HISTÓRIA
Não há detalhes de como Solon Cunha, filho do genial escritor brasileiro Euclides da Cunha, autor de "Os Sertões", veio parar no Acre. Certo é que sua vinda ocorreu após o assassinato de seu pai, em 15 de agosto de 1909, no Rio de Janeiro. Três anos antes, Euclides subira até as cabeceiras do rio Purus como chefe da expedição encarregada de definir os limites do Brasil com a República do Peru. A expedição de Euclides se demorou seis meses (de abril a outubro de 1906) desde a sua saída de Manaus e enfrentou muitos percalços - havendo o próprio escritor sido acometido de várias doenças tropicais, dentre elas a malária que levou consigo para o Rio de Janeiro.
Em 1926, Solon da Cunha exercia o cargo de Delegado de Polícia do Termo da Vila Feijó, hoje município do mesmo nome. No dia 1º de maio daquele ano deixou a sede da Vila acompanhado de seu escrivão e praças da polícia com a finalidade de prender, no seringal Miraflores, as pessoas que haviam assassinado a um seringalista e dois fregueses seus.
Após seis dias de viagem o delegado e seus agentes chegaram, à tarde, à barraca dos Ambrósios, aonde se achavam entrincheirados os quatro seringueiros tidos como autores dos homicídios. Ao se aproximar da barraca Solon foi advertido por um seringueiro: "Doutor, vá prevenido porque dos quatro homens que estão na barraca dos Ambrósios, dois se entregam e dois resistem".
O delegado não deu ouvidos ao conselho que recebera e após pedir licença penetrou na barraca anunciando: ¨Eu sou delegado de polícia e vocês estão presos" ao que um dos seringueiros teria respondido: ¨Não é assim que se prende um homem". Contam as testemunhas que a partir daí ouviram-se vários tiros e ao final do embate restaram mortos dois seringueiros, enquanto Solon achava-se gravemente enfermo, com um tiro na barriga. O delegado não resistiu aos ferimentos e veio a falecer horas após, aos 24 anos de idade, sendo sepultado lá mesmo no seringal Miraflores.
Como ninguém da família aparecera para abrir inventário, o juiz determinou que fossem avaliados os bens que Solon deixara em três malas constituindo-se de objetos de uso pessoal como um chapéu de massa , um terno de casimira, um cachimbo, etc. Seus pertences foram levados a leilão e arrematados por 178 mil réis, quantia essa recolhida aos cofres do tesouro federal.
* Desembargador
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