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Euclides e o berço de Os Sertões
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"OS SERTÕES"
2001-12-12 00:00:00

 

O LIVRO DESTINADO A ATRAVESSAR OS TEMPOS

Um livro, como toda obra artística, é sempre uma incógnita até sua apresentação ao público. Ao publicar seu livro que pretendia fôsse de denúncia, nem mesmo assim Euclides da Cunha poderia ter a menor idéia da perenidade da obra que estava nascendo.

Publicado pela Laemmert & Cia., editores do Rio de Janeiro e lançado no dia 2 de dezembro de 1902, já no dia seguinte, o "Correio da Manhã" publicava o primeiro artigo crítico de autoria de José Veríssimo. Um pouco mais de um mês depois, no dia 19 de fevereiro a primeira edição estava esgotada e no dia 9 de julho as livrarias recebiam a 2ª edição. No mesmo ano, em decorrência da forte repercussão do livro, da notoriedade repentina do seu autor, Euclides da Cunha toma posse na Academia Brasileira de Letras, em setembro, e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em novembro.

Ano após ano as edições foram se sucedendo. Traduções em quase todas as línguas cultas do mundo deram dimensão mundial ao episódio guerreiro de Canudos. Enquanto parte do país vivia inebriado pelos cenários idílicos dos ufanistas embalados pela prosa de Afonso Celso, "Os Sertões" foi como um vendaval que sacudiu o país de ponta a ponta, obrigando a que todas as pessoas que tinham uma mínima inquietação intelectual a repensarem seus conceitos sobre o Brasil, sua terra, sua gente e seu destino como povo e nação.

Da primeira à última página, "O Sertões" é um livro que incomoda. Ele foi escrito exatamente para isso. Para instigar, provocar a pesquisa e estimular a procura da verdade. É um livro contra o conformismo. É um livro de idéias e soluções, de questionamentos e proposições ousadas. Já é lugar comum dizer que algumas de suas conceituações científicas não resistiram à evolução. Contém os vícios ou distorções típicos da época. É verdade. Mas ainda assim o livro continua insuperável como tubo de ensaio onde melhor se analisa a realidade nacional. No essencial ele continua íntegro, imutável, provocador.

Todos os importantes questionamentos e as grandes formulações sociológicas, antropológicas, históricas e políticas para compreender o Brasil, antes e depois da República, tiveram seu embrião nas páginas de "Os Sertões".

A crescente e contínua bibliografia que tem em "Os Sertões" sua inspiração não cessa de crescer. Passados 100 anos de sua publicação, ele continua sendo o grande manual de consulta sobre a "terra ignota", o universo sertanejo, misterioso e desconhecido. É ainda a poderosa matriz geradora de reflexões que surpreendem, se desdobram e amplificam, empolgam e espantam.

"Os Sertões" é acima de tudo uma obra coletiva que teve um Euclides da Cunha o maestro condutor que soube levar a bom termo, com eloqüência sinfônica, uma obra magistral. Euclides da Cunha apoiou-se em conceituados mestres das ciências para criar um colossal painel da realidade brasileira.


Além de Euclides da Cunha outros escritores, seus contemporâneos, descreveram também a mesma Guerra de Canudos. Nenhum deles conseguiu no entanto marcar tão profundamente a cultura brasileira como "Os Sertões". A diferença está em que "Os Sertões" induz à reflexão, abre perspectivas de avaliação, obriga as pessoas a pensarem. Ninguém lê "Os Sertões" e consegue ficar indiferente. É um livro que mexe com as pessoas. É um livro que leva à ação. Ele foi e continua sendo um poderoso agente transformador da realidade. É um livro de hoje, de agora, de sempre.


"Os Sertões" é o livro brasileiro destinado a atravessar os tempos.

HENRIQUE NOVAK

Presidente do Centro de Estudos Euclides da Cunha - São Paulo - e-mail novakplanest@aol.com - Novembro - 2001.


 
Henrique Novak
 
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