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Euclides e o berço de Os Sertões
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República, Liberdade e Democracia
2001-11-19 00:00:00

 

 

Da república proclamada no Brasil em 15 de novembro de 1889, a sociedade brasileira contava entre os republicanos mais entusiasmados, o nosso nobre e genial Euclides da Cunha. Em julho de 1897 - um jornalista no miserável e desgraçado campo de batalha de Monte Santo - apenas oito anos depois, a consciência pesou-lhe com a gravidade máxima de um apocalipse ao fim da guerra de Canudos, ao exibir-lhe por inteira a realidade de uma república totalitária, avessa às liberdades sociais e aos princípios democráticos do exercício da representação popular. Nossos governantes da época, Prudente de Morais e Campos Sales, mal e mal entendiam do exercício do poder de governo de Estado, menos ainda de livre arbítrio e autodeterminação, jamais cogitaram sobre suas dúvidas sobre liberdade e democracia. A festa da Proclamação da República, entendeu Euclides da Cunha no meio do desastre acabado da guerra de Canudos, fora um acontecimento político totalitário, jamais de sagração da liberdade e da democracia. No ano que vem, 2002, seu livro "Os Sertões" completa cem anos de primeira edição. O poder de governo é exercido, mas absolutamente desligado de liberdade e democracia, ainda hoje, se as dissensões críticas e fundamentais entre Preço e Salário se discutem apenas no âmbito das necessidades empresariais, jamais das necessidades econômicas e sociais de uma população.

Os norte-americanos estão prestes a completar a invasão do Afeganistão. Seus aliados afegãos, da denominada Aliança do Norte (oposição afegão ao Talebã), nos próximos dias, deverão tomar por completa a cidade de Cabul, a capital da República Islâmica do Afeganistão, nação independente da Inglaterra (Reino Unido) desde 19.08.1919, governada transitoriamente pelo Talebã, mas sem constituição nem determinação de direito de voto. Não houve declaração de guerra de nenhuma das partes (EUA e aliados contra o Afeganistão), um fato de enorme relevância, mas que nos obrigamos a deixar de lado. As guerras civis serão sempre equívocos, históricos, políticos e econômicos, em vista de suas causas e de seus desdobramentos, jamais configurando, por reforma ou revolução, as funções civilizatórias do Estado. As guerras de conquista ou de império, da mesma maneira, acrescentando-se a formação de uma hegemonia sempre totalitária invasora, colonizadora e dominadora. Então, as guerras ferem determinada e definitivamente o livre arbítrio e a autodeterminação, a liberdade e a democracia. Dominada a capital da República Islâmica do Afeganistão, o desdobramento conformará o exercício imperial do poder de governo dos EUA e seus aliados sobre uma nação pobre, subdesenvolvida, porque haverá de se formar um novo governo do país, sob condições para sempre divorciadas da liberdade e da democracia. Que tipo e forma de governo a "Aliança do Norte" exercerá, sob o patrocínio e domínio fantasmagórico dos EUA e seus aliados ricos e europeus?

Quantas vezes se leu "Os Sertões"? E quem, efetivamente, leu este livro? As dúvidas não são más; são a excelência original da formação da lógica e da razão. Há mais de 100 anos - desde julho de 1897 - a nação brasileira, por seus cidadãos de opinião, discussão, pesquisa e estudo severo e disciplinado, sabem o que aconteceu com os conselheiristas, com a revolta de Canudos, com as razões de Antônio Vicente Mendes Maciel (o Conselheiro). Com dúvidas ou sem dúvidas, os euclidianos sabem demasiadamente um tudo sobre a formação de uma república, sobre a liberdade e a democracia de um povo governado totalitariamente. Não há clima nenhum em Cabul para se tentar formar uma república. Salto uma a uma das minhas dúvidas para questionar pelo futuro democrático de um povo incapaz de vislumbrar o desastre do que significa a invasão do Afeganistão, por quaisquer que sejam as razões: dirijo esta pergunta ao povo norte-americano.

 
Jorge Fontes
 
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