Os Sertões de Euclides da Cunha é sem dúvida
uma obra perene e atual.
Sua perenidade é atribuída a utilização
de uma linguagem precisa e apurada, em um texto construído sobre tudo
em adjetivações e antíteses, que ajudam na composição
dos cenários perfeitos daquilo que é descrito.
Expressões como: anticlinal extraordinária,
grande homem pelo avesso, tróia de taipa, Hércules - Quasímodo,
enriquecem seu texto criando imagens monstruosas, ricas e importantes para se
tentar compreender o palco e a razão do episódio que se desenrolou
no sertão baiano.
Trata-se de uma grande obra por motivos estéticos,
mas também pelo relato de um grande drama da nossa história, pelo
seu lado humano e pela temática, que não é só brasileira.
A atualidade da obra deve-se a inquietação
que seu caráter de denúncia nos provoca. Problemas de origens
sociais, ainda hoje são tratados pelo poder público de forma semelhante
ao tratamento dado aos seguidores de Antônio Conselheiro. É um
livro que nos dá a oportunidade de a partir de Canudos ter uma visão
das classes oprimidas.
O ressurgimento de figuras como a de Moreira César,
o corta-cabeças, encarnadas em homens como os que comandaram a invasão
da Penitenciária do Carandiru, ou dos assentamentos de terra de Eldorado
dos Carajás (PA) e Corumbiara (RO), nos fazem ter certeza que passados
mais de 100 anos, Canudos ainda vive.
Episódios traumáticos como os ocorridos
com as crianças da Candelária e com o crescente índice
de violência nos atuais centros urbanos dão nos mostras do abandono
social em que se encontra a população, principalmente a mais carente.
A obra de Euclides é muito comentada e infelizmente
pouco lida e o sertanejo brasileiro continua sendo um desconhecido e a vida
no sertão, a cultura, os costumes , ainda hoje é uma grande incógnita
para a maioria dos brasileiros.
Um país cujo poder público privilegia
investimentos na construção de presídios e não na
construção de escolas não é de se estranhar que
tenha um livro vingador com 100 anos, tratando de questões que ainda
hoje são atuais.
Ler Os Sertões é conhecer um pouco do
Brasil e dos brasileiros.
Profª. Rachel Aparecida Bueno da
Silva
Campinas - SP
Fevereiro / 2002
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