Visões Euclidianas: litorais e sertões
Milza
Barreto
Resumo
Euclides
da Cunha acusou o simplismo da visão antropocêntrica, denunciou as
desigualdades regionais, personificadas no isolamento das diversas regiões
nacionais através das assimetrias entre o litoral e o sertão. No entanto, não
superou o ponto de vista dominante na época baseado na concepção que a
variedade de tipos significava obstáculo para o estudo efetivo do elemento
humano nacional. A concepção dos
“dois Brasis” tamanha as diferenças internas da realidade nacional. Um país
desmembrado para “efeito de estudo” em duas porções. Por exemplo, a
abordagem sociológica da demarcação entre o Nordeste do Massapê (Zona da
Mata) e o Nordeste dos Sertões. Estilos de vida que se chocam, se transmutam e
se complementam, expresso no confronto de visões de mundo distintas e a
necessidade da articulação do território nacional. O antagonismo entre os
“padrões civilizados” vinculado ao ambiente
urbano, “cosmopolita”, técnico, em contraste com o meio rural, de traços
peculiares, locais, telúrico. Neste contexto, o sertão representa o território
da aridez, da rusticidade, enquanto, o litoral simboliza a promessa das “luzes
da cidade”. Mundos em conflito que se repelem e, simultaneamente, se atraem.
Neste sentido, o artigo promove uma reflexão, através de um prisma euclidiano,
da condição humana em ambientes variados como sertões e litorais, ou seja, um
povo em paisagens e oportunidades diferentes. Afinal, ontem e hoje, quais os
interesses defendidos em cada porção do território nacional ? A recorrente
intervenção do Homem sobre o Ambiente. E, a travessia dos sertões com sua
vegetação singular, um cenário desbravado através dos “arregalados
olhos” euclidianos, onde o sertão não é apenas o locus dos chapéus
de couro e das práticas agrícolas, antes, o apanhado de uma imagem do Homem.
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