ALGUMAS
TÉCNICAS DE REDAÇÃO
I. O que é
redigir?
Resp: Redigir ou escrever é o ato de meditar,
refletir, tornar-se artista na produção escrita de um texto original. O autor
aperfeiçoa sua técnica de escrita com a leitura, a análise de bons textos
literários, jornalísticos, filmes, debates e conversas abertas, onde temas
variados trazem novas experiências culturais para o produtor do texto. Redigir
bem não depende de dom (capacidade), mas de interesse e força de vontade em
produzir um novo texto que emocione um leitor. CRIAR UMA TEXTO ORIGINAL, AUTÊNTICO!
II.CONSIDERAÇÕES
GERAIS:
Não há escrita sem leitura,
sem reflexão, sem a adoção de um ponto de vista, sem um desejo por parte de
quem escreve, de manifestar-se a respeito de um determinado tema ou assunto.
A pessoa que corrige, lê e analisa uma redação, tem de envolver-se
profundamente com os textos produzidos por seus alunos, devendo perceber
claramente que o autor de um texto começa a escrever sem muita maturidade na
escrita, mas, com o tempo, melhora na produção e aperfeiçoa seu estilo de
composição.
Redação é um espaço para o
aluno demonstrar sua competência de produção literária, colocando em seu texto
sua opinião, seu ponto de vista, suas idéias e conclusões a respeito de um tema
ou assunto apresentado como desafio , pois, a partir da escrita do aluno,
pode-se conhecê-lo melhor, perceber suas dúvidas, seus anseios, suas
necessidades, sua visão de mundo, seus objetivos....
No texto redacional predomina
a linguagem escrita que exige grande esforço do pensamento na escolha das
palavras, idéias e colocação destas nas
frases, orações e períodos até que seja formado um texto que seja lido,
entendido e compreendido por um leitor, para isso o texto deve revestir-se de
emoção , a fim de que o leitor tenha prazer de ler e goste daquilo que está
lendo.
Ajuda muito fazer leituras
de textos, promover debates e seminários sobre temas sociais, psicológicos,
culturais, etc... antes de produzirmos um novo texto. A leitura e o debate
ajudam muito na obtenção de informações
que facilitarão o desenvolvimento do senso crítico do autor/produtor.
Na técnica de produção de um
texto redacional tem papel fundamental a leitura e a interpretação de texto
sobre temas variados. É nessa atividade de leitura que se assimilam os
mecanismos gramaticais básicos, os recursos expressivos corretos que a língua
nos oferece, formando e ampliando o vocabulário e tomando-se consciência das
variações semânticas das palavras em suas diferentes implicações (= sentido
denotativo x sentido conotativo de
palavras e expressões de nossa língua). Bom leitor é aquele que lê fazendo
observações, analisando e aprofundando-se nas idéias apresentadas pelo autor do
texto, compreendendo e construindo mentalmente sua síntese ou seu resumo.
III.O TEXTO
CRIATIVO DEVE CONTER:
- FORMA: - utilização correta da gramática, da
estruturação da frase e de todos os recursos estilísticos que a língua
culta oferece; também apropriar-se dos recursos necessários à expressão e utilização correta da gramática
normativa, sempre procurando aproximar-se da norma culta, já que dominar
perfeitamente toda a língua é impossível.
- FUNDO: - corresponde ao conteúdo, mensagem do
texto( pensamentos, idéias, sentimentos, fatos ou impressões que mexam com
a mente do leitor, levando-o à interpretação do tema desenvolvido), nesta
parte do texto o leitor fará a interpretação do texto.
O texto deve conseguir
apresentar um equilíbrio entre forma e fundo (boas idéias numa linguagem clara,
correta, simples e elegante). Para que surjam idéias, é preciso que se faça um
esforço de reflexão, para que o texto escrito as apresente de forma
adequada é preciso um esforço na elaboração (montagem) para ser apresentado um
trabalho criativo de qualidade, original.
IV.DEZ
CARACTERÍSTICAS PARA A PRODUÇÃO DE UM BOM TEXTO DE REDAÇÃO:
1º ) Aprender a corrigir e evitar os principais
erros de português, como colocação de crase inadequada, acentuação incorreta,
troca de letras na ortografia de uma palavra, etc.
2º) Antes de começar a
escrever, meditar sobre o tema, ordenando o que pretende apresentar para o
leitor;
3º) Escolher o tipo de
linguagem apropriada ao tema proposto, usando palavras e idéias adequadamente
ao tipo do texto escolhido;
4º)Ser sempre específico nas
descrições, evitando generalidades e divagações de idéias ou pensamentos;
5º)Atentar para os
princípios de uma boa composição, observando a clareza das idéias apresentadas
e o envolvimento do assunto, para que o leitor não desanime ao lê-lo;
6º)Evitar o uso de chavões e
clichês da língua que nada acrescentam ao texto;
7º)Ser direto no que
pretende transmitir, sem rodeios ou frases ocas. Não jogar conversa fora;
8º)Usar palavras que
expressem denotação (sentido real) e conotação (sentido figurado ou implicações
de idéias) úteis à idéia central do assunto que está sendo exposto;
9º)Abrir um parágrafo toda
vez que tiver uma idéias principal, mas sempre observando que essa idéia deve
estar relacionada com o tema central do texto;
10º)Escolher a forma de
composição mais adequada para o tema
proposto ( NARRAÇÃO, DESCRIÇÃO OU
DISSERTAÇÃO)
V.DOMÍNIO E
SIGNIFICADO DOS TEXTOS:
A leitura é talvez o meio
mais importante para chegarmos ao conhecimento, por isso, é preciso aprender a
ler, mas interessa mais ler com profundidade do que em quantidade.
Ler é dar sentido às coisas, ao mundo, à vida.
Saber ler é o ponto de partida para
dominar toda a riqueza que um texto, literário ou não, pode transmitir. Bom
leitor é quem lê fazendo a análise do texto. Analisar um texto é aprofundar-se
na compreensão dos detalhes para construir mentalmente sua síntese ou resumo.
Cada vez que você lê um romance,
estuda uma lição, folheia uma revista, lê um jornal, um artigo jornalístico ou
assiste a um filme, seja um leitor ou um observador em profundidade! Procure
aprofundar-se no significado do texto, daquilo que lhe é proposto!
Exercitar-se
na arte de pensar, captar as idéias e criar suas próprias idéias é o objetivo principal de todas as atividades que
exigem reflexão e produção de um novo texto, para isso devemos nos
utilizar da criatividade que existe
dentro de nós, sempre usando a palavra como veículo de nosso pensamento,
desenhando através da “arte da palavra escrita” um texto original, diferente,
como se fosse nossa obra de arte.
TIPOS DE
TEXTOS DE COMUNICAÇÃO ESCRITA.
VI. DISSERTAÇÃO:
É um texto que se caracteriza pela
defesa de uma idéia, de um ponto de
vista, ou um questionamento sobre um determinado assunto. O autor do texto
dissertativo trabalha com argumentos , com fatos, com dados, os quais utiliza
para reforçar ou justificar o desenvolvimento de suas idéias. Consideramos a
DISSERTAÇÃO como a discussão ou a explanação
organizada de um problema, assunto ou tema. Para obter-se uma exposição clara, ordenada e organizada, uma
dissertação pode ser dividida em três partes: INTRODUÇÃO , DESENVOLVIMENTO OU
ARGUMENTAÇÃO E CONCLUSÃO.
Num texto dissertativo o autor opina, explica, mostra,
aponta, tenta convencer o leitor sobre o tema que está expondo e até interpreta
suas idéias, defendendo-as com argumentações que fazem do leitor um analista em
potencial sobre o texto apresentado.
No
texto dissertativo não se criam
personagens, o que interessa é a realidade, é a discussão do fato ou da
questão, é a opinião individual sobre um assunto, tema ou problema apresentado
para ser defendido ou atacado através da escrita.
O QUE É UMA
DISSERTAÇÃO?
- Dissertação
é a discussão organizada de um problema. Ninguém tem condições de discutir,
nem muito menos de discutir organizadamente, sem antes ter obtido informações,
sem antes ter analisado, sem antes ter formado uma opinião sobre o problema.
- DUAS
PALAVRAS FUNDAMENTAIS:- A) ANALISAR B)
DISCUTIR
-
Analisar
é separar por partes, a fim de ver melhor cada detalhe e, assim, compreender
o todo. Qualquer que seja., porém, o problema, seus aspectos fundamentais,
sob o prisma da estrutura lógica, são: as causas ( por quê?); os objetivos
( para que fim?); os meios ( com que recursos?); os empecilhos ( quais as
dificuldades?); o tempo ( em que momento?); o modo ( de que maneira?);as conseqüências
( quais os resultados?).
- Discutir
é examinar, relacionar e, ao mesmo tempo, ir questionando para mostrar o valor
de alguma coisa.
PARTES DA
DISSERTAÇÃO:
I. INTRODUÇÃO:- o autor apresenta o assunto
que vai discutir , dá a idéia inicial.
II.
DESENVOLVIMENTO ou ARGUMENTAÇÃO:-
é a parte em que o autor desenvolve um ponto de vista, sempre argumentando,
citando exemplos, fornecendo dados; é
o posicionamento do autor frente ao tema, os porquês, os prós e os contras.
III. CONCLUSÃO:- é a parte em que o autor
dá um fecho coerente com o desenvolvimento e com os argumentos apresentados.
Em geral, retoma-se a idéia apresentada na introdução com mais ênfase, indicando
conclusão.
OBS:- O texto dissertativo requer uma linguagem
séria, exata, sem rodeios, porque o leitor tem que ser convencido pela força
dos argumentos do autor, por isso deve
ser impessoal ou utilizar-se da 3ª pessoa.
EXEMPLO DE
TEXTO DISSERTATIVO ANALISADO:-
· HOMEM E A
NATUREZA
“A idéia de que a natureza
existe para servir o homem seria apenas ingênua, se
não fosse perigosamente
pretensiosa.
Essa crença lançou raízes
profundas no espírito humano, reforçada por doutrinas que situam corretamente o
“homo sapiens” no ponto mais alto da evolução, mas incidem no equívoco de fazer
dele uma espécie de finalidade da criação. Pode-se dizer com segurança que nada
na natureza foi feito para alguma coisa, mas pode-se crer em permuta e
equilíbrio entre seres e coisas. A aquisição de características muito
específicas como a linguagem, raciocínio lógico, memória pragmática, noção de
tempo e capacidade de acumular não fizeram do homem um ser superior no sentido
absoluto, mas apenas mais bem dotado para determinados fins.
Isso não lhe confere
autoridade para pretender que todo o resto do universo conhecido deve
prestar-lhe vassalagem, como de fato ainda pretende a maioria das pessoas com
poder decisório no mundo.”
Lisboa,
Luiz Carlos. Olhos de ver, ouvidos de ouvir.
Rio de Janeiro, Difel, 1977
ANÁLISE OU ESQUEMA DE COMPOSIÇÃO:-
1. ASSUNTO:- A natureza
2.
PONTO
DE VISTA:- A relação entre o homem e a natureza.
3.
OBJETIVO:-
Mostrar que a natureza não existe para servir o homem.
4.
TESE:-
A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua,
se não fosse perigosamente pretensiosa.
5.
COMPROVAÇÃO
/ ARGUMENTAÇÃO:- Essa crença lançou raízes profundas no espírito humano, reforçada
por doutrinas que situam corretamente o “homo sapiens” no ponto mais alto
da evolução, mas incidem no equívoco de fazer dele uma espécie de finalidade
da criação. Pode-se dizer com segurança que nada na natureza foi feito para
alguma coisa, mas pode-se crer em permuta e equilíbrio entre seres e coisas.
A aquisição de características muito específicas como a linguagem, raciocínio
lógico, memória pragmática, noção de tempo e capacidade de acumular não fizeram
do homem um ser superior no sentido absoluto, mas apenas mais bem dotado para
determinados fins.
6.
CONCLUSÃO:-
Isso não lhe confere autoridade para pretender que todo o resto do universo
conhecido deve prestar-lhe vassalagem, como de fato ainda pretende a maioria
das pessoas com poder decisório no mundo.
VII. NARRAÇÃO:-
é o ato de se contar um fato e, para contá-lo, há necessidade de descrevermos
locais, personagens, coisas, fatos etc. Não há narração que não apresente
alguns aspectos descritivos. Tecnicamente, a narração, assim se subdivide:
1º.) Apresentação de tempo ( cronológico ou físico);
local; personagem.
2º.) Desenvolvimento do fato ou enredo.
3º.) Conclusão.
Na narração há sempre alguém que narra, que conta o
fato: O NARRADOR.
Gramaticalmente, percebe-se o predomínio de frases
verbais, indicando um processo ou ação.
ELEMENTOS DA
NARRATIVA:-
A.
NARRADOR-
a) participante ( 1ª. pessoa ).
b) simples observador do fato narrado ( 3ª. pessoa).
B.
FOCO
NARRATIVO - maneira como o narrador se situa em relação ao que está sendo
narrado. 1ª. pessoa ( eu / nós ), ou se distancia dela e escreve na 3ª. pessoa
( utilizando-se do índice de indeterminação do sujeito : " se ")
C.
ENREDO
OU AÇÃO - a seqüência dos fatos ou acontecimentos.
D.
PERSONAGEM
OU PERSONAGENS - pessoas que atuam na narrativa, além do narrador.
E.
TEMPO
- a extensão do tempo cronológico ou psicológico em que tudo acontece: anos,
meses, dias, horas e até minutos.
F.
ESPAÇO
GEOGRÁFICO - o local onde os fatos ocorrem: o campo, a cidade, a casa, a vila,
a estrada, a praia, a rua etc.
OBSERVAÇÃO:- " OS SERTÕES" - gênero
narrativo com ação romanesca e estrutura convencional.
1º. ) ESPAÇO = descrição detalhada do espaço geográfico. A
TERRA
2º. ) PERSONAGENS = o homem que vive neste espaço e seus habitantes . O SERTÃO /
SERTANEJO / JAGUNÇO
3º. ) NARRATIVA EM 3ª. PESSOA = Campanha de Canudos
- o autor documenta o que vê para noticiar no Jornal o Estado de São Paulo
Narração com aspecto ideológico, isto é, prevalece o
modo de ver e sentir o fato pelo autor. A realidade observada na ótica do
autor.
Os fatos históricos, os dados e as observações
prendem-se às idéias de seu autor que
os interpreta na arte da palavra escrita proporcionando leitura prazer para o
leitor.
VIII. DESCRIÇÃO:-
ao contarmos uma história, muitas vezes precisamos descrever uma pessoa, um
ser, uma cena, um objeto, um lugar, teremos, então, uma espécie de retrato
feito com palavras. Numa descrição podemos encontrar aspectos físicos ( =
externos, isto é, aspectos que são vistos ), e aspectos psíquicos ( = internos,
isto é, aspectos que não são vistos ), principalmente quando se trata de
pessoas ou animais.
A descrição pode ser SUBJETIVA - apresenta as
características exteriores , mas detalha mais as características psicológicas
da pessoa ou personagem da qual se está descrevendo.
Na descrição OBJETIVA predomina a reprodução fiel de
uma pessoa, objeto ou cena, segundo a percepção individual de quem escreve,
destacando-se com exatidão e precisão vocabular os detalhes.
Observe alguns detalhes descritivos no texto
euclidiano na parte O HOMEM, em OS SERTÕES - Euclides da Cunha - Ediouro - pág.
96 - 97 e 98.
" Canudos, velha fazenda de gado à beira do
Vaza-Barris, era, em 1890, uma tapera de cerca de cinqüenta capuabas de
pau-a-pique.
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Feitas de pau-a-pique e divididas em três
compartimentos minúsculos, as casas eram paródia grosseira da antiga morada
romana: um vestíbulo exíguo, um átrio servindo ao mesmo tempo de cozinha, sala
de jantar e de recepção; e uma alcova lateral, furna escuríssima mal revelada
por uma porta estreita e baixa. Cobertas de camadas espessas de vinte centímetros,
de barro, sobre ramos de icó, lembravam as choupanas dos gauleses de César. Traíam
a fase transitória entre a caverna primitiva e a casa. Se as edificações em
suas modalidades evolutivas objetivam a personalidade humana, o casebre de teto
de argila dos jagunços equiparado ao wigwam dos peles-vermelhas sugeria paralelo
deplorável. O mesmo desconforto e, sobretudo, a mesma pobreza repugnante,
traduzindo de certo modo, mais do que a miséria do homem, a decrepitude da
raça."
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Emoldurava-o uma natureza morta: paisagens tristes;
colinas nuas, uniformes, prolongando-se, ondeantes, até às serranias distantes,
sem uma nesga de mato; rasgadas de lascas de talcoxisto, mal revestidas, em raros
pontos, de acervos de bromélias, encimadas, noutros, pelos cactos esquios e
solitários. O monte da Favela, ao sul, empolava-se mais alto, tendo no sopé,
fronteiro à praça, alguns pés de quixabeiras, agrupados em horto selvagem. A
meia encosta via-se solitária, em ruínas, a antiga casa da fazenda..."
São Paulo, junho de 2001
Prof.
Stenio Esteter