a Luta. / Em cada uma, o autor, que foi testemunha presencial dos horrores que se passaram naqueles ínvios lugares, se pronuncia com independência de exposição e muito talento. / Para a publicação deste trabalho altamente valioso para a história brasileira contemporânea, tem o Dr. Euclides da Cunha editor escolhido. Muito breve começará a impressão dos capítulos desta obra a quem não faltou estilo, nem emoção intensa."
* 2 de dezembro de 1900. "Estrada de Caconde — Sob a inteligente, criteriosa (...) direção do Dr. Euclides da Cunha , ficou terminado o serviço com a quilometragem da estrada que liga esta cidade a de Caconde ( 28 Km e 800m)."
* 25 de maio de 1901. O jornal relata a inauguração da ponte e a manifestação de apreço ao engenheiro, ocorridas a 18 de maio passado. ( Veja "A ponte de Euclides", à pág. 29, 2 últimos §, e pág. 30).
* 25 de maio de 1901. "O povo e amigos promoveram a 18 do corrente, às 7 da noite, com banda e fogos, uma manifestação de apreço ao Dr. Euclides da Cunha, diante da sua casa (...). Dr. Euclides ofereceu aos manifestantes uma mesa de doces." (Veja "A ponte de Euclides", à pág. 30, 1.º §).
* 20 de maio de 1901. Relato do Dr. Gama Cochrane, sobre a inauguração da ponte, ao Secretário da Agricultura. (Veja "A Ponte de Euclides, à pág. 30, 2.º §).
* Vem à luz a primeira edição de Os Sertões, no final de novembro ou início de dezembro de 1902, com mil exemplares, esgotada em dois meses. Sucesso. Novas edições: 1903, 1904, 1911, 1914, 1923... O livro corre mundo, traduzido para mais de uma dezena de línguas. Com ele, São José do Rio Pardo também se projeta muito além das suas fronteiras... (Veja "Cronologia biográfica..." à pag. 13, 2 últimos §, e pág. 14).
* De Lorena, Euclides escreveu a Escobar: "(...) Serei um vingador e terei desempenhado um grande papel na vida - o de advogado dos pobres sertanejos assassinados por uma sociedade pulha e sanguinária."
* Um ano antes da sua morte, em 1908, Euclides ainda se lembra da paz profícua que usufruiu em São José. Do Rio de Janeiro, escreve ao amigo Escobar: "(...) Digo-te mais: a minha maior aspiração seria deixar de vez este meio deplorável (...) de civilização pesteada. Como é difícil estudar-se e pensar-se aqui! (...) Que saudades do meu escritório de folhas de zinco e sarrafos, da margem do Rio Pardo! Creio que se persistir nesta agitação estéril não produzirei mais nada de duradouro".
O Movimento Euclidiano Rio-pardense
Começa em São José do Rio Pardo, três anos depois da morte de Euclides da Cunha, um movimento de amor e gratidão ao engenheiro-escritor que, mesmo morto, continuava a elevar a cidade, fazendo-a conhecida como o berço de Os Sertões e de possuir a ponte mais bonita do Estado. Era o nascer do movimento euclidiano rio-pardense. Estava lançada a semente que floresceria.
* Em 1912, 15 de agosto, os amigos de Euclides se reuniram diante da cabana e recordaram-se por muito mais de "um minuto do amigo ausente". Estava lançada a semente do movimento euclidiano rio-pardense.
* Ainda, em 1912, os amigos cariocas de Euclides se propuseram ressuscitá-lo do frio esquecimento, numa campanha de glorificação. O objetivo era angariar fundos para erigir um monumento em sua homenagem no morro da Babilônia e não deixar cair no esquecimento as suas obras, o que não aconteceu.
Os rio-pardenses colaboraram e, em 1913, já pensavam em erigir uma herma em homenagem ao escritor, nas proximidades da ponte.
* Em 18 de maio de 1918, o primeiro monumento do Brasil em homenagem a Euclides da Cunha foi inaugurado em São José do Rio Pardo. Na pedra da herma está gravado um trecho da dedicatória em uma fotografia de Euclides, oferecida a Lúcio de Mendonça: "Misto de celta, de tapuia e grego!" A efígie de bronze no monumento foi ofertada pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Em São José do Rio Pardo se realizava a "I Exposição Regional de Pecuária" e os muitos visitantes se juntaram aos rio-pardenses, à beira do rio, para ouvir a emocionante oração do poeta Vicente de Carvalho, o grande amigo de Euclides. Pela primeira vez se ouviu o aposto de São José: "Meca do euclidianismo".
Depois daquele monumento de pedra, o vocábulo "herma" teve, só para nós rio-pardenses, o significado de jardim euclidiano.
* Aos 15 de agosto de 1925, o poeta Martins Fontes, convidado para falar no recanto euclidiano, sugeriu que aquele dia, de todos os anos, fosse consagrado a Euclides.
Um mês depois, 15 de setembro, o prefeito, Cel. José Pereira Martins de Andrade, sancionou projeto da Câmara, consagrando o 15 de agosto à "memória do preclaro cidadão Dr. Euclides da Cunha": "Dia de Euclides".
* Dia 14 de novembro de 1925, o prefeito José Pereira Martins de Andrade (Zeca Pereira), José Honório de Sylos, Jovino de Sylos e Francisco Teive de Almeida Magalhães fundaram o Grêmio Euclides da Cunha de São José do Rio Pardo.
* 15 de agosto de 1928, foi inaugurada com grande festa a redoma de vidro, protetora da cabana, pelo prefeito, Dr. João Gabriel Ribeiro.
* Em 1936, a comissão dos festejos euclidianos, diante da grandiosidade da festa que não mais se encaixava num só dia, e graças ao entusiasmo do Dr. Osvaldo Galotti, instituiu a Semana Euclidiana.
* O Serviço do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional, em 1939, por deliberação do Dr. Rodrigo Mello Franco de Andrada, tornou a pobre cabana monumento nacional.
* Ainda em 1939, o Professor Hersílio Ângelo instituiu a Maratona Intelectual Euclidiana.
* Foi inaugurada, na Semana Euclidiana de 1939, no recanto euclidiano, a placa de bronze com os dizeres seguintes: "À memória de Francisco Escobar, pela assistência de cultura e de carinho com que contribuiu para "Os Sertões", 15-8-1939."
* 1946. Foi criada a Casa Euclidiana (decreto-lei nº 15.961, de 14 de agosto), com sede na casa onde residiu Euclides, desapropriada pelo Estado. Iniciativa do Dr. Honório de Sylos. No dia seguinte, 15, o interventor federal, Dr. José Carlos de Macedo Soares, em visita a São José, oficializou a Semana Euclidiana.
* Em 1954, a lei federal nº 2240, de 22 de julho de 1954, concedeu Cr$ 500.000,00 para a reforma do prédio da Casa Euclidiana.
* 1958. O projeto de lei nº 1001 reconheceu de utilidade pública o "Grêmio Euclides da Cunha de São José do Rio Pardo", transformado em lei nº 5.180, de 13-1-1959.
* 1961. Morreu a histórica e famosa paineira que protegeu a cabana.
* 1966. Instituição do "Ciclo de Estudos Euclidianos" para maratonistas. Iniciativa dos professores Márcio José Lauria e Dermal de Camargo Monfré.
* 1968. Remodelados os jardins do Recanto Euclidiano. Projeto do arquiteto Márcio Cevas. O piso de pedra tem o desenho criado pelo arquiteto Ênio Lamoglia Possebon: um grande sol envolvendo os nomes das partes de Os Sertões: Terra, Homem, Luta.
* 1977. A grande enchente danificou, sem destruir, a redoma e a cabana. Foram reconstituídas com as características originais.
* 1979. Iniciou-se o "Ciclo de Estudos Euclidianos - Área Municipal - 1º Grau", para alunos de sétimas e oitavas séries das escolas rio-pardenses. A iniciativa foi do prof. Álvaro Ribeiro de Oliveira Neto, diretor da Casa de Cultura Euclides da Cunha, coadjuvado pelo professor Rodolpho José Del Guerra, que fizera a experiência com sucesso no ano anterior.
* 1982. Foram trasladados do Rio de Janeiro os restos mortais de Euclides da Cunha e Euclides da Cunha Filho e sepultados, em 15 de agosto, no Mausoléu à margem do rio Pardo. Na placa de concreto, ao lado da cabeça de bronze do engenheiro e escritor, foi transcrito um trecho de sua carta, de abril de 1908, ao amigo Francisco de Escobar: "(...) Que saudades do meu escritório de folhas de zinco e sarrafos da margem do rio Pardo! Creio que se persistir nesta agitação estéril não produzirei mais nada de duradouro."
* 1985. A ponte desgastada foi protegida com pintura e as vigas centrais substituídas. (Veja o capítulo "A ponte de Euclides", pág. 30, 4 últimos §).
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