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Morre Hersílio Ângelo, criador da Maratona Euclidiana
2003-09-24 11:27:57

 

Eduardo Eron

Os responsáveis pela organização da Semana Euclidiana de 2004 já decidiram: a SE do próximo ano será em homenagem a Hersílio Ângelo, que foi o criador da Maratona Euclidiana e um dos responsáveis pelo incremento do movimento euclidiano em São José do Rio Pardo. A informação é de Álvaro Ribeiro de Oliveira Netto, diretor da Casa Euclidiana.
Hersílio faleceu na manhã do último domingo, 14 de setembro, no hospital São Vicente, onde estava internado. Estava com 92 anos e já bastante debilitado em decorrência da isquemia cerebral que sofreu 15 anos atrás, além de alguns problemas ocorridos posteriormente; teve também uma perna amputada recentemente, o que o debilitou ainda mais. Sua morte foi em decorrência da falência múltipla de órgãos e seu enterro, que foi acompanhado por grande número de pessoas e autoridades, aconteceu domingo à tarde.

NASCEU EM
ORLÂNDIA
Natural de Orlândia (SP), Hersílio Ângelo foi casado com Odete Junqueira, que faleceu no dia 12 de junho de 1999 aos 75 anos. O casal teve 3 filhos: Maria Lúcia Ângelo de Andrade, Moisés Junqueira Ângelo e Maristela Junqueira Ângelo Hasenmyer (que mora nos Estados Unidos). São netos: Rodrigo, Carolina, Marcos, Mauro, Lucas e Maria. Hersílio participou da revolução constitucionalista de 1932, quando foi acometido de febre amarela, e sempre mencionava tal fato aos netos, que muito o estimavam.
Cidadão rio-pardense desde 9 de agosto de 1986, quando a Câmara lhe outorgou tal título, era formado em Letras pela USP de São Paulo e pouco depois de iniciar a carreira de professor mudou-se para São José do Rio Pardo, onde se fixou. Lecionou em São José no Instituto de Educação e na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, onde também foi diretor. Deu aulas também na PUC de Campinas. Aposentou-se em 1964 e foi colaborador da Gazeta do Rio Pardo por vários anos.

ESTUDO E FAMÍLIA
Falando sobre o pai ao jornal, a filha Maria Lúcia o descreveu como um homem muito dedicado ao estudo e à família. “Ele foi um exemplo de vida pra nós, pois demonstrou muita coragem mesmo diante da enfermidade. Nunca lamentava ou se queixava dos problemas físicos que estava passando. Lia muito e assistia a vários noticiários da TV, diariamente. Antes da doença ele escrevia muito também. Quando teve a isquemia, seu lado direito ficou paralisado e ele não pôde mais escrever. Como recebia muitas cartas de euclidianos e respondia a todas elas, minha mãe, então, que sempre foi seu braço direito pra tudo e também era professora, passou a escrever as cartas que ele lhe ditava”, lembrou a filha.
Em 1988, durante o desfile da Semana Euclidiana, Hersílio foi lembrado como criador da maratona e arauto da cultura rio-pardense. Em 1996, no Instituto de Educação, ele e vários euclidianos foram homenageados pela direção da escola pelos 60 anos de Euclides da Cunha. Em 9 de agosto de 2001 Hersílio recebeu o Diploma de Mérito Euclidiano na Câmara Municipal. Ele foi considerado, enfim, um dos grande nomes da cultura e da história contemporânea de São José do Rio Pardo.




A filha Maria Lúcia: pai demonstrou muita coragem, mesmo diante da enfermidade


Em agosto de 2001, Hersílio recebeu o Diploma de Mérito Euclidiano


Ao mestre Hersílio, com carinho

Carmem Cecília Trovatto Maschietto (*)

Tenho do Professor Hersílio Ângelo gratas lembranças como aluna da escola Euclides da Cunha, especialmente no segundo grau. Era rígido mas sabia incentivar quando reconhecia as potencialidades de um jovem aprendiz. Não tive o privilégio de tê-lo como professor durante muito tempo, infelizmente. Talvez isso explique minhas deficiências de redação. Mesmo assim, aprendi muito com ele e até mereci certa vez um elogio, que me fez muito bem. Melhorou a auto-estima de uma adolescente insegura.
Muito tempo depois, quando era diretor de nossa Faculdade de Filosofia, da qual também foi fundador, recebi dele lições de vida, de ética, de respeito e de solidariedade para com os colegas de profissão, numa época marcada pelos abusos do autoritarismo militar. Professor José Ênio Casalechi tem desse período histórias sobre atitudes tomadas pelo Professor Hersílio, que o dignificam como emérito educador.
Sua maneira mansa, calma e pausada de falar, o nunca fazer afirmações precipitadas, nem emitir juízos de valor ou críticas infundadas, são para mim suas marcantes características, além do profundo conhecimento do idioma e a paixão que nutria por Machado de Assis.
Quando estive na direção da Casa Euclidiana, na década de 80, seu apoio, confiança e incentivo nunca me faltaram. Sua presença sempre amiga foi fundamental em todas as iniciativas e decisões que tomei acertadamente. Devo a ele, em grande parte, a tranqüilidade que consegui para levar adiante, com êxito, as tarefas que aquela função exigia.
Foi na “lida” dos ciclos de estudos euclidianos que com ele aprendi a arte do debate, a técnica de argumentar, a expor idéias com clareza, a pensar bem antes de falar. Muito recentemente, quando já estava com a saúde debilitada, fui entrevistá-lo para fundamentar minha dissertação de mestrado. Com a ajuda da filha Maria Lucia, gentilmente recebeu-me e suas lembranças foram para mim de grande valia. Apesar das dificuldades físicas, encontrou forças e disposição para dialogar comigo, até mesmo para incentivar-me. Chamando-me pelo nome, disse que meu estudo era “muito interessante e inovador, algo que ninguém havia pensado antes”, após ouvir atentamente o que eu pretendia fazer. Naquela ocasião, falou pouco e ouviu muito. A cada longo silêncio, proferia uma frase curta, com palavras corretas que esclareciam completamente o que eu desejava saber. O corpo estava enfraquecido, a mente, porém, estava alerta, ainda comprometida com a análise correta, com o raciocínio fino e cuidadoso de um notável intelectual e sensível humanista.
(*) Carmen Cecília Trovatto Maschietto é diretora da Unip



Hersílio, um conselheiro amigo

Rodolpho José Del Guerra (*)

Nos anos 70, eu conversava muito com o mestre Hersílio Ângelo, meu professor de Português até o 1º Normal, sobre minha insegurança ao escrever as crônicas para “Gazeta do Rio Pardo”, talvez por não ter podido cursar o colegial Clássico, que me daria uma formação literária. Eu nada publicava sem a revisão do paciente amigo Márcio José Lauria. Aprendia sempre. No Natal de 1976, meu professor e colega Hersílio enviou-me um cartão com longo texto encorajador, do qual transcrevo alguns parágrafos.
“Rodolpho - Você põe muito sentimento, muita alma, muito amor em tudo o que escreve. Leio-o sempre com interesse e com prazer. Nem sempre as suas crônicas são românticas. Nas suas entrelinhas já vi amargura, decepção, realismo. E tudo isso é a vida-colorida. Continue a procurar o seu caminho. A título de sugestão – e não como conselho - meditem-se essas palavras de Raquel de Queiroz: ‘Escrever todos escrevemos, o difícil porém é ser escritor. Pois uma coisa é dar um recado com certa fidelidade e outra muito diversa é fazer desse recado uma obra de arte. Porque não nos enganemos: a única finalidade real do trabalho literário, como da pintura ou da música, é produzir uma obra de arte. Todas as outras considerações e conseqüências são secundárias.’ ‘(...) Vá me perdoando esse ar de mestre-escola. Qualquer que seja a matéria, o conteúdo não é tudo. As idéias têm de ser expressas por palavras. Daí este conceito de Afrânio Coutinho: ‘Literatura é palavra artisticamente manipulada para despertar emoção. (...)’ Você não precisa desses conselhos. Na crônica basta a sua intuição (...). Saudação sincera de H. Ângelo. Dez. 76”.
Com respeito, admiração e carinho, homenageio o inesquecível Mestre Hersílio Ângelo.
(*) Rodolpho José Del Guerra é historiador

Orientador, amigo e companheiro


Márcio José Lauria (*)

Considero a perda do Prof. Hersílio Ângelo sob dois aspectos. O pessoal: tive nele desde o ginásio o mestre de Português, que se tornou meu orientador, meu amigo e companheiro de tantas lutas no ‘Euclides da Cunha’ e na Faculdade de Filosofia. Foi ele quem mais confiou em minhas possibilidades e me convidou para assumir suas aulas excedentes, tinha eu apenas dezenove anos e um simples diploma de normalista. Decisivo seu apoio na prestação do concurso para me efetivar no magistério estadual. A passagem dos anos apenas solidificou e pôs a muitas provas nossa boa amizade. O comunitário: Hersílio Ângelo impôs ao ensino de Português nesta cidade o seu padrão de probidade, de amor à pesquisa, de fidelidade aos textos. A feliz conjunção das presenças amigas e complementares de Hersílio Ângelo e Oswaldo Galotti determinou a própria feição diferenciada de São José do Rio Pardo. Um criou a Semana Euclidiana e outro a Maratona Intelectual. Sem esses dois eventos que se repetem há tantas décadas, a cidade não teria podido construir sua particular maneira de apreciar os valores culturais, éticos e sociais que a distinguem sobremaneira. Tanto assim que a comunidade sempre reconheceu a contribuição excepcional de ambos, conferindo-lhes a cidadania honorária e o diploma  do Mérito Euclidiano, este no primeiro ano de sua atribuição (2001).
(*) Márcio José Lauria é professor


Hersílio foi um exemplo de vida

Álvaro Ribeiro de Oliveira Netto (*)

O professor Hersílio Ângelo chegou a São José do Rio Pardo para lecionar português no então Ginásio Estadual Euclides da Cunha. Várias gerações experimentaram os rigores de um professor culto e intransigente, humano e sério, bem-humorado. Era um símbolo do saber. Todos conheciam suas exigências e podiam imaginar a amplitude de seu conhecimento. Sua sabedoria o tornava indispensável a tudo a que estivesse ligado à cultura. Em 1938, participou da organização da primeira Semana Euclidiana e foi o criador, no ano seguinte, da Maratona Euclidiana. Na organização da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras foi um dos pilares mais importantes: bastava seu nome para indicar a seriedade da escola. Chegou a diretor, em momentos difíceis da Faculdade. Sua posição, sempre firme, transferiu firmeza à instituição. Amigo dos amigos, mantinha relacionamento muito próximo com os maiores intelectuais brasileiros, os quais, muitas vezes, socorria em suas dúvidas. Profundo conhecedor da literatura brasileira, tinha especial carinho por Machado de Assis. Conhecia os meandros e detalhes da gramática que dominava em todas as suas áreas, como poucos. A presença do professor Hersílio Ângelo, em São José do Rio Pardo, por várias décadas, deu à cultura rio-pardense sua maior característica: a seriedade acima de tudo. Foi um exemplo de vida como intelectual, como professor, como amigo, como chefe de família. Por tudo isso, a Semana Euclidiana 2004 será em sua homenagem.
(*) Álvaro Ribeiro de Oliveira Netto é diretor da Casa Euclidiana

 
Extraído do Jornal Gazeta
 
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