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Euclides e o berço de Os Sertões
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Apresentação de "Os Sertões"
2001-07-02 00:00:00

 

 

 

A obra-prima de Euclides da Cunha tem muito mais fama do que leitores. À parte os especialistas e discípulos fiéis, é comum assustar-se com suas peculiaridades técnicas e lingüísticas, desistindo-se da leitura. Trata-se, porém, de um livro fundamental e apaixonante, sempre atual, espécie de fonte inesgotável que a cada retomada desvenda riquezas novas.

Destinado primeiramente a historiar a Campanha de Canudos (Bahia, 1897), cresceu em extensão e profundidade até tomar-se um documento dramático do sertão semi-árido nordestino e da tragédia de seu habitante.


 

 


Um olhar sobre Canudos – Óleo de Otoniel Fernandes Neto

 

Sua primeira parte (A Terra) é mais do que a simples construção de um palco para os acontecimentos. O solo árido, recrestado e exsicado, o clima hostil, a vegetação tolhiça e agressiva, o isolamento geográfico que fez do sertão a “terra ignota” não são apenas dados técnicos de verificações e pesquisas - mas formam a Terra, gigantesco personagem trágico em constante diálogo de amor e morte com o protagonista. Tanto é assim que “o martírio do homem, ali, é reflexo de tortura maior, mais ampla, abrangendo a economia geral da Vida. Nasce do martírio secular da Terra...”


 


Vaquejada – Óleo de Otoniel Fernandes Neto

 

O Homem, mestiço “purificado” pelo isolamento, constitui, “inegavelmente, o tipo de uma subcategoria étnica já constituída”, forte, embora magro e deselegante. Modelado à feição do meio, reflete todas as conseqüências do isolamento físico e cultural que experimentou durante três séculos: é retrógrado, sem ser degenerado; religioso e supersticioso; simples e crédulo, facilmente influenciável por líderes carismáticos.

Antônio Conselheiro era um destes. Anacoreta severo e sombrio, galvanizava as multidões, que o seguiam processionalmente de vila em vila, rezando, reconstruindo igrejas e cemitérios, peregrinando em busca do Reino. Em 1893, depois de um incidente com a polícia, reuniu seus adeptos numa velha fazenda de gado à margem do Vaza-Barris, nascendo assim o arraial de Canudos: um amontoado de casas de pau-a-pique construídas às pressas, habitadas por uma população multiforme de sertanejos simples, beatas, ricos proprietários que abandonavam tudo em busca da salvação, bandidos que ali achavam abrigo seguro. A principal norma de vida era rezar às horas certas; a moral era elástica e os inevitáveis saques e tropelias nas redondezas eram tolerados com complacência.

O Conselheiro pregava contra a República - o Anticristo - sem o mais pálido intuito restaurador, pois os sertanejos, no seu atraso cultural, eram tão inaptos “para apreender a forma republicana como a monárquico-constitucional”, pois estavam “na fase evolutiva em que só é conceptível o império de um chefe sacerdotal ou guerreiro”. Foram, contudo, rechaçados como agitadores monarquistas, quando eram na verdade vítimas inevitáveis de um atraso cultural de três séculos, a reclamarem providências integradoras e não combate armado.

 

 

 

 

A Luta começou com um “incidente desvalioso”: como o juiz de Juazeiro (Bahia) se recusasse a entregar aos jagunços certas tábuas para a construção da igreja nova de Canudos, o Conselheiro ameaçou invadir a cidade. A reação foi imediata: 100 homens chefiados pelo Tenente Pires Ferreira, que não conseguiram derrotar os sertanejos e debandaram assustados com a coragem do inimigo (novembro de 1896).

 


Zona Mortífera – Óleo de Otoniel Fernandes Neto

 

Seguiram-se três expedições militares (1897) chefiadas, respectivamente, pelo Major Febrônio de Brito, Coronel Moreira César, Generais Artur Oscar e Savaget. O contingente das tropas aumentava de uma para a outra - mas, desconhecendo as condições do meio, não conseguiam derrotar os jagunços, em patente minoria. Por isso a luta assumia uma “feição misteriosa”. A vitória da República só se concretizou quando para lá se dirigiu o próprio Ministro da Guerra, Marechal Bittencourt, que reformulou tragicomicamente os planos de ataque: passou a alistar muares para o transporte de víveres, mantendo bem alimentadas as tropas, de sorte que o animal mais vilipendiado da História assentou dominadoramente suas patas entaloadas sobre uma crise - e esmagou-a...

Morreu o Conselheiro e também os principais jagunços (Pajeú, Vila Nova, etc.). Canudos sucumbiu a 5 de outubro de 1897, quando foram vitimados seus últimos defensores: um velho, dois homens feitos e uma criança, “na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados”. Foi um crime.

Por isso Os Sertões é um livro vingador. O determinismo científico do tempo, perfilhado por Euclides, acenava para a inevitabilidade da tragédia: um choque de culturas em estágios diferentes, um confronto entre uma raça fraca e uma forte só poderia resultar no esmagamento da primeira pela segunda; é a “força motriz da História” segundo Gumplovicz, citado por Euclides. Por que então lamentar? Euclides tinha em mente, com toda a certeza, o caráter altamente ético de toda tragédia, espécie de “flendo castigat mores”. Embora cientificamente o desenlace esteja previsto, não é possível conhecê-lo sem lastimá-lo; há uma grande lição para tirar-se, a fim de que no futuro se evitem condições que propiciem acontecimentos semelhantes. A denúncia do crime conduz à catarse, ao alívio da alma pela satisfação de uma necessidade moral - além de colocar em pauta, sem meios tons, o eterno problema da opressão dos fracos pelos fortes.

Os Sertões nunca perderá o sabor e a atualidade. Quem se debruça uma vez sobre suas páginas sempre volta a fazê-lo- e nunca fica decepcionado.


APRESENTAÇÃO DE “OS SERTÕES” DE EUCLIDES DA CUNHA

Célia M. F. F. da Silva

 

 

 

                                                                                         


Nota preliminar

 

A terra

 

Cap. 1 – Visão Geral

Cap. 2 – Relevo

Cap. 3 – Clima

Cap. 4 - Secas

Cap. 5 - Conclusão

 

 

 

 

 

 

 

 

O homem

 

Cap. 1 – Formação racial do brasileiro

Cap. 2 – Formação racial do sertanejo

Cap. 3 – O sertanejo

Cap. 4 – Antônio Conselheiro

Cap. 5 - Canudos


 

A luta

1ª expedição: Ten. Pires Ferreira; 100 homens ; nov. 1896

2ª expedição: Maj. Febrônio de Brito; 500 homens; dez. 1896

3ª expedição: Cel. Moreira César; 1300 homens; fev. 1897

4ª expedição: Gen. Artur Oscar; 3000 homens

                       Gen. Savaget; 2350 homens

                       Mal. Bittencourt; 3000 homens

                       De abril a outubro de 1897.

 

 
Célia Mariana Franchi F. da Silva (Area I)
 
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