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Euclides e o berço de Os Sertões
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ALGUNS MOTIVOS PARA LER OS SERTÕES, HOJE
2001-11-20 00:00:00

 

Enquanto não caducar a guerra dos ricos contra os pobres, que parece eternizar-se, Os sertões manterá sua atualidade. Agora é um bom momento para lê-lo e relê-lo, com nossos olhos saturados pelas imagens de hostes de maltrapilhos e esqueléticos afegãos, batendo em retirada diante do mais moderno armamento. Imediatamente nós as associamos a outras, emanadas da Guerra de Canudos.

A presente investida bélica dos Estados Unidos, tal como na campanha brasileira de 1896-1897, empunha a bandeira de um combate do bem contra o mal, da civilização contra a barbárie, da razão contra o fanatismo religioso.

Como mostrou Euclides da Cunha, fanático é sempre o outro, sendo mais fácil dar-lhe um rótulo que perquirir suas razões. Quem vê aqueles pobres-diabos no Afeganistão abandonando suas aldeias já anteriormente em ruínas, carregando os parcos haveres, enquanto a mais poderosa máquina militar do planeta os pulveriza sem clemência, bombardeando escombros, acha difícil aceitar que sejam a encarnação do demônio. Mas em nosso mundo, um mundo de progresso, de ciência, de saber, de urbanidade, atulhado de bugigangas e maravilhas eletrônicas, só há lugar para um fundamentalismo - o do mercado. Nenhum outro deus, que não o consumo. E só um evangelho, o digital. Qualquer dissidência ou mera divergência é recebida a bala, como o foi em Canudos. Torna-se urgente ler e reler Os sertões.

 
Walnice Nogueira Galvão
 
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