Parceiros
adm    
Euclides e o berço de Os Sertões
Usuarios Online: 1
10:44:57 , Friday, 26 de April de 2024 , Bom Dia!

Menu
<< Próximo || Anterior >>

Euclides da Cunha
2002-02-19 00:00:00

 

Euclides da Cunha notabilizou-se pela publicação do livro "Os Sertões" em 1902, obra fundamental da cultura brasileira que tem tido várias edições. A vida atribulada não lhe permitiu elaboração de outras obras que se emparelhassem a "Os Sertões", mas de qualquer modo "Os Sertões" é uma referência básica na literatura brasileira. Filho de um guarda-livros que prestava serviço às fazendas de café no interior do Estado do Rio, órfão de mãe, foi educado em colégio no Rio de Janeiro, especialmente o Colégio Aquino que era um estabelecimento modelar de ensino secundário, onde foi discípulo de Benjamin Constant. Como acontecia aos filhos de classe média que não tinham recursos para cursar as escolas de direito ingressou na Escola Militar em 1886.

Em 1889 ocorre um episódio notável: os alunos da Escola Militar, em protesto contra uma punição, quando deveriam receber no Cais um líder republicano, resolvem se amotinar, e o Diretor da Escola para evitar esse conflito promove um desfile na presença do Ministro da Guerra Tomás Coelho. A revolta não teve andamento, mas quando a segunda coluna marchava em frente ao Ministro, um aluno sai de forma, e tenta amoldar o sobre, dirigindo palavras ao Ministro, era Euclides da Cunha, fiel ao seu compromisso. Afastado da Escola Militar vai então para São Paulo onde se torna correspondente do jornal "A Província de São Paulo" .

Com a República, retorna ao exército por pouco tempo e se transfere para São Paulo onde passa a trabalhar na Superintendência da Secretaria de Obras, iniciando uma carreira de engenheiro que também foi de destaque. Colabora no jornal O Estado de São Paulo e em 1897 quando do Movimento de Canudos é enviado como correspondente para acompanhar as operações de guerra. As observações estão incluídas em artigos publicados no jornal e em notas que constituem o Diário de Expedição.

De volta a São Paulo retorna às atividades de engenheiro e em 1898 desaba uma ponte sobre o Rio Pardo. Euclides da Cunha era responsável pela supervisão de toda a área, mas evidentemente não podia àquela construção atenção permanente. Homem de brio, se oferece para fazer a reconstrução da ponte e durante três anos passa na cidade de São José do Rio Pardo, em trabalho de engenharia de alto merecimento, ponte esta que, passado mais de um século, ainda está firme e resistente. Este foi o grande momento da vida de Euclides. As tarefas de supervisão não eram tão absorventes e ali encontrou um amigo admirável, Francisco Escobar, que lhe proporcionou todos os meios para a elaboração de grande livro. Reunia grupos de amigos que ouviam a leitura dos capítulos, procurava os livros de que Euclides precisava, e assim ao deixar São José do Rio Pardo seu grande livro estava pronto.

"Os Sertões" obteve grande sucesso, aplaudido pela crítica que acentuava a forma literária, em estilo diferente e original, e a análise de um Brasil que era praticamente desconhecidos dos brasileiros.

Continuando em sua atividade de engenheiro, Euclides da Cunha é nomeado chefe da Comissão de Reconhecimento do Alto Purus, organizada por força da assinatura do Tratado de Petrópolis. É uma nova aventura em que ele se empenha com todos os esforços, em condições mais precárias e traz da região uma impressão assustadora que registrou em alguns trabalhos, ,mas que pretendia escrever um livro inacabado, chamado "Paraíso Perdido" . De volta ao Rio, continuou trabalhando no Ministério das Relações Exteriores como auxiliar técnico do Barão do Rio Branco, que não lhe dispensa a colaboração e em seguida faz concurso para a cadeira de Lógica do Colégio Pedro II, nomeado, dando apenas umas poucas aulas, ao ser assassinado em 15 de agosto de 1909.

"Os Sertões" representa assim uma lição de brasilidade, livro extraordinário que ao comemorar um século, continua a merecer o interesse dos brasileiros.

Afrânio Peixoto chamou Euclides da Cunha "O primeiro bandeirante dessa estrada nova pela alma da nacionalidade brasileira". E todos os seus livros estão eivados desse mesmo sentido de brasilidade. "Contrates e Confrontos" publicado em 1907, reúne estudos da maior relevância entre os quais a preocupação com os países sul-americanos, fato raro no Brasil daquela época. E, 1909, ano da sua morte, é publicado postumamente "A Margem da História", que reúne o melhor dos estudos dedicados à Amazônia. No período de 1906 a 1909 vive no Rio, e apesar de seu temperamento difícil, granjeou grandes amizades e a sua correspondência revela também a afetividade e o interesse pelos amigos.

"Os Sertões" e as demais obras constituem uma grande lição de brasilidade, de amor ao Brasil, de confiança no povo brasileiro, e de esperanças de um futuro radioso. Esse sentimento foi bem expresso por Roquette Pinto. "E quando o desânimo te infiltrar o coração procure Euclides; ele se mostrará, com verdade e fulgor, o mundo de que és dono. E tu, meu irmão , como o herói da lenda medieval erguerás de novo o grito da esperança:

- Espírito sublime! Permitiste que eu lesse no seio profundo da minha terra como no peito de uma amigo; revelaste as forças secretas da minha própria existência".

 
Alberto Venâncio Filho
 
Apoio
Protéton