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Euclides e o berço de Os Sertões
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SÉCULO XIX: BRASIL E EUCLIDES DA CUNHA
2002-06-24 00:00:00

 

Euclides da Cunha teve a vida diretamente influenciada pelos ditames do século XIX, principalmente na segunda metade deste. Influências externas, como as doutrinas do positivismo e do determinismo e as internas, a começar pelos ideais republicanos que permearam de forma muito intensa a jovem oficialidade do exército brasileiro, marcaram decisivamente seu destino.
Conhecer o Brasil do século XIX ajuda a melhor entender a vida de Euclides da Cunha.
Logo na virada da primeira metade do século XIX, em 1850, depois de uma insistente e persuasiva pressão, os ingleses conseguiram que o Brasil colocasse fim ao degradante tráfico negreiro, que abastecia de mão-de-obra escrava a economia brasileira.
Daí para frente, a pressão contra a manutenção da servidão daqueles escravos que ainda permaneciam no Brasil - e eram muitos - só aumentou, fazendo com que a opinião pública, principalmente a dos grandes centros urbanos, cobrasse uma solução mais rápida por parte dos meios políticos.
Toda essa problemática ocorria justamente na época em que o país vivia a grande expansão da lavoura cafeeira por terras paulistas. O mercado externo consumidor de café, crescia consideravelmente e a onda verde se espalhava por terras antes cobertas por matas intocadas. A sede por novas terras não respeitava nenhuma ação preventiva de defesa do solo.
Depois de algumas experiências frustrantes, como a iniciativa do Senador Vergueiro, que introduziu colonos alemães em suas propriedades na região de Limeira, tendo como resultado final rebeliões por parte dos colonos e ações de restrição à imigração para o Brasil por parte de países europeus, uma política melhor estruturada, que garantisse um fluxo regular e contínuo de mão-de-obra estrangeira, foi adotada pela elite cafeeira. A massa imigrante européia começava a chegar em levas cada vez maiores, alterando de forma irreversível a vida brasileira.
Outro elemento essencial para a compreensão do final do século XIX, fato que teve influência direta na vida de Euclides da Cunha, foi o ideal republicano, cada vez mais latente nos meios civis e militares.
Euclides da Cunha tomou contato logo cedo com os ideais republicanos. Ainda jovem começou, na vida militar, a demonstrar aversão aos dogmas monárquicos.
Mas foi em São Paulo, tendo à frente as oligarquias cafeeiras, grupo mais interessado na constituição de um governo que lhes desse maior autonomia na defesa de seus projetos políticos e econômicos, que a idéia da República ganhou espaço, apresentando-se como a grande redenção diante dos limites e malefícios impostos pela monarquia.
A monarquia perdia sustentação a cada novo episódio. Seguia o mesmo destino que o próprio D. Pedro II, combalido e desinteressado pela vida nos bastidores da política, assistia à provável posse da herdeira, a princesa Isabel, tumultuar ainda mais o cenário das especulações sobre os destinos do Império brasileiro.
Casada com Gastão de Orleãs, o conde D´eu, a princesa não era bem vista no meio político, principalmente por se temer a indesejável possibilidade do mal afamado conde francês assumir o comando da monarquia brasileira. Militares e civis convergiam suas opiniões. Algo precisava ser feito para evitar o prolongamento do Império, sob as hostes da família Bragança.
Muitas lideranças republicanas imaginavam que, com a morte do velho imperador, tudo se resolveria naturalmente e o 3º Império não teria início. Mas a situação foi resolvida de outra forma. Os militares, que desde o fim da Guerra do Paraguai vinham lutando por um espaço maior dentro da política, até então comandada pelos casacas (civis), assumiram o controle do ideário e principalmente da mobilização republicana, deixando antigas lideranças civis num plano coadjuvante.
Ao lado dessas personagens militares, um grupo de lideranças civis muito expressivas também vivenciou esse momento marcante de nossa história. Mas, como em outras oportunidades da história brasileira, não teve a presença de uma personagem principal, o povo. Como disse um ator civil do 15 de novembro, o povo assistiu a tudo aquilo bestializado, sem compreender o que estava acontecendo. Diante da mobilização das tropas rebeladas, muitos cariocas imaginavam estar vendo uma parada militar ou no máximo um treinamento dos soldados. Nos primeiros momentos da república houve um predomínio das ações militares e eles dominaram a cena política brasileira até a eleição de Prudente de Morais, em 1894.
A república dá os seus primeiros passos, ainda inseguros. Euclides começa a perceber que o ideal de outrora não é de fácil aplicação. Muitos são os descontentes com o novo regime. Os ideais positivistas que alimentaram a revolta militar, aos poucos vão sendo deixados de lado, abrindo espaço para novas ideologias e interesses.
Já no governo do civil Prudente de Moraes, a guerra de Canudos foi um momento especial na visão de Euclides da Cunha sobre a república e todo o Brasil. A última fagulha do seu antigo ardor republicano foi os dois artigos intitulados "Nossa Vendéia", publicados no jornal "O Estado de São Paulo", quando a guerra do sertão baiano fazia suas primeiras vítimas e começava a ser alardeada como foco de restauração monárquica.
Tudo começou a se desvanecer com a presença física e de espírito no campo de batalhas. Euclides da Cunha se recompôs diante de uma realidade que não conseguiu cruzar os limites naturais do sertão baiano e chegar ao centro-sul do país. Era uma verdade que não podia ser escondida, abafada pela versão oficial.
No pouco tempo que permaneceu na Bahia, Euclides foi atingido de forma fulminante pela arma poderosa dos verdadeiros ideias conselheiristas. Tornou-se um dos maiores defensores de Canudos sem ter posto a mão numa só arma. Euclides não fez uso do legislador Comblain. Sua arma mortal contra os valores republicanos que devastaram Canudos, foi a pena. Do livro "Os Sertões" saíram balas, palavras dilacerantes contra um Brasil-do-litoral que viveu séculos de costa para o Brasil-do-interior. Na história do Brasil, nada mais foi igual depois de Canudos, depois de Euclides da Cunha e depois do século XIX.
Prof. Marcos De Martini
Ciclo Básico e Guarda Mirim

 
Marcos De Martini
 
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