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Euclides e o berço de Os Sertões
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Desgovernados?
2007-03-29 09:54:09

 

Desgovernados?
27/3/2007 14:21:05

Sofro cada vez que vejo alguém vítima, de alguma forma, dos chamados “males da modernidade”. Ninguém liga nem leva a sério, mas o que o William tem dito por todos os meios possíveis é aquela mesma verdade que dizia Euclides: “Ou progredimos, ou desaparecemos.”

Tenho a convicção de que Euclides não pensava em progresso da mesma forma que nós, hoje, pensamos. Naquela época, os intelectuais tinham a visão de que progredir não é somente acelerar a produção e a tecnologia, em detrimento do ser humano. Muito ao contrário: “progredir” implicava, para eles, primeiramente, a formação integral do ser humano, com direito à educação, cultura, à saúde e à moradia de QUALIDADE, detalhe de nossos políticos se esquecem muito facilmente. Sem dizer da falta de consciência e de escrúpulos daqueles que desviam verbas desses setores em benefício próprio.

O ser humano regrediu muito! Espantam-se? Mas isso é REAL! Deixou-se manipular, perdeu os nobres valores, tornou-se, mais do que nunca, o “lobo do homem”.

Se você pensa que, se não o atingir, o problema não é seu, engana-se. Esses males têm conseqüências imprevisíveis, de todas as maneiras: socialmente, psicologicamente, na saúde, ou seja, em todos os setores da vida humana.

Na década de 70, Alvin Toffler publicou um livro que todos deveriam conhecer: “O choque do futuro”. Já citei aqui alguns pontos abordados por ele nessa obra, mas hoje gostaria de abordar outros igualmente importantes para todos nós, que vivemos nessa época tão confusa, tão rica e tão perigosa.

 

FORA DE

CONTROLE

 

É possível viver numa sociedade fora de controle? Esta é uma das questões que ele coloca ao analisar o choque do futuro. Isto há mais de 30 anos! Toffler já previu, naquela época, que tudo se desgovernaria: o homem perderia o controle da tecnologia, haveria conflitos étnicos agravados, população migrante miserável, tendo como única saída a violência, taxas de mudanças desequilibradas e outras tantas coisas mais.

Não teriam as sociedades tecnológicas se tornado complexas demais, rápidas demais para se lidar com elas? Como ajustar esse tempo de mudança com o tempo biológico? Por que tanta coisa não tem mais dado certo, principalmente nos grandes centros urbanos? Por que a violência corre solta, evidenciando um verdadeiro retorno à barbárie? O que ocorre, segundo o pensador, é um colapso do planejamento tecnocrático.

Em muitas sociedades o planejamento ainda é tecnocrático, o que significa que é essencialmente não-democrático. E as retóricas já não resolvem mais nessas situações. A falha desse sistema e a conseqüente sensação de perda do controle alimentam uma filosofia do “imediatismo”. A exibição e a busca da recompensa imediata são estimuladas.

Quando os governantes mergulham de volta à irracionalidade, a atitudes anti-científicas, a uma espécie de nostalgia doente e a uma exaltação do imediatismo, além de errados, tornam-se perigosos.

As mesmas ferramentas da tecnocracia, como a análise de sistemas, a contabilidade e métodos semelhantes, se utilizados de forma diferente, poderiam se transformar em técnicas poderosas para humanizar o futuro. “Deixar rolar” – infelizmente é o que caracteriza muitas administrações, tanto na esfera municipal quanto na estadual ou nacional – é, nada mais, nada menos do que cometer “suicídio coletivo”, diz Toffler, o que poderíamos traduzir melhor em “genocídio”.

Toffler chama seu projeto de “futurismo social”, formado por estratégias que nos ajudariam a chegar a um novo nível de competência na administração das mudanças. “Podemos transcender a tecnocracia”, afirma ele.

 

HUMANIZAÇÃO

 

A palavra é essa, o William já a mencionou várias vezes aqui. Ou humanizamos as sociedades, ou elas se autodestruirão. Os tecnocratas sofrem de “pensamento economês”, tudo gira hoje em torno do dinheiro e do poder. O homem ficou a um segundo plano, muito distante. Não há o menor escrúpulo em tomar medidas que deixem populações na miséria, se for para o lucro dos interessados.

“Não temos quaisquer índices sistemáticos que nos digam se os homens estão mais ou menos alienados uns dos outros; se a educação é a mais eficiente; se a arte, a música e a literatura florescem; se a civilidade, a generosidade ou a gentileza estão aumentando. O Produto Nacional Bruto é o nosso Santo Graal”, mas não temos qualquer índice ambiental, qualquer censo estatístico para medir se o país está mais habitável a cada ano que passa.” E esta questão foi levantada por Stewart Udall, ex-secretário do Interior dos E.U.A. – a ausência desses índices faz com que a tecnocracia se perpetue como verdade máxima.

 

QUEM SE

IMPORTA?

 

Com todo esse desgoverno das sociedades, é necessário pensar um pouco nas vítimas inocentes disso tudo. Já nem vou citar aqui as questões da miséria e da violência, porque sobre elas todos falam, embora pouco façam para solucioná-las.

Mas quero lançar algumas interrogações para provocar, como: quem se importa em fazer estatísticas e tomas providências contra alguns destes aspectos da modernidade:

 

— O quanto a mídia cultiva a inveja, a ganância, o materialismo e tudo o mais que resulta em infelicidade desnecessária para o ser humano?

— Quem se importa em comprovar o quanto esse avanço tecnológico está afetando a personalidade das pessoas?

— Quem se importa em assegurar tratamento profissional gratuito de qualidade para todos os que somatizam no corpo essas angústias da modernidade?

— Quem se importa em saber quantas inovações as crianças são capazes de assimilar a mais do que seus pais? E se não são, quem se importa em orientar as famílias com segurança para lidar com isso?

— Quem se importa em saber o quanto essas crianças, em contato com os colegas, ficam  infelizes por não ter essas parafernálias que muitos possuem?

— Quem se importa em saber o quanto é difícil para os pais criarem seus filhos segundo os valores de nobreza humana, enquanto os colegas, a sociedade e a TV só propagam o valor dos bens materiais?

— Quem se importa em analisar o quanto as mulheres emancipadas de hoje podem estar estressadas e infelizes?

— Quem se importa em tomar providências realmente efetivas para evitar que adolescentes de hoje cheguem à desnutrição ou à baixa auto-estima por não possuírem um corpo de modelo?

— Quem se importa com a má qualidade dos transportes urbanos, principalmente nos grandes centros?

— Quem se importa com a solidão das pessoas, em cultivar as verdadeiras amizades, em sair um pouco de si mesmo?

— Quem se importa com os salários dos deputados elevados a R$ 16 mil, enquanto toda uma população vive à beira da catástrofe?

 

 

Pois é... Você se importa? É hora de juntar forças, então!

 

 
Maria Olívia G. Ribeiro de Arruda
 
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