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Euclidianismo perde Hersílio Ângelo, criador da Maratona Euclidiana
2003-09-25 12:45:58

 

Euclidianismo perde Hersílio Ângelo, criador da Maratona Euclidiana

 

Pouco mais de um mês depois de encerrada a 91ª Semana Euclidiana, o movimento euclidiano volta a ficar de luto, desta vez com a notícia do falecimento do professor Hersílio Ângelo, aos 92 anos de idade, no último domingo, 14.

Este é o terceiro ano consecutivo que os euclidianos lamentam o desaparecimento de algum dos seus. Em 2001, em plena Semana Euclidiana, Oswaldo Galotti, criador do maior e mais importante evento cultural da cidade, faleceu. No ano seguinte, foi a vez do ensaísta Roberto Ventura, vítima de acidente automobilístico quando retornava de São José, após participar de mais uma SE.

Hersílio Ângelo era um dos últimos euclidianos das mais antigas gerações. Nascido em Orlândia, em 30 de novembro de 1910, para São José do Rio Pardo em 1938. Como professor, ingressou no magistério oficial por concurso público em 1943, escolhendo cadeira na EE “Euclides da Cunha”, onde se aposentou em 1964. Foi diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Pardo.

A Câmara Municipal homenageou, em sua última sessão, na terça-feira, o professor Hersílio Ângelo com um minuto de silêncio. O Legislativo rio-pardense antes concedera três honrarias ao professor – o título de Cidadão Rio-Pardense (1966), o Diploma de Mérito Comunitário (1989) e o Diploma de Mérito Euclidiano, que, em 2001, Hersílio Ângelo tornou-se o primeiro a receber, ao lado de seu fiel companheiro de décadas de euclidianismo, Oswaldo Galotti. O professor chegou a ser vereador na legislatura 1960/1964, tendo assumido como suplente em duas oportunidades, entre 1960 e 1961.

Hersílio Ângelo atuou no movimento euclidiano por volta de 40 anos. Seu nome é reverenciado pelos euclidianos porque, em 1939, criou o maior patrimônio da Semana Euclidiana – as Maratonas Intelectuais Euclidianas, que existem até hoje e se constituem na espinha dorsal da Semana Euclidiana. Somente neste ano, participaram do evento quase 600 maratonistas de várias partes do Estado de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Goiás.

 

Última entrevista

 

Hersílio Ângelo concedeu sua última entrevista a um órgão de imprensa ao DEMOCRATA, em agosto de 2001. Na entrevista exclusiva, publicada na edição especial comemorativa à Semana Euclidiana daquele ano, o professor relembrou o início das Maratonas e falou dos motivos pelos quais resolveu defender o ensino de Euclides da Cunha aos jovens. Nesse depoimento, já com a saúde debilitada, Hersílio Ângelo também falou sobre sua amizade com Oswaldo Galotti, que com ele divide a honra de ser co-idealizador da Semana Euclidiana no formato que hoje a conhecemos. Dias depois, Hersílio Ângelo receberia o Diploma de Mérito Euclidiano, outorgado pela Câmara Municipal – naquela oportunidade, recebeu homenagens públicas por todo o seu trabalho pelo euclidianismo. Em homenagem ao professor, DEMOCRATA publica trechos da entrevista, que segue ao lado.

 

 

O anjo criador da Semana Euclidiana

 

 

Quem é e como vive o professor Hersílio Ângelo, criador de uma das maiores tradições da Semana Euclidiana

 

 

“A Câmara Municipal de São José do Rio Pardo promove na noite de hoje, 9, uma das mais merecidas homenagens que o Legislativo local poderia oferecer a alguma personalidade desta cidade. Os euclidianos Oswaldo Galotti e Hersílio Ângelo foram escolhidos para serem os primeiros a receberem o Diploma de Mérito Euclidiano, que anualmente homenageará duas personalidades do movimento euclidiano que se destaquem de alguma forma.

Galotti, com 91 anos, encontra-se doente e será representado pela família. Já Hersílio Ângelo pretende comparecer – e então poderá rever antigos maratonistas e alguns dos atuais.

Ângelo e Galotti formaram uma das principais parcerias do movimento euclidiano. O segundo criou a Semana Euclidiana como a conhecemos – um conjunto de atividades culturais, sociais e esportivas que envolvem toda a cidade. Já a Hersílio Ângelo coube criar as Maratonas Intelectuais Euclidianas, com estudos sobre a vida e obra de Euclides da Cunha (1866-1909), o autor que projeta São José do Rio Pardo para todo o país.”

 

(...)

 

Hersílio Ângelo é professor primário formado pela Escola Normal “Dr. Francisco Thomas de Carvalho”, de Casa Branca, e, 1929. Formou-se professor de Português na segunda turma de Letras da Universidade de São Paulo.

Casou-se com a professora Odette Junqueira Ângelo e tem os filhos Maria Lúcia Ângelo de Andrade, casada com Antônio José Nogueira de Andrade; Moisés Junqueira de Andrade, casado com Mauricy Simonetti Junqueira ângelo, e Maristela Junqueira Ângelo Hasenmyer, casada com Carl Hasenmyer, e tem os netos Rodrigo, Carolina, Marcos, Mauro, Maria e Lucas.

No euclidianismo propriamente dito, Hersílio Ângelo atuou por cerca de 40 anos, incentivado por Galotti.

Em 1939, instituiu a Maratona Intelectual Euclidiana, que acabou tornando-se uma das principais tradições do movimento. Por causa da Maratona, São José do Rio Pardo já recebeu milhares de estudantes de todo o país, interessados em conhecer vida e obra de Euclides da Cunha.

Foi professor do Ciclo de Estudos Euclidianos e presidiu o Grêmio Euclides da Cunha.

Produziu um respeitável trabalho na coordenação e organização, com o professor Alfredo Bosi (titular de Literatura Brasileira da USP), de uma edição didática de ‘Os Sertões’, lançada pela Cultrix/MEC, em 1973. O livro foi relançado mais de uma vez e é considerado indispensável para estudos e compreensão do maior livro de Euclides.”

 

Depoimento

 

“Quando cheguei aqui, encontrei a Semana Euclidiana já funcionando, e então sugeri que se criasse uma espécie de Maratona”, recorda-se o professor – “aqui se fazia o estudo de Euclides da Cunha. É claro que, sendo a terra onde Euclides da Cunha veio passar três anos para seu trabalho, me pareceu muito natural que houvesse um concurso para aquilatar os estudos dos jovens.”

Hersílio Ângelo também se recorda de um tempo em que os maratonistas eram recebidos nas casas das famílias rio-pardenses. “Quem não tinha lugar, era recebido pelas próprias famílias. Antigamente, a população se envolvia  mais com os estudos euclidianos, com o movimento euclidiano”, lamenta o professor, não sem se recordar de euclidianos históricos – “José Honório de Sylos nos auxiliava a ver a obra de Euclides, a compreendê-la em toda a sua complexidade.”

Hoje, Hersílio Ângelo mostra-se bastante fragilizado aos 90 anos – mas não o suficiente para não se comover, repetidas vezes, ao se recordar dos tempos de ouro da Semana Euclidiana. Por diversas vezes, chora ao relembrar suas parcerias com Galotti e seu trabalho ao lado de outros euclidianos que ajudaram a criar um movimento que caminha para seu primeiro centenário. “Galotti, desde o começo, era a alma da Semana Euclidiana”, diz Hersílio Ângelo, a outra alma da SE. “Fazemos o possível para estudar Euclides da Cunha”, diz, comovido, o Pai da Maratona que, vindo da USP, sentiu na cidade a necessidade de estudar com mais profundidade o que o escritor fluminense tinha a dizer ao Brasil.

“Galotti me orientou e me ajudou, e eu sentia muito prazer em trabalhar com ele, em ter feito essa parceria para o euclidianismo”, comenta.

“Para ser euclidiano, é preciso ter amor ao trabalho, ao estudo. Sem isso, não se faz nada”, ensina. 

 
Extraído do jornal Democrata
 
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