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Euclides e o berço de Os Sertões
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Cem anos sem Manuelzinho
2003-05-05 11:24:48

 

Cem anos sem Manuelzinho

Quase passou em branco. Há pouco mais de cem anos — ou, como registrava, em 1936, Honório de Sylos, “Nos

 primeiros dias de 1903” — morria Manuelzinho das Crianças. Poucos saberão quem foi. Os livros de história não

 registram, mas esse figura foi responsável pelo serviço — de novo lembrando o velho Sylos, “quase maternal” —

 de cuidar dos filhos dos outros. Duas de “suas” crianças tinham por pai ninguém menos do que ele, Euclides da

 Cunha, personagem quase onipresente na história de São José do Rio Pardo. Solon, que depois viria a morrer no

 Acre, e Euclides da Cunha Filho, o Quidinho, que seria morto, anos depois, pelo mesmo assassino de seu pai,

 foram

 acalentados por Manuelzinho das Crianças — sem que Euclides o soubesse, atarefado que estava com o

 bate-e-rebate dos martelos na ponte em reconstrução.

Num relato, comovente em alguns pontos, hilário em outros, Honório conta como foi o encontro, digamos, casual,

 de Euclides e o pajem - o autor de “Os Sertões”, num surto de nervoso, jogara o homem porta afora, debaixo de

 uma

 “noite trevosa”, de uma “trabusana d´água medonha”. O resto, fica por conta do (ótimo) texto do velho Honório de

 Sylos, que contou a história em edição do “Rio Pardo Jornal”, de 28 de junho de 1936.

Honório de Sylos — jornalista, acadêmico e político nascido em São José do Rio Pardo a 10 de setembro de 1901,

 cedo foi desligando-se daqui, primeiro indo estudar na Escola Normal de Casa Branca e depois radicando-se em São

 Paulo. Apesar desse afastamento físico prematuro, jamais se esqueceu de parentes e amigos da terra.

Longamente exercitado no jornalismo (foi diretor do extinto “Correio Paulistano”), jamais deixou sem comentário,

 resposta ou defesa qualquer alusão em seu entender menos correta a São José do Rio Pardo, a Euclides da Cunha,

 aos homens com quem tratara profissional ou politicamente.

Graças ao seu empenho pessoal, o Ginásio do Estado, solenemente inaugurado pelo governador Armando de Sales

 Oliveira em 1936, teve como patrono Euclides da Cunha. Seu temor era que se desse à bela escola o nome de

 qualquer político de plantão, de importância pouca em comparaçào ao que Euclides representava para a cidade e

 para o Brasil.

A criação da Casa Euclidiana (como está na placa alusiva) foi decorrência de trabalho seu junto ao interventor federal

 em São Paulo, embaixador José Carlos de Macedo Soares. O processo do imóvel onde residia Euclides da Cunha

 custou a Honório desgostos e desafeições pessoais, mas ele sabia que apenas a instalação da Casa daria ao

 euclidianismo condições de projetar-se nacionalmente.

Colocou em ordem o “caos histórico” que era o Episódio Republicano Rio-pardense de 10 de agosto de 1889, para

 isso valendo-se de depoimentos pessoais, pesquisando jornalisticamente o assunto e proferindo conferência no

 Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

Honório de Sylos, que também assinava "Brasiliófilo", foi membro da Academia Paulista de Letras, presidente da

 União de Imprensa de São Paulo, diretor da Federação da Indústrias do Estado de São Paulo e diretor geral do

 Departamento Estadual de Informações do Governo do Estado de São Paulo. Faleceu em São Paulo, em 1993, aos 92

 anos.

 
Extraído do Jornal Democrata
 
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