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Euclides e o berço de Os Sertões
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VIDAS MARCADAS: EUCLIDES, ANA E DILERMANDO
2003-10-30 11:34:56

 

VIDAS MARCADAS: EUCLIDES, ANA E DILERMANDO

 

 

Davis Ribeiro de Sena

 

 

UM ROMANCE IRRESISTÍVEL

 

 

 

O garoto Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha fora aluno aplicado do Colégio Aquino (1883 / 4), na cidade do Rio de Janeiro, sendo discípulo e admirador do então major professor Benjamin Constant Botelho de Magalhães, ocasião em que foi contagiado pelas modernas idéias do positivismo pacifista, que moldou em sua mente um republicanismo exacerbado. O talentoso estudante freqüentou as aulas do curso de engenharia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro (1885), entretanto sua família não suportou os encargos financeiros dessa opção profissional do adolescente “bom em matemática” e no ano seguinte matriculou-o na Real Escola Militar (Praia Vermelha), gratuita, que lhe daria também o diploma de engenheiro. Reencontrou então Benjamin Constant, aos 19 anos de idade, integrando-se no movimento republicano extremado, ficando célebre o ato de insubordinação explícita praticado por ele em 04 Nov 888, quando jogou seu sabre-baioneta aos pés do ministro da Guerra, o senador civil Tomás José Coelho e Almeida, após tentar quebrá-lo com ambas as mãos, no joelho direito, no momento em que aquela autoridade passava a tropa em revista. Foi recolhido à fortaleza de São João e transferido para o Hospital Militar do Castelo, cumprindo prescrição médica que atestava “esgotamento nervoso por excesso de estudo”, aguardando julgamento por um Conselho de Guerra – se confirmasse a inabalável fé republicana – que não chegou a se reunir. Sua matrícula foi cancelada em 11 Dez do mesmo ano, mas ficou bem claro que o pequeno mestiço era resoluto na defesa de suas convicções. Imediatamente após a proclamação da República, o rebelde Euclides foi reintegrado ao corpo de alunos daquela escola de formação militar, por injunção de Cândido Mariano da Silva Rondon, do mestre querido e de colegas, sendo a seguir transferido para a Escola Superior de Guerra, onde concluiu o curso de Estado-Maior (1890 / 1), estagiando como engenheiro na Estrada de Ferro Central do Brasil, diplomado bacharel em Matemática, Ciências Físicas e Naturais (16 Jan 892). 

Poeta bissexto, de vez em quando publicava um soneto romântico. Promovido a 2ª tenente (14 Abr 890), em 10 de setembro ainda desse ano casou-se com Ana Emília (Saninha), menina-moça (15 anos de idade – 18 Jun 975), filha do coronel de Cavalaria Frederico Sólon Sampaio Ribeiro, que conhecera durante uma tertúlia política realizada na casa do futuro sogro – um dos mais festejados republicanos, de participação decisiva nas ações do dia 15 de novembro de 1889 – deixando-lhe um bilhete de amor. “Entrei aqui com a imagem da República e parto com sua imagem”, no arroubo de seus 24 anos.

A atitude de Euclides abandonando o uniforme certamente desgostara a sonhadora filha do coronel famoso, acostumada a ver a casa de seu pai cheia de oficiais, servir-lhes cafezinho, água e refrescos e receber em troca elogios à sua beleza morena. Afinal, a gauchinha de Jaguarão namorara Euclides à noite do histórico dia 15 e embora não fosse tão belo quanto desejasse, assim mesmo parecia guapo e decidido, gestos tímidos, com auréola de herói. Agora, em trajes civis, deselegante, era apenas mais um mestiço brasileiro, em que pese a cultura incomum, elogiada por todos.

Inicialmente considerado um enlace normal de um “jovial mancebo” com uma “donzela casadoira” – tão repentino como  costumam ser os casamentos celebrados no início de carreira da jovem oficialidade – mais tarde veio à tona um relacionamento conturbado e traumático de 19 anos, descambando para o desrespeito às pessoas humanas, à vida, transparecendo o viés da intolerância e da insensatez.

O filho acaboclado do casal Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha e Eudóxia Moreira da Cunha, nascido em Cantagalo (RJ, 20 Jan 866) e órfão da mãe aos 03 anos de idade, foi promovido a 1ª tenente em 09 Jan 892, para o Corpo de Estado-Maior de 1ª Classe. Na voragem dos acontecimentos, acusado de apoiar a Revolta na Armada de 1893 / 5, o general Solon Ribeiro foi aprisionado na fortaleza da Conceição (RJ, 26 Set 893), enquanto seu genro florianista construía trincheiras, espaldões e pontos  fortificados no cais do  porto do Rio de Janeiro e alhures, em  defesa do Governo Federal. Saninha refugia-se em Descalvado (SP), com o filho de colo Solon, temendo  os bombardeios diários das belonaves rebeladas ancoradas na baía de Guanabara. Era a primeira separação do casal. No regresso, acompanhou o marido ao vilarejo mineiro de Campanha, quando nasceria o 3ª filho, também de nome Euclides (18 Jul 894) e onde o engenheiro serviria até o ano seguinte, por castigo disciplinar, ao insurgir-se contra o marechal Floriano Peixoto, em virulento artigo que o jornal “O Estado de São Paulo” recusara-se a publicar. Surgiram então, os desentendimentos ostensivos, entre eles, enquanto que o escritor, pressionado pela mulher – que tomou o partido do pai – e pela família Ribeiro, rompia definitivamente com o florianismo.

Não-vocacionado para a carreira castrense – embora nunca tenha hostilizado o Exército em seus escritos e atitudes, nos quais, ao contrário, procurava sempre preservar a instituição – o débil tenente foi considerado incapaz para o serviço ativo, após ser submetido a inspeção de saúde (28 Mai 895), sendo agregado ao Corpo de Estado Maior de 2ª Classe, com permissão para permanecer em São Paulo. A seguir, foi reformado por decreto de 13 Jul 896, segundo parecer de nova junta médica, tendo sido excluído do estado efetivo daquele Corpo e fazendo jús à terça parte do soldo. Exercia a profissão de sua preferência (engenharia civil), nas funções de ajudante de 1ª Casse na Superintendência de Obras Públicas do Estado de São Paulo, quando foi contratado pelo jornalista Júlio de Mesquita, diretor de “O Estado de São Paulo” e seguiu como correspondente para Canudos, em 04 Ago 897, adido ao Estado-Maior do marechal-graduado Carlos Machado de Benttencourt, ministro da Guerra, que fora inspecionar no semi-árido baiano as forças expedicionárias que combatiam – segundo a revista francesa “Hachette”, de Paris – “um comunista que pregava o restabelecimento da monarquia”.

Baixa estatura (1,65 m), perfil esquálido, gestos inquietos, parecia mal acomodado nas roupas que trajava. Parava pouco tempo nas localidades em que morou, em razão dos encargos profissionais (engenheiro auxiliar da Secretaria de Obras Públicas de São Paulo), inspecionando os serviços em andamento, particularmente no vale do rio Paraíba do Sul. Concluídos os trabalhos de restauração da célebre ponte de ferro de São José do Rio Pardo, residiu no distrito  de Guaratinguetá, então pertencente a Lorena (Jan 902 / Jan 904), construindo obras menores . Não há registros do comportamento pessoal de Ana Emília a não ser que freqüentava com assiduidade a capela do colégio onde foram matriculados os filhos Sólon e Euclides (Quidinho), no melhor educandário, acompanhada da irmã Alquimena, ex-freira. O casal mudou-se finalmente para a capital federal, depois de passar celeremente por Santos (Guarujá). Euclides estudava, escrevia, fazia cálculos matemáticos e sonhava.

Não era marido ciumento, daqueles controladores das vestimentas  e dos passeios da esposa, fato então corriqueiro, dando-lhe liberdade para usufruir das distrações proporcionadas pela cidade grande,  agora ao lado dos parentes Ribeiro, como sempre desejou, não havendo indicações de que fosse pessoa leviana, namoradeira, além dos comentários a ela dirigidos por sua atitude desafiadora em São José do Rio Pardo – que odiava – momento em que se debruçava à janela, “colo à mostra”. Por sua vez, carinhoso e dedicado aos seus familiares, jamais Euclides desviara o olhar para outra mulher, em toda sua vida, ou sequer pronunciara palavras relacionadas ao sexo oposto. Sua fidelidade aos deveres matrimoniais era completa, inclusive no comparecimento à alcova, como atestam os vários filhos gerados. A primogênita Eudóxia morrera com poucos dias de vida, no início de 1891.

Trabalhador incansável, afastou-se do lar por largo período – 13 Ago 904 / 1º Jan 906 – viajando para a Amazônia no vapor “Alagoas”, nomeado para integrar a Comissão Diplomática Brasileiro - Peruana e retornando para ser empossado na Academia Brasileira de Letras (18 Dez 906), na cadeira nº 07, aberta pela morte de Valentim Magalhães. Assim embarcara, assegurando a manutenção do lar por intermédio do fornecedor Batista da Fonseca, estabelecido à rua Uruguaiana, onde a esposa adquiria víveres e roupas pela caderneta de crédito, com direito a sacar dinheiro vivo. Transferira-lhe a responsabilidade da economia caseira, incluindo a orientação escolar dos filhos. Era um homem avançado para seu tempo. A vida dá muitas voltas e o destino montou a armadilha traiçoeira, cruzando os passos despreocupados de Saninha e Didi, como ela tratava carinhosamente o amante, com quem convivia idilicamente, no ano fatídico de 1905, ainda às escondidas, como veremos. No retorno ao lar, nascia-lhe o 5º filho Mauro (11 Jun 906, louro, cabelos crespos, olhos azuis), que viveu apenas 07 dias. Havia um detalhe importante a esclarecer: para ser seu filho biológico, o período de gestação da mãe teria que ter sido de 18 meses, a contar da viagem dele para o Acre, ou de apenas 06 meses, tomando-se a data do regresso.

Chegara ao Rio de janeiro inesperadamente – com certeza informado por amigos e/ou inimigos – encontrando a esposa grávida de 03 meses, que usou de evasivas para iludir o marido, assegurando que “o enganara apenas em espírito”. O pai do nascituro, cadete Dilermando Cândido de Assis, retira-se da casa, onde residira em sua ausência, passando a fazer visitas cerimoniosas aos domingos. É evidente que o marido enganado desconfiava da situação insólita e inaceitável, ao passo que esconder a gravidez tornou-se impossível à mulher. Todo esse cenário hipócrita ele tolerou: o escândalo estava nas ruas e as pessoas comentavam as brigas constantes e deploráveis do casal, incluindo ofensas e desaforos trocados quase diariamente por mais de 03 anos de convivência insuportável (Jan 1906 / Ago 909).

Ao se aproximar do Cais “Pharoux”, à bordo do vapor inglês “Tennyson”, Euclides telegrafou à esposa adiantando a hora do desembarque. Demonstrando desmedida hipocrisia, Ana Emília mandou o ousado amante trazer à casa o marido enganado. Mais tarde, Dilermando assegurou que foi nesse episódio que o conheceu pessoalmente e não dormiu na residência violada, retirando seus pertences antes da entrada do rival.

Isso na versão dele. Existe outra, pela qual eles conviveram  amistosamente durante certo período, talvez a mais plausível, pois – seguindo o raciocínio de tentar simular a união carnal dos enamorados – sua saída imediata da casa poderia fornecer argumento para perguntas inconvenientes do recém-chegado e ali estavam as irmãs Angélica e Lucinda, tias do moço, cujas presenças acauteladoras desanuviaram o ambiente. Na ocasião, Dilermando e Euclides preenchiam o tempo disponível conversando animadamente sobre suas experiências: o primeiro discorrendo vibrante sobre o início algo ilusório da vida na caserna, para deleite do interlocutor, que comentava discretamente os últimos tempos passados na Amazônia e seus dias de camaradagem na Real Escola Militar, de doce lembrança.

Este contato amigável não poderia se prolongar. Os dois logo deixaram de se cumprimentar, rompendo as relações, contudo, em 1908, Euclides ficou sabendo que o rapaz já odiado, mais uma vez em férias, acompanhara sua mulher na internação do filho mais velho Solon no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ). Ademais, vira dona Ana a seu lado, em plena rua Humaitá, em frente ao lar, desfilando de mãos entrelaçadas, o cúmulo da desfaçatez. A todos parecia que ele concordava com a revoltante cena, que esmagou sua auto-estima, agravando a longa angústia. Teria que descobrir um jeito de afugentar o amante impetuoso, porém a separação – que hoje seria natural – era inadmissível aos seus padrões morais e éticos. Comprovadamente contrário a atitudes violentas, sua intenção era esquecer o passado e recomeçar o casamento praticamente desfeito, mudando-se para o confortável sobrado situado à avenida Nossa Senhora de Copacabana nº 234, de fundos para o mar. Atente o leitor que em momento algum encostou a mão na mulher infiel, que lhe negava o acesso marital, substituindo-o por um audacioso estranho, embora as discussões fossem exaltadas.

A vida continuou e sua esposa deu á luz outro menino – Luiz (16 Nov 907), de aparência idêntica ao finado irmãozinho Mauro – completamente diferente dos filhos indiáticos do marido, olhos escuros, cabelos negros, lisos e escorridos: “uma espiga de milho no meio do cafezal”. Dilermando passara as férias escolares no Rio de Janeiro, no  primeiro trimestre daquele ano. Ainda tímido cadete, assentara praça na republicana Escola Militar do Brasil (Praia Vermelha) em 1903, pelas mãos do seu tio e padrinho major do Exército José Pacheco de Assis – veterano de Canudos, citado em “Os Sertões” – e participou da chamada “Revolta da Vacina Obrigatória de 14 Nov 904”, ocasião em que todos os cadetes foram excluídos, aquela escola extinta e reaberta em Porto Alegre (1906), após a anistia concedida no ano anterior. Despediu-se Dilermando por intermédio de um cartão social endereçado à família Cunha, viajando para prosseguir seu aprendizado de 03 anos para o oficialato.

Desempregado, aceitara com entusiasmo o convite para integrar a missão diplomática enviada à Amazônia, como vimos, para sustentar a família e manter o elevado padrão de vida a que todos estavam acostumados. Sua esposa Ana Emília Ribeiro da Cunha permaneceu na então capital federal, residindo no bairro Cosme Velho, mas viajou a seguir para a cidade de São Paulo, a fim de internar os filhos Solon e Euclides num prestigiado colégio inglês, hospedando-se junto às amigas Angélica e Lucinda, que moravam com o irmão Joaquim Nicolau Rato, tutor dos menores Assis. Retornou ao Rio de Janeiro com o caçula Manoel Afonso (Afonsinho), para morar na pensão familiar de madame Monat, rua Senador Vergueiro nº 14, Botafogo. Logo mudou-se para uma casa que alugara na rua Humaitá nº 67, levando-as como acompanhantes inseparáveis, porém distante dos filhos pré-adolescentes, matriculados na capital bandeirante.

Em sua temporada paulistana – que durara quase todo ano de 1905 – conheceu o amor de sua vida Dilermando Cândido de Assis. Nascido em Porto Alegre em 18 Jan 888, o adolescente de vez em quando ia passear naquela cidade, em visita ao tio Quincas Rato e às tias, filho que era de Carolina, a terceira da irmãs, falecida no ano anterior e também amiga de Ana Emília, em vida. Seu pai, tenente de Cavalaria João Cândido de Assis morrera em Santa Vitória do Palmar (RS), vitimado por uma queda de cavalo, aos 33 anos, consternando todo o Exército (1902). Deixara 03 filhos: Dilermando, Dinorah e Dinobert (morto ainda criança), mas o acidente fatal facilitaria a carreira castrense dos filhos, beneficiados pela legislação vigente, que protegia os órfãos de militares. Provavelmente, o explorador de terras longínquas não sabia por onde andava a esposa, que tinha “grande ascendência sobre ele”, na opinião do pai Manoel Rodrigues da Cunha. Saninha era conhecedora da existência dos garotos caídos na orfandade, o que lhe causava sincera compaixão. Indultado e aguardando o reinicio do curso de formação de oficiais em Porto Alegre no próximo ano letivo (1906), estava visitando a família o ex-cadete Dilermando, exatamente naquele momento, vindo da cidade do Rio de janeiro. A partir daí, os mais curiosos observaram com espanto as primeiras trocas de olhares sedutores e os afagos furtivos entre a hóspede amiga e o rapagão visitante, desafiando frontalmente a estrutura familiar tradicional.

Foi amor à primeira vista. Logo que pôde, o adolescente apaixonado e ainda ingênuo visitou a amada na pensão de madame Monat, levando debaixo do braço, como pretexto, um álbum musical para presenteá-la. Já ao lado das amigas alcoviteiras, cujas presenças ajudavam a disfarçar as constantes visitas do sobrinho, Ana Emília mudara-se fisicamente para a casa da rua Humaitá, onde recebia os carinhos de Dilermano, sem se preocupar com as “fofocas”  da vizinhança e admoestações da família. Temerário, o moço deixara a companhia do irmão de seu pai e amigo – com quem dividia um quarto na fortaleza de São João (Urca) – e foi viver ostensivamente com Saninha, no noovo endereço, aproveitando a ausência do marido: ele com 17 anos de idade; ela, 30, casada, mãe de 03 filhos vivos.

Enquanto isso, em Manaus, Euclides da Cunha, recebera notícias intranqüilizadoras sobre os sucessos românticos envolvendo Ana Emília e viajou preocupado para o Rio de Janeiro, onde chegou de surpresa em 1º de janeiro de 1906. Com o passar do tempo, veio a certeza de que a esposa freqüentava a “república” dos irmãos Assis. Ela dormia algumas vezes fora do lar, dizendo nessas ocasiões que ia pernoitar com a mãe, o que era aceito de boa-fé, pois levava consigo o filho Luís, sendo que, por vezes, realmente assim procedia. Não sabia exatamente a localização do ninho dos amantes, oculto por uma grande “armação” familiar. Rompeu com a sogra Túlia e a parentela Ribeiro, acusando-as de encobrir os “passos falsos” e de acobertar a traição da esposa.

O povão escarnecia do relacionamento indecoroso com chacotas e risos, mas os amigos, a elite social e a classe média conservadoras condenavam o comportamento aparentemente passivo do chefe da casa, impotente para ao menos interromper a humilhação pública, talvez movido pelo amor que sentia pela esposa adúltera. Seja como for, Euclides da Cunha assumiu a paternidade pela 2ª vez, mesmo quando o pai verdadeiro – vindo do Rio Grande do Sul, já aspirante-a-oficial de Cavalaria (Turma de 02 Jan 909) – se apresentou pronto para o serviço em sua primeira unidade (1º Regimento de Artilharia Montada, incluído como instrutor) na capital federal, configurando inusitada movimentação, somente realizável com o consentimento do ministro da Guerra.

 

A GUERRA DOS CUNHA

 

Na quinta-feira 12 de agosto de 1909 aconteceu o espetáculo inusitado na cidade conservadora do Rio de Janeiro. Senão vejamos: Largo da Carioca, epicentro “chic” da capital da República, onde transitavam “pessoas de bem”, autoridades, artistas, famílias gradas, a “fina flor da sociedade”, todos atentos aos acontecimentos mundanos e às conversas descompromissadas da aristocracia que pavoneava e trocava opiniões sobre a vida alheia. Ana Emília, de braços dados com o filho Solon, desfilava ao lado de garboso oficial do Exército, uniformizado, Dilermando de Assis, perto da meia-noite, provocando os maiores sussurros das “línguas faladeiras”, depois de assistir ao sarau do Teatro Lírico, na rua do Ouvidor, acompanhada por ambos. De repente, surgiu do nada a figura bizarra do conhecido escritor Euclides da Cunha – certamente avisado por terceiros – que infletiu sobre o trio e começou a altercar em autos brados com a esposa e o filho. Dilermando sumira como por encanto. A cena constrangedora, que durava vários minutos, permaneceria na memória dos circunstantes, consternados ao presenciar aquele escandaloso drama conjugal. Já do conhecimento de todos. Para encurtar a história: Ana Emília, retirou-se com o filho Solon para a residência da mãe, de automóvel de aluguel, e o marido desapareceu na noite, certamente recolhendo-se à sua residência em Copacabana, a dignidade em frangalhos. No dia seguinte, 13 Ago, Solon regressou à casa paterna, Euclides foi ministrar a aula de lógica diária, Dilermando compareceu normalmente à formatura no quartel e Saninha, com o filho Luís nos braços, deixou a residência materna e dirigiu-se á “república” da Piedade. Agora definitivamente, pensava, eis que declarado aspirante-a-oficial, seu amado poderia sustenta-la com o soldo, de acordo com o comportamento dependente feminino da época. Deu no que deu.

15 de agosto de 1909, domingo. Manhã de inverno fria e chuvosa. Na véspera, o autor de “Os Sertões” enviara o filho Solon para trazer a mãe de volta para casa – que sorrateiramente levou consigo o revólver calibre 32, Smith & Wesson (S&W), pertencente ao pai – enquanto Dinorah de Assis fazia o trajeto inverso, visando sondar o lar dos Cunha, avenida Nossa Senhora de Copacabana nº 234, onde um homem amargurado, à beira do desespero, preparava-se para jogar sua última cartada. Fumando descontroladamente, obteve da comadre Angélica, que morava com a família, o endereço fatídico.

Muito cedo, dirigiu-se à casa do primo Arnaldo, na rua Mena Barreto, Botafogo – companheiro de aventuras na Amazônia – que lhe cedeu um pequeno revólver S&W, calibre 32, niquelado, cabo de marfim, 07 tiros, carregado, mas sem disparar há muito tempo, para “matar um cão hidrófobo que o inquietava”, no dizer do apressado amigo, que simulava tranqüilidade na conversa e nos gestos, ao tomar o cafezinho oferecido. Saiu rapidamente e pegou o bonde elétrico na direção do Centro, descendo no campo de São Cristóvão, onde residia dª Túlia, para certificar-se da presença da esposa fugitiva. Não a encontrando, tomou o trem do subúrbio. A viagem foi longa e enervante, mas finalmente o condutor anunciou a estação da Piedade. Desembarcou calmamente, subiu a rua Bernardino de Campos e atingiu a Estrada Real, indagando no empório da esquina a localização exata do número 214, que lhe foi apontado. A “república” estava fechada, mas enganchou o sobretudo e o guarda-chuva no gradil do pequeno portão e, com firmeza, bateu palmas.

Dinorah apareceu na janela e atendeu gentilmente, abrindo-lhe o portão: “Por favor, entre”, enquanto caminhavam para a entrada do prédio, que era lateral. “Minha mulher?” “Meu filho?” Tendo entrado na sala e ao receber a resposta negativa sobre a presença de ambos, sacou do revólver e se dirigiu à 1ª porta do corredor, certamente o quarto  principal, que se encontrava fechada. O aspirante naval atracou-se com ele procurando desarmá-lo, mas foi atingido por 02 tiros superficiais, que lhe chamuscaram a túnica e refugiou-se no seu quarto, o 2º do corredor, após receber o 3º tiro, por trás, mais grave, na nuca. Livre do assédio, Euclides ouviu o forte estampido da arma do desafeto que o alvejava pela porta entreaberta de seus aposentos, errando o disparo. Invadiu a peça e travou o duelo à queima-roupa, até consumir a munição, sendo ferido no braço e no corpo. Esvaindo-se em sangue, quis sair para a rua, mancando e perseguido por Dilermando. Desceu os 03 degraus da soleira da porta e já se encontrava no pequeno jardim da frente, quando o adversário, injuriando-o, fez o disparo de pontaria, no pulmão direito:

-         Espera, cachorro!

O tiro letal fora dado pelas costas, de cima para baixo e a curta distância. Euclides da Cunha caiu de bruços, às vistas de alguns curiosos, que já bisbilhotavam nas janelas vizinhas e pela rua enlameada. Morreu de asfixia causada por hemorragia interna. Dilermando acionara o gatilho de um  revólver S&W, de uso exclusivo de oficiais, 06 estojos no tambor, calibre 38.

Considerando o nervosismo natural do momento e sua pouca familiaridade com armas de fogo – era oficial não-combatente da reserva, 43 anos de idade, saúde frágil – Euclides demonstrou excepcional capacidade de luta, como se diz no jargão militar. Dilermando, 21 anos, campeão de tiro na Escola Militar, igualmente valente, não fugiu ao ataque de surpresa, preferindo enfrentar a situação. Poderia ter escapado pelos fundos e abandonado a amante, pulando muros e cercas, atravessando quintais da vizinhança. Não o fez, por achar indigna a fuga naquelas circunstâncias. Pensara em discutir o problema, verdadeiro escândalo nacional, julgando que o marido traído estaria desarmado (Sólon havia trazido o seu revólver particular, nunca utilizado) e seria compreensivo, como fora até então, sujeitando-se a permitir que a mulher “roubada” permanecesse consigo.

Avisada à mesa, no instante em que tomava o café matinal, Ana Emília abraçou a criança e foi se esconder na despensa, depois da cozinha, como consta nos autos do processo. Se ela declarasse estar pronta para voltar, evitaria o confronto sangrento e transferiria a tragédia para outra ocasião ou – quem sabe? – mitigá-la com o tempo, até conseguir uma solução menos caótica. Não queria o desquite judicial – que proibia novo casamento e a separaria dos filhos – e o marido preferia perdoar o adultério explicito e arrostar os comentários desabonadores de “corno manso”, como se dizia pejorativamente. Além do mais, o divórcio não era previsto na lei brasileira e a Igreja Católica, que regia os costumes, condenava o desquite, ao pregar o matrimônio para toda a vida.

Dilermando socorreu Euclides ferido, trazendo-o para dentro de casa, deitando-o na própria cama, tentando pensar os ferimentos, ajudado pelo mano dedicado. Saninha e Solon não apareceram.

Não cometera excesso ao ver o adversário derrubado, ou por outra, “acabar de matar”, como se diz, enfim, massacrar o desafeto inerme. Por outro lado, ele não poderia proceder passivamente, deixando-se matar, sem reação. O duelo foi justo – na medida em que o homem  perde o controle do seu lado perverso – apesar de tudo, incluindo aí a superioridade da arma, a ajuda do irmão, a omissão da mulher em litígio, eis que foi procurado pela vítima inequivocamente com a intenção de liqüidá-lo.  Possuía mais armas de fogo à disposição, curtas e longas. O filho Solon refugiou-se no quarto da empregada, levado pelo instinto de conservação, porém depôs favoravelmente ao pai assassinado. Posteriormente, jurava vingança ostensivamente para quem quisesse ouvir, mas teve pouco tempo para cumprir seu intento, pois foi morto em circunstâncias misteriosas numa tocaia montada contra ele na floresta amazonense, onde exercia o cargo de delegado policial, após  vida atribulada (06 Mai  916).

O delegado Pedro Joaquim Alcântara de Oliveira, encarregado do inquérito policial, instruiu-o simpaticamente à vítima, com citações desfavoráveis ao réu, buscando caracterizar um ato vil e traiçoeiro dos dois irmãos e, curiosamente, ignorando o papel primordial da mulher – objeto de toda a fatal crise – que raramente compareceu às audiências do processo criminal. A seu turno, Dilermando contava com a solidariedade dos companheiros de armas e dos conterrâneos gaúchos, além de grande parte da área cultural brasileira, dividida pelo forte impacto contraditório do teor “carbonário” do “livro vingador”. Decorridos 07 dias da absolvição em última instância, Didi casou com Saninha (12 Mai 911), indo servir no 51ª  Batalhão de Caçadores (São João Del Rei, MG) – embora fosse oficial de Cavalaria – acompanhado da esposa.

04 de julho de 1916 – Didi matou Quidinho, por volta das 13 horas no interior do cartório do 2º Ofício da 1ª Vara de Órfãos, situado à rua dos Inválidos nº 162, onde fora tratar da tutoria do menor Manoel Afonso Ribeiro da Cunha (15 anos de idade), de quem era padrasto, disputando-a com Nestor da Cunha, tutor indicado, primo do falecido escritor. Demorara algum tempo examinando os papeis acrescidos de novos dados – insuflado pela esposa – e tencionava questionar essa decisão judicial e assumir a paternidade do “filho” púbero, que vivia às suas expensas, ao lado da mãe, que se recusava a entregá-lo aos agentes da lei. Ficou a impressão que Euclides da Cunha Filho fora informado de sua presença no cartório manuseando os documentos judiciais e para lá se dirigiu sem perda de tempo, penetrando no recinto já disparando a arma nervosamente.

Dilermando de Assis era 2ª tenente no 1ª Regimento de Cavalaria (Vila Militar) e estava estudando engenharia civil. Tinha sido alvejado nas costas  por 03 vezes pelo aspirante a guarda-marinha, seu enteado que – fardado e armado com um revólver Colt, calibre 32 – o procurara deliberadamente para matar, ao considerar absurda aquela pretensão do assassino de seu pai, ao tempo em que buscava a vingança, passados 07 anos do homicídio. Sentindo-se ferido (pleura, pulmão e diafragma, além do cotovelo direito, atribuído a algum ricochete), Dilermando retirou-se momentaneamente do salão e, da janela, pelo lado de fora, na calçada, detonou ao menos por 03 vezes o revólver Smith & Wesson, calibre 32, que trazia no bolso traseiro da calça do uniforme. O último projétil atingiu mortalmente a cabeça de Euclides Filho, que tentava se proteger dos tiros segurando o escrivão José Luís Fernandes, como escudo, após gastar todos os cartuchos da arma que empunhava. Sua falta de sorte foi incrível, pois tudo leva a crer que Dilermando atirou na direção do agressor – exatamente no instante em que este levara um safanão da pessoa a quem tentava agarrar – um alvo móvel, sem tempo nem condições emocionais para mirar com firmeza, mesmo considerando a curta distância entre ambos (cerca de 02 metros). O corpo foi velado em câmara ardente no salão nobre da Escola Naval e o féretro acompanhado pelos aspirantes e numerosos cidadãos civis, em clima de alta comoção, ressaltando-se os brados de protesto durante o trajeto a pé até o cemitério São João Batista, onde foi sepultado com honras militares, ao lado do pai.

O assassino foi absolvido por unanimidade por um Conselho de Investigação (delito praticado por 02 militares) e pelo Superior Tribunal Militar (08 Nov 916). O poder Judiciário, em face do profundo sentimento nacional, houve por bem não apreciar o mortífero episódio familiar, mantendo o veredicto da alçada castrense, mesmo porque não houve apelação, todos ansiosos em encerrar os tresloucados acontecimentos. Faleceu de infarto no dia 13 Nov 951, aos 63 anos de idade, após sofrer alguns derrames cerebrais e fora o mentor de uma tragédia humana sem similar em qualquer lugar deste planeta, em qualquer tempo.

Na vida militar, era considerado “crânio”, qualificação atribuída pelos companheiros àqueles que se destacam no currículo escolar, desde a Escola Preparatória e de Tática de Porto Alegre. Elogiado pela Missão Militar Francesa, ao concluir o curso de aperfeiçoamento (1920), ainda no posto de 1º tenente recebeu o diploma de Estado-Maior, com distinção. Anteriormente, formara-se em engenharia de construção, com louvor (1918), para mostrar a todos que estava à altura de seu êmulo Euclides da Cunha na área profissional civil e também no setor cultural, pois escrevera um livro publicado pela então Biblioteca Militar: “Leovegildo de Paiva – O De Brack Brasileiro”. Se a obra literária não teve repercussão nacional, ao menos foi bem aceita pelos colegas de farda. Maçom, entre outras guarnições federais, serviu em São João Del Rei (MG), Castro (PR), Bela Vista (MS, major comandante), Bagé, São Gabriel (tenente-coronel comandante), Rio Grande e Alegrete, todas no Estado do Rio Grande do Suil. Nesta última, por 02 vezes, coronel comandante do 6ª Regimento de Cavalaria e comandante interino da 2ª Divisão de Cavalaria, função exclusiva de oficial-general.

Em Bagé, acompanhado por Dinorah e a família, projetou e fiscalizou a construção dos aquartelamentos de Cavalaria e do comando divisionário. A sociedade fronteiriça não discriminou os Assis, mas aí começaram os atritos públicos constrangedores entre marido e esposa. Cumprida a missão, o oficial retornou ao Rio de Janeiro para estudar na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e no ano seguinte na Escola de Estado-Maior do Exército, indo combater a Coluna Miguel Costa-Prestes, durante o período do 15 Jul / 28 Out 924, viajando com seu novo amor Marieta – o homem num vagão e a mulher em outro – segundo Dirce de Assis Cavalcante, filha do casal. Dilermando tornara-se mais agressivo com todos, ao ponto de pronunciar palavrões e surrar as crianças com o talabarte, internando-as em colégios distantes, nas palavras de Judith de Assis. Afastado da intimidade sexual, e por considerar Ana de Assis em boas condições financeiras, apenas se responsabilizava pelas despesas referentes ao ensino dos filhos, recusando-se a ajudar no orçamento familiar, afligindo a mulher, que não se conformava.

Sua vida social era comedida, mas tocava violão, gostava de fotografar, jogava pôquer, gamão e, principalmente, xadrez , no Clube Militar e em casa, com os companheiros. Foi pai de 05 filhos com Ana Emília (03 homens e 02 mulheres), e mais 01 filha com sua 2ª esposa Maria Antonieta de Araújo Jorge (Marieta) com quem casou “de papel passado”, após a morte de Ana (12 Mai 951). Já era amante da jovem desde o início de 1924,  quando abandonou Ana Solon de Assis. Participou das expedições militares, ao lado da legalidade, combatendo a Coluna Miguel Costa-Prestes (1924 – sob o comando do general-de-brigada Cândido Mariano Rondon, que elogiou sua atuação – e a Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932). Escreveu 01 livro sobre cada campanha, relatando as peripécias da luta.

Ana de Assis recebia direitos autorais das obras euclidianas, a metade do montepio de marechal legado pelo general Solon Ribeiro (a outra parte era de Alquimena) e uma expressiva herança da mãe Túlia, após sua morte em 1918. Ressentida com sua desdita, comentava que seu filhinho Mauro morrera de inanição, reclamava da falta de dinheiro e dizia que “Os Sertões” não fora escrito na famosa cabana ao pé da ponte e sim na fazenda Trindade (SP) – pertencente a seu sogro, em 1893 – como se ela se inteirasse das atividades intelectuais do marido, ou então este lhe desse informações a respeito de seus trabalhos culturais. Por outro lado, contava com a solidariedade de mulheres liberadas, como a caricaturista Nair de Tefé (Rian), futura 1ª dama do país, pouco convencional, ao casar com o presidente da República e marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, 31 anos mais velho do que ela

Ao atingir a maioridade, Afonsinho, o último Cunha, teve a maior decepção da vida: ficou sabendo que sua mãe vendera os direitos autorais de “Os Sertões” – o livro de maior difusão no mercado brasileiro, traduzido para o inglês e o espanhol – à Livraria Francisco Alves Editora, não lhe restando direito algum à herança deixada por seu pai, que negociara com essa firma a publicação da já famosa obra, recebendo certa quantia por edição. Ana Solon declarou peremptoriamente que “sabia que não podia vender, mas vendera, gastara todo o dinheiro e que a prendessem”, ao ser inquirida pelo advogado do filho, que não levou o caso adiante.

Saninha não era bonita de chamar a atenção e teve educação caseira, de amenidades, igual a todas gurias da classe média alta, à qual pertencia. É certo que morreu fiel à paixão irresistível que transtornou a sociedade de seu tempo. Salta aos olhos sua inquietude, mudando constantemente de residência, por vezes para locais esquisitos como a fazenda dos Macacos, no Realengo, e a então quase deserta ilha de Paquetá. Voluntariosa – “Não me ralo de remorsos” – repelia com veemência os comentários maliciosos das “candinhas” e os olhares atravessados que lhe dirigiam, isolando-se dentro de casa com os filhos, um dos quais, Carlos Frederico, queimou o diário onde ela registrava as agruras e fantasias de sua fascinante vida, privando os estudiosos desse importante documento. Ana e Dilermando não se viram durante 18 anos, a partir do casamento da filha Judith (1932). Apenas na doença terminal da esposa, vítima de câncer, pressionado pelos filhos, o marido se permitiu visitá-la no leito do Hospital Central do Exército (1950).

 

”Você é o único homem que não pode prevaricar”.

 

A bala que atingira Dinorah Cândido de Assis encravara-se na nuca e aparentemente não incomodava, tanto é que ele jogou futebol pela equipe do Botafogo de Futebol e Regatas – em que se destacava como zagueiro – contra o Fluminense Futebol Clube, no dia 22 de agosto de 1909, decidindo o campeonato carioca, no campo das Laranjeiras. Prosseguiu como respeitado atleta, sagrando-se campeão no ano seguinte e participando de partidas oficiais até 1911, ano em que encerrou a carreira esportiva. Sabemos que o projétil “caminha” no tecido macio do corpo humano e assim aconteceu, indo se alojar junto à espinha dorsal, de onde foi extraído somente em 1913, em São João Del Rei, pelo médico dr. Ribeiro da Silva. A princípio, andava com ajuda de uma bengala, depois se deslocava em cadeira de rodas, tornando-se hemiplégico. Desentendeu-se com o irmão e afastou-se da convivência amistosa, entregando-se à depressão e ao desespero. Desligado de sua querida Marinha, decaiu até a mendicância e o alcoolismo, pondo fim a seus desventurados dias, ao jogar-se às águas do rio Guaíba, em Porto Alegre (1921), aos 32 anos de idade. A tragédia euclidiana não poupava seus personagens, destruindo-os sem piedade.

 

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                                                                                 Davis Ribeiro de Sena   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
Davis Ribeiro de Sena
 
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