Cem
anos sem Manuelzinho
Quase
passou em branco. Há pouco mais de cem anos — ou, como registrava, em 1936,
Honório de Sylos, “Nos
primeiros
dias de 1903” — morria Manuelzinho das Crianças. Poucos saberão quem foi.
Os livros de história não
registram,
mas esse figura foi responsável pelo serviço — de novo lembrando o velho
Sylos, “quase maternal” —
de
cuidar dos filhos dos outros. Duas de “suas” crianças tinham por pai ninguém
menos do que ele, Euclides da
Cunha,
personagem quase onipresente na história de São José do Rio Pardo. Solon, que
depois viria a morrer no
Acre,
e Euclides da Cunha Filho, o Quidinho, que seria morto, anos depois, pelo mesmo
assassino de seu pai,
foram
acalentados
por Manuelzinho das Crianças — sem que Euclides o soubesse, atarefado que
estava com o
bate-e-rebate
dos martelos na ponte em reconstrução.
Num
relato, comovente em alguns pontos, hilário em outros, Honório conta como foi
o encontro, digamos, casual,
de
Euclides e o pajem - o autor de “Os Sertões”, num surto de nervoso, jogara
o homem porta afora, debaixo de
uma
“noite
trevosa”, de uma “trabusana d´água medonha”. O resto, fica por conta do (ótimo)
texto do velho Honório de
Sylos,
que contou a história em edição do “Rio Pardo Jornal”, de 28 de junho de
1936.
Honório
de Sylos — jornalista, acadêmico e político nascido em São José do Rio
Pardo a 10 de setembro de 1901,
cedo
foi desligando-se daqui, primeiro indo estudar na Escola Normal de Casa Branca e
depois radicando-se em São
Paulo.
Apesar desse afastamento físico prematuro, jamais se esqueceu de parentes e
amigos da terra.
Longamente
exercitado no jornalismo (foi diretor do extinto “Correio Paulistano”),
jamais deixou sem comentário,
resposta
ou defesa qualquer alusão em seu entender menos correta a São José do Rio
Pardo, a Euclides da Cunha,
aos
homens com quem tratara profissional ou politicamente.
Graças
ao seu empenho pessoal, o Ginásio do Estado, solenemente inaugurado pelo
governador Armando de Sales
Oliveira
em 1936, teve como patrono Euclides da Cunha. Seu temor era que se desse à bela
escola o nome de
qualquer
político de plantão, de importância pouca em comparaçào ao que Euclides
representava para a cidade e
para
o Brasil.
A criação
da Casa Euclidiana (como está na placa alusiva) foi decorrência de trabalho
seu junto ao interventor federal
em
São Paulo, embaixador José Carlos de Macedo Soares. O processo do imóvel onde
residia Euclides da Cunha
custou
a Honório desgostos e desafeições pessoais, mas ele sabia que apenas a
instalação da Casa daria ao
euclidianismo
condições de projetar-se nacionalmente.
Colocou
em ordem o “caos histórico” que era o Episódio Republicano Rio-pardense de
10 de agosto de 1889, para
isso
valendo-se de depoimentos pessoais, pesquisando jornalisticamente o assunto e
proferindo conferência no
Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo.
Honório
de Sylos, que também assinava "Brasiliófilo", foi membro da Academia
Paulista de Letras, presidente da
União
de Imprensa de São Paulo, diretor da Federação da Indústrias do Estado de São
Paulo e diretor geral do
Departamento
Estadual de Informações do Governo do Estado de São Paulo. Faleceu em São
Paulo, em 1993, aos 92
anos.
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