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Euclides e o berço de Os Sertões
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DR. GALOTTI E A SEMANA EUCLIDIANA
2003-09-05 10:39:50

 

Untitled Document DR. GALOTTI E A SEMANA EUCLIDIANA

Odília Lopes Fernandes


Fim de festa. Termina mais uma Semana Euclidiana, com a participação e o esplendor da estudantada juvenil.
Durante esse período o coração rio-pardense bate forte e orgulhoso por esse evento tradicional percutindo os tambores nas ruas e praças repletas de gente, para somar toda a vibração de resgate da memória de um povo.
São centenas de estudantes vindos das mais distantes regiões do Brasil, empunhando bandeiras, estandartes, e enchendo de calor e alegria a nossa amada São José.
A comemoração, entre tantas novidades e variedades, sempre têm mesmo objetivo: consagrar a memória do gênio da literatura Euclides da Cunha.
Aqueles que acompanham todos os anos esse desfilar de gente entusiasta e bonita, percebem que a cada ano os estudantes se alternam, ou seja, enquanto uns alcançam patamares maiores de nível escolar e seguem para outras cidades em busca de novas oportunidades, outros chegam para fazer parte e viver esse grande movimento cívico.
A cada Semana Euclidiana, lembro-me com saudade de uma figura alta, imponente, dentro do seu terno branco - destacava-se entre as autoridades reunidas em cima do palanque no decorrer do desfile. Me refiro ao saudoso dr. Galotti, pessoa que dedicou grande parte de sua vida aos estudos euclidianos.
Recordo-me que nas vésperas do lançamento de meu livro "No Alvorecer dos Caminhos", estávamos em plena "Semana Euclidiana", nos anos 90. Fui assistir a uma palestra na faculdade e qual não foi a minha surpresa, ao constatar entre as autoridades presentes o dr. Galotti. Esperei o orador terminar e, o final, fui diretamente falar com o médico, que me recebeu gentilmente. Aproveitei a chance, para convidá-lo para o lançamento do livro e também para comentar que ele "estava dentro" daquela obra. (Referia-me a uma passagem do livro que narra a história da velhinha Cecília que não regulava bem da cabeça e perambulava pelas ruas da cidade na década de 30. Ela sonhava se casar com o moço mais bonito da cidade, que era justamente o dr. Galotti!). Ele sorriu e disse: "Pode contar comigo".
Foi gratificante para mim, com todo o meu nervosismo emocional, distinguir entre tantos rostos amados a presença e a figura altiva do Dr. Galotti.
E assim começou uma amizade, da qual muito me orgulhava. Ele, como eu, também residia em São Paulo. A partir daí, sempre que eu estava para vir para São José, lhe telefonava para ver se tinha algum recado.
Nma ocasião dessas, pelo tom de sua voz no telefone, senti uma certa preocupação no ar. Estávamos muito próximos das festividades euclidianas e, ainda mais, seria a comemoração dos 90 anos de "Os Sertões"). Quando ele começou a falar sobre os fatos e relatos, ouvi tantas recomendações que achei melhor anotar tudo para não esquecer nenhum precioso detalhe de seus apontamentos.
Ele sugeria aos programadores das comemorações (detalhe muito importante em suas recomendações, nunca pedir ou exigir e sim "sugerir") que todas as edições de "Os Sertões", da 1ª a 31ª, fossem expostas ao público inclusive as edições estrangeiras. Lembrava também aos estudantes para a realização de um rápido trabalho sobre as edições expostas. Apontava a importância das vitrines do comércio na exposição de trabalhos sobre o conteúdo das edições. Pediu para não esquecer de colocar legendas em baixo de cada livro que, exposto, poderia ser manuseado pelos estudantes, seriam mais ou menos 5 edições.
Entre outras coisas falava sobre os prêmios por classificação e seleção dos trabalhos. Ainda conservo um velho caderno onde ainda existem as marcas de sua extrema dedicação ao euclidianismo. Minhas letras meio rabiscadas pela pressa de escrever ficaram quase indecifráveis, na ânsia de acompanhar seu rápido raciocínio. Vejo agora um detalhe importante que não percebi antes: ficaram expressas naquelas páginas do meu caderno um momento dos seus muitos pensamentos euclidianos.
Dr. Osvaldo Galotti, sem dúvida, foi uma personalidade marcante e inesquecível para todos nós. Nos tempos em que exercia a profissão de excelente oftalmologista, sempre que podia, auxiliava aos necessitados levando seus conhecimentos médicos da forma mais simples e acessível para os bolsos menos favorecidos. Por exemplo, tinha uma fórmula fácil para aliviar olhos turvos de poluição: água pura misturada com uma pitada de sal. Dizia para tomar muito cuidado com os colírios. Mas eu acho, ou melhor tenho a certeza, que ele utilizava dois ingredientes muito especiais para ajudar os amigos e clientes: atenção e dedicação a cada pessoa que o procurava.
Recordei agora de uma frase: "O único cheque que levarás desse mundo está escrito: caridade e amor."

Muita paz.

 
Extraído do Jornal Democrata
 
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