Os Sertões pertence àquele grupo de obras
cujo número de edições é, nos tempos hodiernos,
difícil de saber, pois são diversas. Apesar disso, o livro não
foi escrito senão para um pequeno número de leitores. Os inúmeros
termos técnicos, arcaísmos e o tom elevado, declamatório
e épico tornam a obra quase inacessível. As edições
didáticas, resumos e cronologias, contudo, permitem pelo menos a compreensão
do enredo de "A Luta" (terceira parte de Os Sertões).
Euclides da Cunha ganhou notoriedade com Os Sertões.
Depreendemos que conseguiu o que pretendia, mas por outras vias. A crítica
aos militares e o estudo que dedicou ao fator étnico não causaram
o impacto esperado pelo autor. A obra foi além do seu engajamento e indignação
contemporânea e ainda hoje sobrevive pelas características "bárbaras"
e "civilizadas" que nela se conciliam. O livro serve tanto ao povo
(força do "estouro da boiada") quanto ao douto (descrição
do locus amoenus de Monte Santo). Tanto ao sem-terra quanto ao proprietário
dos bens materiais e culturais, sempre disposto a acionar o poder público
para coibir supostos abusos com violência e saber "não-científico"
com escolarização bancária.
Os Sertões ainda é atual. Apesar de seu
vocabulário e estilo, pode, deve e é, felizmente, lido pelo público.
Mas, por um lado, o público iletrado brasileiro sempre apreciou mais
as descrições pitorescas ou comoventes e períodos com pompa
oratória, abundantes em Os Sertões e extinguidos apenas na Semana
de 22, do que a linguagem, a história e os costumes do Brasil desconhecido.
Por outro lado, o público sente o que os pesquisadores de curiosidades
literárias não percebem: o silêncio que se segue após
a leitura de Os Sertões.
|