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Euclides e o berço de Os Sertões
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Euclides e o Positivismo
2001-07-01 00:00:00

 

“O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim.”

O Que é o Positivismo ?

Convidamos o leitor a passar uma vista no mundo e observar as aspiraçõesdos diversos povos.

Constata-se um anseio geral de paz, um sentimento de fraternidade universal,uma busca de bem estar material e espiritual, mesmo através da desordem atual,que reclama uma orientação e uma doutrina esclarecedora para unir as pessoas,as famílias, as pátrias e a sociedade inteira por um único ideal deconvergência.

Entretanto, esta doutrina já existe desde meados do século XIX, fundada naFrança por Augusto Comte.

Ele organizou o saber humano, baseado na ciência, sem questões teológicasou metafísicas, distinguiu os conhecimentos abstratos da ciência dosconhecimentos concretos da tecnologia, classificou as ciências: Matemática,Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e Moral ou PsicologiaPositiva, completando a escala enciclopédica, mediante a fundação das duasúltimas.

O Filósofo, sucessor de Aristóteles e de Descartes, retomou o caminho dereformador social de sua mocidade e tornou-se Apóstolo e continuador deMoisés, Buda, Confúcio, São Paulo, Maomé, enfim, o verdadeiro Pontífice daHumanidade.

A sua doutrina, o Positivismo, é um culto de amor e reconhecimento pelosparentes, pelas instituições sociais, pela pátria, pelos antepassados e pelosgrandes homens; é uma filosofia real, útil, certa, precisa, orgânica,relativa e sobre tudo simpática; é um sistema de vida moralizador, um regimenconveniente para todas as raças, todos os povos, todas as classes sociais, deconvivência sem conflitos, sempre oriundos dos excessos egoístas e quedesaparecem quando se subordina o egoísmo ao altruísmo.

Seu lema fundamental é ´O Amor por princípio e a Ordem por base; oProgresso por fim´. Suas regras básicas são ´Viver paraoutrem´ e ´Viver às claras´. Como divisa Política,abrangente e sociológica, aconselha ´Ordem e Progresso´.

Ser positivista é amar, conhecer e servir à Família, à Pátria, àHumanidade.

 

A Influência no Brasil

O positivismo começou a repercutir no Brasil por volta de 1850. A doutrinade Augusto Comte chegou através de trabalhos elaborados por intelectuais. NoColégio Pedro II, na Escola Militar, na Escola da Marinha, de Medicina,Politécnica, encontrou grande repercussão. O crescimento pelo interesse poresta filosofia, acabou provocando um fenômeno no sentido de que o Positivismono Brasil acabou ganhando mais repercussão que na França.

No Brasil o Positivismo dividiu-se em duas partes, quase sempre antagônicas:de um lado, os ortodoxos, seguidores da Religião da Humanidade e crentesno Grande Ser, representados pelos apóstolos Miguel Lemos e TeixeiraMendes; do outro lado, os dissidentes ou heterodoxos, cujos nomesmais importantes foram Luis Pereira Barreto, Alberto Salles e Pedro Lessa.

O positivismo religioso teve pouca importância entre nós. O positivismofilosófico e político teve os seus cultores e por tal motivo se desenvolveuaté que dominado por outras filosofias praticamente desapareceu.

Apesar de serem pacifistas, os militares positivistas têm cumpridorigorosamente com os seus deveres profissionais, estimulados pela cultura doamor à Pátria e pelo empenho de proceder de maneira exemplar em todos os seusatos. Nunca fugiram ao combate. Pelo contrário, sempre lutaram com entusiasmopelas causas que abraçaram.

Preferir a paz à guerra e procurar soluções humanas para os conflitos temsido a meta dos estadistas e dos grandes chefes militares. No auge dacivilização militar, adotou-se o princípio ´Si vis pacem para bellum´- se quereis a paz preparai-vos para a guerra - seguindo o qual foi estabelecidana antiguidade a paz romana que acabou com as pequenas hostilidadesgeneralizadas.

Nos chefes militares modernos encontramos as maiores manifestaçõespacifistas. Frederico II, o Grande, afirmava que ´se fosse Rei da frança,não se daria mais um tiro de canhão na Europa´ e na carta a Villiers de18.12.1785 ´estou com os sentimentos de preferir a paz à guerra´. Onosso bravo Osório ´dizia que o seu maior desgosto era ver sua pátria emluta, e achar-se em um campo de batalha; e que a sua data mais feliz seriaaquela em que lhe dessem a notícia de que os povos civilizados, pelo menos,festejavam a sua confraternização, queimando os seus arsenais´.

Foch, o comandante dos Exércitos Aliados em 1918 escreveu:´Decididamente, o dever é partilha de todos os homens: acima dosexércitos para comandar vitoriosamente, está o país para servir; está ajustiça para respeitar; acima da guerra está a paz´. Eisenhower tem umadeclaração semelhante e o general Norman Schwarzkof, comandante das ForçasAliadas na Guerra do Golfo Pérsico, afirmou em fevereiro de 1991: ´Nenhumapessoa inteligente pode ser a favor da guerra´.

Relativamente aos positivistas convém lembrar que Augusto Comte, como alunoda politécnica, promoveu a formação de um batalhão de artilharia para adefesa de Paris na última batalha dos Cem Dias.

Benjamin Constant esteve na linha de frente na Guerra do Paraguai, donde sósaiu por cair doente. No glorioso 15 de novembro assumiu o comando da 2a.Brigada até a chegada de Deodoro e cavalgou na frente da tropa até o fim dajornada. Foi ministro da Guerra por sete meses, de 15.11.1889 a 22.6.1890, tendocriado a Comissão de Reforma das Escolas Militares (Rio, Rio grande do Sul eCeará), a Comissão para Organização do Código de Justiça Militar, a EscolaSuperior de Guerra, e a Comissão de Reorganização do Exército. Nunca sedescuidou , portanto, da operosidade militar. Além dos exercícios nosquartéis e campos de manobra, houve o trabalho penoso da Comissão Rondon queabsorveu e sacrificou muitos positivistas. Nas duas Grandes Guerras Mundiais, ospositivistas estiveram nos seus postos.

Quem lamenta a vitória do Exército sobre a Revolução Federalista e osrebeldes de Canudos confunde os fatos e atribui aos positivistas coisas com queeles não tem nada a ver. São antipatias gratuitas dos que desconhecem as obrase a incomparável grandeza de Augusto Comte.

Os militares positivistas não pregam a violência, exceto contra a própriaviolência, mas não fogem da guerra. Se houve algum período de menor atençãoà parte prática da instrução militar, a culpa não cabe aos positivistasque, logo ao reassumirem os postos da direção, promoveram a sua remodelação.A cultura geral é necessária aos chefes militares e não colide com asobrigações profissionais. Na defesa da República dirigida por Floriano,muitos civis positivistas pegaram em armas, como Saturnino Brito, ManuelMiranda, Júlio de Castilhos, Pinheiro Machado, etc. Figuras como BenjaminConstant, Rondon, Trompowsky, Manuel Rabelo, Raimundo Sampaio, Poli Coelho,Klinger, Alfredo Severo e tantos outros positivistas só honraram o ExércitoBrasileiro.

A influência na vida de Euclides da Cunha

Em 1875, Euclides é matriculado no Colégio Caldeira, em São Fidélis.Dirigido pelo Professor Francisco José Caldeira da Silva, natural da ilha daMadeira. Homem bastante inteligente, com ótima cultura, viera para o Brasil porcausa de suas avançadas idéias republicanas. Sendo assim, sofreu grandeinfluência daquele mestre com ideais republicanos.

No Colégio Aquino, figuravam entre os Professores Benjamim Constant, maistarde também seu professor no Colégio Militar em que as aulas técnicasocasionalmente eram substituídas pela propaganda política republicana e adisseminação da doutrina positivista. Benjamim Constant pertencia à Ala dosHeterodoxos. Dessa forma Euclides assimilou os princípios fundamentais dopositivismo, reforçando ainda a sua idéia republicana, mas seu espíritocrítico e embasamento científico nunca permitiu que se entregasse totalmente eintelectualmente ao positivismo ou a nenhuma outra corrente de pensamento.

Euclides tinha temperamento inquieto e tortuoso, sempre à busca de algo queo inquietava, para demonstrar esse seu espírito e posicioná-lo nesse mundopolítico e social, tomemos um trecho de seu estudo ´Da Independência àRepública ´:

´ Porque, em verdade, o que houve foi a transfiguração de um sociedadeem que penetrava pela primeira vez o impulso tonificador da filosofiacontemporânea. E esta, certo, não a vamos buscar nesse tão malsinadopositivismo, que aí está sem a influência que se empresta, imóvel,cristalizado na alma profundamente religiosa e incorruptível de TeixeiraMendes.´

´ As novas correntes, forças conjugadas de todos os princípios e detodas as escolas - do contismo ortodoxo ao positivismo desafogado de Littré,das conclusões restritivas de Darwim às generalizações de Spencer - o quetrouxeram, de fato, não foram os seus princípios abstratos, ou leisincompreensíveis à grande maioria, mas as grandes conquistas liberais do nossoséculo; e estas compondo-se com uma aspiração antiga e não encontrando emnós arraigadas tradições monárquicas, removeram, naturalmente, sem ruído -no espaço de uma manhã - um trono que encontraram. ´

Com tudo isso podemos concluir que embora o positivismo declaradamente tenhadesaparecido no Brasil, ainda restam pensamentos e práticas sociais que noslevam a fazer ainda, uma reflexão sobre sua praticidade para a sociedadebrasileira. Não esquecendo que no Rio de Janeiro temos ainda um templo daIgreja Positivista do Brasil.

Prof. Guilherme Félice Garcia é um dos Coordenadores e Professores dosCiclos de Estudos e professor nas cidades de Ribeirão Preto, Jaboticabal,Ituverava, Orlândia e São Joaquim da Barra .

 
Guilherme Félice Garcia ( Area II)
 
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