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Aspectos de Comunição no Texto Euclidiano
2001-07-25 00:00:00

 

 

ALGUMAS TÉCNICAS DE REDAÇÃO

                                                                            

I. O que é redigir?

Resp: Redigir ou escrever é o ato de meditar, refletir, tornar-se artista na produção escrita de um texto original. O autor aperfeiçoa sua técnica de escrita com a leitura, a análise de bons textos literários, jornalísticos, filmes, debates e conversas abertas, onde temas variados trazem novas experiências culturais para o produtor do texto. Redigir bem não depende de dom (capacidade), mas de interesse e força de vontade em produzir um novo texto que emocione um leitor. CRIAR UMA TEXTO ORIGINAL, AUTÊNTICO!

II.CONSIDERAÇÕES GERAIS:

Não há escrita sem leitura, sem reflexão, sem a adoção de um ponto de vista, sem um desejo por parte de quem escreve, de manifestar-se a respeito de um determinado tema ou assunto.

A pessoa que corrige, lê e analisa  uma redação, tem de envolver-se profundamente com os textos produzidos por seus alunos, devendo perceber claramente que o autor de um texto começa a escrever sem muita maturidade na escrita, mas, com o tempo, melhora na produção e aperfeiçoa seu estilo de composição.

Redação é um espaço para o aluno demonstrar sua competência de produção literária, colocando em seu texto sua opinião, seu ponto de vista, suas idéias e conclusões a respeito de um tema ou assunto apresentado como desafio , pois, a partir da escrita do aluno, pode-se conhecê-lo melhor, perceber suas dúvidas, seus anseios, suas necessidades, sua visão de mundo, seus objetivos....

No texto redacional predomina a linguagem escrita que exige grande esforço do pensamento na escolha das palavras, idéias e colocação  destas nas frases, orações e períodos até que seja formado um texto que seja lido, entendido e compreendido por um leitor, para isso o texto deve revestir-se de emoção , a fim de que o leitor tenha prazer de ler e goste daquilo que está lendo.

Ajuda muito fazer leituras de textos, promover debates e seminários sobre temas sociais, psicológicos, culturais, etc... antes de produzirmos um novo texto. A leitura e o debate ajudam muito na obtenção de informações  que facilitarão o desenvolvimento do senso crítico do autor/produtor.

Na técnica de produção de um texto redacional tem papel fundamental a leitura e a interpretação de texto sobre temas variados. É nessa atividade de leitura que se assimilam os mecanismos gramaticais básicos, os recursos expressivos corretos que a língua nos oferece, formando e ampliando o vocabulário e tomando-se consciência das variações semânticas das palavras em suas diferentes implicações (= sentido denotativo  x sentido conotativo de palavras e expressões de nossa língua). Bom leitor é aquele que lê fazendo observações, analisando e aprofundando-se nas idéias apresentadas pelo autor do texto, compreendendo e construindo mentalmente sua síntese ou seu resumo.

III.O TEXTO CRIATIVO DEVE CONTER:

  1. FORMA:  - utilização correta da gramática, da estruturação da frase e de todos os recursos estilísticos que a língua culta oferece; também apropriar-se dos recursos necessários à expressão  e utilização correta da gramática normativa, sempre procurando aproximar-se da norma culta, já que dominar perfeitamente toda a língua é impossível.
  2. FUNDO:  - corresponde ao conteúdo, mensagem do texto( pensamentos, idéias, sentimentos, fatos ou impressões que mexam com a mente do leitor, levando-o à interpretação do tema desenvolvido), nesta parte do texto o leitor fará a interpretação do texto.

O texto deve conseguir apresentar um equilíbrio entre forma e fundo (boas idéias numa linguagem clara, correta, simples e elegante). Para que surjam idéias, é preciso que se faça um esforço  de reflexão, para que  o texto escrito as apresente de forma adequada é preciso um esforço na elaboração (montagem) para ser apresentado um trabalho criativo de qualidade, original.

IV.DEZ CARACTERÍSTICAS PARA A PRODUÇÃO DE UM BOM TEXTO DE REDAÇÃO:

1º ) Aprender a corrigir e evitar os principais erros de português, como colocação de crase inadequada, acentuação incorreta, troca de letras na ortografia de uma palavra, etc.

2º) Antes de começar a escrever, meditar sobre o tema, ordenando o que pretende apresentar para o leitor;

3º) Escolher o tipo de linguagem apropriada ao tema proposto, usando palavras e idéias adequadamente ao tipo do texto escolhido;

4º)Ser sempre específico nas descrições, evitando generalidades e divagações de idéias ou pensamentos;

5º)Atentar para os princípios de uma boa composição, observando a clareza das idéias apresentadas e o envolvimento do assunto, para que o leitor não desanime ao lê-lo;

6º)Evitar o uso de chavões e clichês da língua que nada acrescentam ao texto;

7º)Ser direto no que pretende transmitir, sem rodeios ou frases ocas. Não jogar conversa fora;

8º)Usar palavras que expressem denotação (sentido real) e conotação (sentido figurado ou implicações de idéias) úteis à idéia central do assunto que está sendo exposto;

9º)Abrir um parágrafo toda vez que tiver uma idéias principal, mas sempre observando que essa idéia deve estar relacionada com o tema central do texto;

10º)Escolher a forma de composição mais adequada para  o tema proposto ( NARRAÇÃO, DESCRIÇÃO OU  DISSERTAÇÃO)

V.DOMÍNIO E SIGNIFICADO DOS TEXTOS:

A leitura é talvez o meio mais importante para chegarmos ao conhecimento, por isso, é preciso aprender a ler, mas interessa mais ler com profundidade do que em quantidade.

            Ler é dar sentido  às coisas, ao mundo, à vida.

            Saber ler é o ponto de partida para dominar toda a riqueza que um texto, literário ou não, pode transmitir. Bom leitor é quem lê fazendo a análise do texto. Analisar um texto é aprofundar-se na compreensão dos detalhes para construir mentalmente  sua síntese ou resumo.

            Cada vez que você lê um romance, estuda uma lição, folheia uma revista, lê um jornal, um artigo jornalístico ou assiste a um filme, seja um leitor ou um observador em profundidade! Procure aprofundar-se no significado do texto, daquilo que lhe é proposto!

            Exercitar-se na arte de pensar, captar as idéias e criar suas  próprias idéias é o objetivo principal de todas as atividades que exigem reflexão e produção de um novo texto, para isso devemos nos utilizar  da criatividade que existe dentro de nós, sempre usando a palavra como veículo de nosso pensamento, desenhando através da “arte da palavra escrita” um texto original, diferente, como se fosse nossa obra de arte.

TIPOS DE TEXTOS DE COMUNICAÇÃO ESCRITA.

VI. DISSERTAÇÃO:

            É um texto que se caracteriza pela defesa  de uma idéia, de um ponto de vista, ou um questionamento sobre um determinado assunto. O autor do texto dissertativo trabalha com argumentos , com fatos, com dados, os quais utiliza para reforçar ou justificar o desenvolvimento de suas idéias. Consideramos a DISSERTAÇÃO como a discussão ou a explanação  organizada de um problema, assunto ou tema.  Para obter-se uma exposição clara, ordenada e organizada, uma dissertação pode ser dividida em três partes: INTRODUÇÃO , DESENVOLVIMENTO  OU  ARGUMENTAÇÃO  E  CONCLUSÃO.

Num texto dissertativo o autor opina, explica, mostra, aponta, tenta convencer o leitor sobre o tema que está expondo e até interpreta suas idéias, defendendo-as com argumentações que fazem do leitor um analista em potencial sobre o texto apresentado.

            No texto dissertativo  não se criam personagens, o que interessa é a realidade, é a discussão do fato ou da questão, é a opinião individual sobre um assunto, tema ou problema apresentado para ser defendido ou atacado através da escrita.

O QUE É UMA DISSERTAÇÃO?

-     Dissertação é a discussão organizada de um problema. Ninguém tem condições de discutir, nem muito menos de discutir organizadamente, sem antes ter obtido informações, sem antes ter analisado, sem antes ter formado uma opinião sobre o problema.

-        DUAS PALAVRAS FUNDAMENTAIS:- A) ANALISAR    B) DISCUTIR

-         Analisar é separar por partes, a fim de ver melhor cada detalhe e, assim, compreender o todo. Qualquer que seja., porém, o problema, seus aspectos fundamentais, sob o prisma da estrutura lógica, são: as causas ( por quê?); os objetivos ( para que fim?); os meios ( com que recursos?); os empecilhos ( quais as dificuldades?); o tempo ( em que momento?); o modo ( de que maneira?);as conseqüências ( quais os resultados?).

-        Discutir é examinar, relacionar e, ao mesmo tempo, ir questionando para mostrar o valor de alguma coisa.

 

PARTES DA DISSERTAÇÃO:

I.                   INTRODUÇÃO:- o autor apresenta o assunto que vai discutir , dá a idéia inicial.

II.                 DESENVOLVIMENTO ou ARGUMENTAÇÃO:- é a parte em que o autor desenvolve um ponto de vista, sempre argumentando, citando exemplos, fornecendo dados; é o posicionamento do autor frente ao tema, os porquês, os prós e os contras.

III.              CONCLUSÃO:- é a parte em que o autor dá um fecho coerente com o desenvolvimento e com os argumentos apresentados. Em geral, retoma-se a idéia apresentada na introdução com mais ênfase, indicando conclusão.

OBS:- O texto dissertativo requer uma linguagem séria, exata, sem rodeios, porque o leitor tem que ser convencido pela força dos argumentos do autor, por  isso deve ser impessoal ou utilizar-se da 3ª pessoa.

EXEMPLO DE TEXTO DISSERTATIVO ANALISADO:-

·       HOMEM  E  A  NATUREZA

“A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua, se

não fosse perigosamente pretensiosa.

Essa crença lançou raízes profundas no espírito humano, reforçada por doutrinas que situam corretamente o “homo sapiens” no ponto mais alto da evolução, mas incidem no equívoco de fazer dele uma espécie de finalidade da criação. Pode-se dizer com segurança que nada na natureza foi feito para alguma coisa, mas pode-se crer em permuta e equilíbrio entre seres e coisas. A aquisição de características muito específicas como a linguagem, raciocínio lógico, memória pragmática, noção de tempo e capacidade de acumular não fizeram do homem um ser superior no sentido absoluto, mas apenas mais bem dotado para determinados fins.

Isso não lhe confere autoridade para pretender que todo o resto do universo conhecido deve prestar-lhe vassalagem, como de fato ainda pretende a maioria das pessoas com poder decisório no mundo.”

                                    Lisboa, Luiz Carlos. Olhos de ver, ouvidos de ouvir.

                                    Rio de Janeiro, Difel, 1977

ANÁLISE  OU ESQUEMA DE COMPOSIÇÃO:-

1.    ASSUNTO:-  A natureza

2.      PONTO DE VISTA:- A relação entre o homem e a natureza.

3.      OBJETIVO:- Mostrar que a natureza não existe para servir o homem.

4.      TESE:- A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua, se não fosse perigosamente pretensiosa.

5.      COMPROVAÇÃO / ARGUMENTAÇÃO:- Essa crença lançou raízes profundas no espírito humano, reforçada por doutrinas que situam corretamente o “homo sapiens” no ponto mais alto da evolução, mas incidem no equívoco de fazer dele uma espécie de finalidade da criação. Pode-se dizer com segurança que nada na natureza foi feito para alguma coisa, mas pode-se crer em permuta e equilíbrio entre seres e coisas. A aquisição de características muito específicas como a linguagem, raciocínio lógico, memória pragmática, noção de tempo e capacidade de acumular não fizeram do homem um ser superior no sentido absoluto, mas apenas mais bem dotado para determinados fins.

6.      CONCLUSÃO:- Isso não lhe confere autoridade para pretender que todo o resto do universo conhecido deve prestar-lhe vassalagem, como de fato ainda pretende a maioria das pessoas com poder decisório no mundo.

VII. NARRAÇÃO:- é o ato de se contar um fato e, para contá-lo, há necessidade de descrevermos locais, personagens, coisas, fatos etc. Não há narração que não apresente alguns aspectos descritivos. Tecnicamente, a narração, assim se subdivide:

1º.) Apresentação de tempo ( cronológico ou físico); local; personagem.

2º.) Desenvolvimento do fato ou enredo.

3º.) Conclusão.

Na narração há sempre alguém que narra, que conta o fato: O NARRADOR.

Gramaticalmente, percebe-se o predomínio de frases verbais, indicando um processo ou ação.

ELEMENTOS DA NARRATIVA:-

A.     NARRADOR- a) participante ( 1ª. pessoa ).

       b) simples observador do fato narrado ( 3ª. pessoa).

B.     FOCO NARRATIVO - maneira como o narrador se situa em relação ao que está sendo narrado. 1ª. pessoa ( eu / nós ), ou se distancia dela e escreve na 3ª. pessoa ( utilizando-se do índice de indeterminação do sujeito : " se ")

C.     ENREDO OU AÇÃO - a seqüência dos fatos ou acontecimentos.

D.     PERSONAGEM OU PERSONAGENS - pessoas que atuam na narrativa, além do narrador.

E.      TEMPO - a extensão do tempo cronológico ou psicológico em que tudo acontece: anos, meses, dias, horas e até minutos.

F.      ESPAÇO GEOGRÁFICO - o local onde os fatos ocorrem: o campo, a cidade, a casa, a vila, a estrada, a praia, a rua etc.

 

OBSERVAÇÃO:- " OS SERTÕES" - gênero narrativo com ação romanesca e estrutura convencional.

1º. ) ESPAÇO = descrição detalhada do espaço geográfico.  A  TERRA

2º. ) PERSONAGENS  = o homem que vive neste espaço e seus habitantes . O SERTÃO / SERTANEJO / JAGUNÇO

3º. ) NARRATIVA EM 3ª. PESSOA = Campanha de Canudos - o autor documenta o que vê para noticiar no  Jornal o Estado de São Paulo

Narração com aspecto ideológico, isto é, prevalece o modo de ver e sentir o fato pelo autor. A realidade observada na ótica do autor.

Os fatos históricos, os dados e as observações prendem-se  às idéias de seu autor que os interpreta na arte da palavra escrita proporcionando leitura prazer para o leitor.

VIII. DESCRIÇÃO:- ao contarmos uma história, muitas vezes precisamos descrever uma pessoa, um ser, uma cena, um objeto, um lugar, teremos, então, uma espécie de retrato feito com palavras. Numa descrição podemos encontrar aspectos físicos ( = externos, isto é, aspectos que são vistos ), e aspectos psíquicos ( = internos, isto é, aspectos que não são vistos ), principalmente quando se trata de pessoas ou animais.

A descrição pode ser SUBJETIVA - apresenta as características exteriores , mas detalha mais as características psicológicas da pessoa ou personagem da qual se está descrevendo.

Na descrição OBJETIVA predomina a reprodução fiel de uma pessoa, objeto ou cena, segundo a percepção individual de quem escreve, destacando-se com exatidão e precisão vocabular os detalhes.

Observe alguns detalhes descritivos no texto euclidiano na parte O HOMEM, em OS SERTÕES - Euclides da Cunha - Ediouro - pág. 96 - 97 e 98.

" Canudos, velha fazenda de gado à beira do Vaza-Barris, era, em 1890, uma tapera de cerca de cinqüenta capuabas de pau-a-pique.

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Feitas de pau-a-pique e divididas em três compartimentos minúsculos, as casas eram paródia grosseira da antiga morada romana: um vestíbulo exíguo, um átrio servindo ao mesmo tempo de cozinha, sala de jantar e de recepção; e uma alcova lateral, furna escuríssima mal revelada por uma porta estreita e baixa. Cobertas de camadas espessas de vinte centímetros, de barro, sobre ramos de icó, lembravam as choupanas dos gauleses de César. Traíam a fase transitória entre a caverna primitiva e a casa. Se as edificações em suas modalidades evolutivas objetivam a personalidade humana, o casebre de teto de argila dos jagunços equiparado ao wigwam dos peles-vermelhas sugeria paralelo deplorável. O mesmo desconforto e, sobretudo, a mesma pobreza repugnante, traduzindo de certo modo, mais do que a miséria do homem, a decrepitude da raça."

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Emoldurava-o uma natureza morta: paisagens tristes; colinas nuas, uniformes, prolongando-se, ondeantes, até às serranias distantes, sem uma nesga de mato; rasgadas de lascas de talcoxisto, mal revestidas, em raros pontos, de acervos de bromélias, encimadas, noutros, pelos cactos esquios e solitários. O monte da Favela, ao sul, empolava-se mais alto, tendo no sopé, fronteiro à praça, alguns pés de quixabeiras, agrupados em horto selvagem. A meia encosta via-se solitária, em ruínas, a antiga casa da fazenda..."

                                                            São Paulo, junho de 2001

                                                                        Prof. Stenio Esteter

                                   

 
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