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Euclides e o berço de Os Sertões
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QUE SIGNIFICA OS SERTÕES PARA O BRASIL DE HOJE
2002-02-14 00:00:00

 

Os Sertões pertence àquele grupo de obras cujo número de edições é, nos tempos hodiernos, difícil de saber, pois são diversas. Apesar disso, o livro não foi escrito senão para um pequeno número de leitores. Os inúmeros termos técnicos, arcaísmos e o tom elevado, declamatório e épico tornam a obra quase inacessível. As edições didáticas, resumos e cronologias, contudo, permitem pelo menos a compreensão do enredo de "A Luta" (terceira parte de Os Sertões).

Euclides da Cunha ganhou notoriedade com Os Sertões. Depreendemos que conseguiu o que pretendia, mas por outras vias. A crítica aos militares e o estudo que dedicou ao fator étnico não causaram o impacto esperado pelo autor. A obra foi além do seu engajamento e indignação contemporânea e ainda hoje sobrevive pelas características "bárbaras" e "civilizadas" que nela se conciliam. O livro serve tanto ao povo (força do "estouro da boiada") quanto ao douto (descrição do locus amoenus de Monte Santo). Tanto ao sem-terra quanto ao proprietário dos bens materiais e culturais, sempre disposto a acionar o poder público para coibir supostos abusos com violência e saber "não-científico" com escolarização bancária.

Os Sertões ainda é atual. Apesar de seu vocabulário e estilo, pode, deve e é, felizmente, lido pelo público. Mas, por um lado, o público iletrado brasileiro sempre apreciou mais as descrições pitorescas ou comoventes e períodos com pompa oratória, abundantes em Os Sertões e extinguidos apenas na Semana de 22, do que a linguagem, a história e os costumes do Brasil desconhecido. Por outro lado, o público sente o que os pesquisadores de curiosidades literárias não percebem: o silêncio que se segue após a leitura de Os Sertões.

 
Juan Carlos
 
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