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Euclides e o berço de Os Sertões
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“OS SERTÕES” – 100 ANOS DEPOIS
2004-03-03 16:14:08

 

CONFERÊNCIA -  A.P.L. – 07/11/2002.

    

“OS SERTÕES” – 100 ANOS DEPOIS

Denúncia e Permanência do grande

Livro de Euclides da Cunha.

 

 

         Agradeço a participação dos senhores acadêmicos, de amigos Euclidianos, dos senhores e senhoras e como disse o nosso Acadêmico – Presidente -  pretendo ser hoje, como venho sendo por muitos nos, apenas um modesto divulgador da obra euclidiana.

 

         A Academia Paulista de Letras, ao longo dos anos, vem exercendo esse papel e tem momentos marcantes, que vale a pena serem mencionados. Entre os atuais titulares da Academia são numerosos os que escreveram e se aprofundaram no tema: Miguel Reale, Nilo Scalzo, Massaud Moisés, Odilon Nogueira de Matos, Fábio Lucas, Hernani Donato, Solón Borges dos Reis, não sei se omiti algum nome.

 

         Entre os nossos antigos e saudosos acadêmicos é importantíssima a participação da Academia no estudo da obra Euclidiana. Dentre eles destacaria o nome de Honório de Sylos,

 

 

Ataliba Nogueira, Franco Patti, Cassiano Ricardo, Odilon da Costa Manso, Oliveira Ribeiro Neto, Osmar Pimentel. Essa participação está registrada nos volumes índices da Revista da Academia e postos em destaque na “Bibliografia Comentada” - de Adelino Brandão, (cujo volume lhes apresento) recentemente publicada, e que passa a ser o mais completo levantamento sobre os estudos euclidianos, pois o Autor, em 50 anos dedicados às pesquisas reuniu 9.398 verbetes que, certamente, poderão contribuir para a feitura de uma nova grande obra, ainda, a ser escrita e que viria complementar os trabalhos pioneiros de: Francisco Venâncio Filho, Elói Pontes, J. Galante de Souza, Olímpio de Souza Andrade, José Calasans, Paulo Dantas. Nestes autores está o mapa da mina: Oswaldo Galotti, Moisés Gicovate, Ersílio Ângelo, Márcio José Lauria e a edição crítica de “Os Sertões” de Walnice Nogueira Galvão. Permito-me sugerir que um grande e definitivo livro sobre Euclides poderia ser organizado a partir dos estudos dos chamados euclidianos de S. José do Rio Pardo, sob a coordenação de Márcio José Lauria e Adelino Brandão. Quem sabe ainda, reuniremos estes preciosos estudos em só volume. Academia? A idéia está lançada!

 

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         Mas vamos ao objetivo desta reunião que o tempo e a paciência são certamente curtos para um tema tão complexo, que comportaria, certamente, todo um seminário e com a participação de muitos especialistas, que tantos temos, felizmente.

 

         Foi o Pe. Vieira que mencionou a angústia do orador face as limitações do tempo. De certa feita um deles em tal situação pediu sugestão do auditório, que prontamente lhe deu 15 minutos. Desanimado o orador revidou - precisava de duas horas!

 

         Não tenho a ousadia de solicitar tanto – “in medius virtus”- talvez em 60 minutos, bem corridos se os senhores tiverem a paciência de me acompanhar.

 

         Stefan Zweig se referiu a Momentos Supremos na vida de pessoas e de nações. Para nós darmos aos senhores uma visão bastante superficial do grande tema poderíamos dividi-los naqueles instantes ou impactos, que foram decisivos na trajetória do Autor que pereceu tragicamente, aos 43 anos e com reflexos diretos e imediatos sobre a obra.

 

         Podemos começar pelo:

 

         1.º Momento Supremo: no dia 02 de dezembro de 2002, portanto daqui a 25 dias, teremos a data centenária do aparecimento de “Os Sertões” nas livrarias. Foi ela aos 36 anos do Autor, após duríssimos quatro anos de trabalhos sobre os originais. A seguir sairiam mais duas edições em vida do A. numa tiragem global de 6.000 exemplares o que representava enorme sucesso para a época, e o texto atordoava a inteligência brasileira e agitava os meios editoriais. As perguntas que se faziam, eram estas:

 

         — É uma obra de literatura?

         — É uma obra de história?

         — É uma obra de sociologia e ciência?

         — É uma grande epopéia escrita por um novo artista da palavra?

 

         — Respondemos o novo livro participa de todos estes segmentos literários. É um importante documentário sobre o homem e o meio brasileiros com muitas antevisões. Umas se realizaram. Outras não.  Algumas permaneceram como sérias advertências para o futuro e sobrevivência do Homem e da Terra brasileira.

 

         E haveria de se transformar, ao longo dos anos, no mais – importante e discutido livro brasileiro, marcando nossas letras, como contributo à língua e a cultura como “Os Lusíadas” para  Portugal, “A Divina Comédia” para a Itália, “O Fausto” para a Alemanha, “O Paraíso Perdido” para a Inglaterra” – “O Facundo Quiroga” para a Argentina.

 

         E o surpreendente é que, afora a obra machadiana, grandes nomes de nossas letras, nos princípios do século passado são hoje desconhecidos e a maioria dos livros em evidência à época (lembre-se Coelho Neto, Lúcio de Mendonça e os de tantos outros) inincontráveis nas livrarias. Enquanto isso “Os Sertões” alcançam mais de cinqüenta edições num país de tão poucos leitores e a obra transpunha nossas fronteiras, traduzida em mais de duas dezenas de línguas.

 

         Mas, voltemos, aos Momentos Supremos afim de tentarmos abranger a maior parte do tema a que nos propomos: 

 

         2.º Momento Supremo - E. da C. adolescente matricula-se no Colégio Militar da Praia Vermelha, numa época – em que a carreira militar era sonhada pelos jovens de classe média. Os militares voltavam da Campanha do Paraguai, empafiados, com a aura de vencedores e até se arrogavam a prerrogativas sobre os civis. A propaganda republicana estava no auge. Temia-se o 3.º reinado com o Conde D’Eu.

 

         Perguntava-se: o que virá depois de Pedro II?

 

         Ruim com ele, pior sem ele?

 

         O demagogo Lopes Trovão volta da Europa e os alunos vêm oportunidade para manifestações.

 

         O ministro da Guerra Tomaz Coelho resolve fazer visita para esfriar os ânimos.

 

         Os alunos combinam dar um viva a República.

 

         No momento não houve  viva, mas Euclides atira seu espadim à passagem do ministro.

 

         Preso. Conselho disciplinar, ameaça de fuzilamento. Recusa tratamento especial.

         Foi excluído das fileiras!

 

         Do Rio vem para São Paulo e é acolhido nos focos republicanos –

 

         Jornal a Província de São Paulo, fundado por Américo de Campos e sob a direção de Rangel Pestana e Júlio de Mesquita.

 

         Retorna ao Rio – o ambiente é hostil ao trono – A pregação de Benjamin Constant.

 

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         A proclamação da República foi um ato sem brilho no dia 15 de Novembro no Campo de Santana, quando as tropas fiéis ao Imperador se recusaram a lutar.

 

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No dia imediato o jovem Euclides vai à cidade e à volta visita a casa do Major Solón, encarregado pelo governo provisório de levar a mensagem ao Imperador para deixar o país.

 

Caramanchão florido. Ana. Bilhete de namorada?

 

— Então este é o cadete que desafiou o ministro?

 

Os vencedores estão ressabiados. Até Benjamin Constant. (diz aos que o visitam que apenas se formara um Governo provisório).

 

É recebido em seguida por Benjamin e reverte ao exército: Faz o curso de Estado Maior.

 

Fica noivo o casa-se.

 

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3.º Momento Supremo – O reverso da Medalha –

 

Euclides se desilude – aquela não era a República dos seus sonhos.

 

Os vencedores se desentendem, como sempre depois das vitórias.

 

Renúncia de Deodoro e assume Floriano.

 

Não aceita excessos militares (o fuzilamento de vencidos em Santa Catarina) na revolta da Armada. (Moreira César)

 

Deixa o exército – Quer ser apenas engenheiro.

 

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Canudos um desafio.

 

No sertão do Ceará nasce Antonio Vicente Mendes Maciel. Os primeiros milagres e os seguidores. Uma grande seca.

O Conselheiro odiava a República.

 

Em 1.893 – o conselheiro escolhe as margens do Rio vasa-barris na Bahia para a sua Tróia de Taipa, a sua Aldeia Sagrada. Covil de assassinos.

 

4.º Momento Supremo  - A Guerra Sertaneja.

 

(O crescimento do povoado preocupa a República nascente).

 

O 1.º Combate em Uauá – Tenente Pires Ferreira.

 

Seria uma vitória fácil. Derrota e perda de armamentos.

 

2.ª expedição – 543 praças – 14 oficiais. 2 canhões e 2 metralhadoras.

 

Em Monte Santo – grandes e inflamados discursos para os soldados.

 

Lavava-se a honra da República.

 

A tropa é dizimada.

 

3.ª Expedição:

 

Comoção Nacional

 

Manda-se ao sertão o Cel. Moreira César. Para vingar a República.

 

O Fetichismo político exigia manipanços de farda.

 

“Delenda est “ Canudos.

 

A expedição é destruída e morrem seus comandantes.

4.ª Expedição – tudo ou nada.

 

Era a guerra.

 

Prudente de Moraes manda ao sertão o próprio Ministro da guerra.

 

Carlos Machado Bittencourt.

Euclides a convite de O Estado de São Paulo segue para os sertões como correspondente de guerra. (1897)

 

“A Caderneta de campo”

 

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O que foi a luta para destruir 5.200 casinholos.

 

Canudos não se rendeu:

 

“Exemplo único em toda a História resistiu ao esgotamento. Só 4 pessoas, 1 velho, dois homens e uma criança à frente dos pais rugiam 5.000 soldados”. Encontraram o cadáver do conselheiro. Cortaram-lhe a cabeça, que devia ser mandada em troféu para as multidões ulularem. A convicção de E. era a de que se cometera uma chacina.

 

4.ª Momento Culminante: E. vai ao interior de São Paulo com o esboço do livro. As duas primeiras partes já escritas.

 

— Por quê foi a São José do Rio Pardo?

 

Em 1896 – construíra-se na cidade uma ponte sobre o Rio, obra de grande porte para a engenharia da época. A estrutura viera da Europa. A ponte desaba e E. é chamado para a reconstrução.

 

Ambiente cultural em São José, os amigos. A cabana de sarrafo, à margem do Rio.

 

Francisco Escobar, Intendente Municipal José Honório e Jovino de Silos, Valdomiro Silveira.

 

Escobar (possuidor de vastíssima biblioteca) – Bibliófilo, conhecedor de línguas. (citar parente e Ana Maria Martins)

 

Episódio folclórico – As laudas voam para a água e E. atira-se para recolhê-los.

Trechos literários escritos:

 

O Estouro da Boiada – “O Sertanejo”.

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5.º Momento Supremo:

 

O livro fica pronto.

 

As angústias do escritor.

 

Dificuldades para publicar o livro que vai para a redação do Jornal O Estado.

 

Os amigos Lúcio Mendonça e Garcia Redondo apresentam os originais para a Livraria Laemert (Rio). As angustias da Revisão. Saiu o livrão em dezembro de 1902.

 

O primeiro artigo é do crítico José Veríssimo.

 

Euclides adotara a concepção naturalista de Taine para a História a partir de três fatores:

 

O meio, a raça e o momento. Os Sertões: A terra, o Homem, a Luta.

 

“Estamos condenados à civilização – ou progredimos ou desaparecemos”.

 

“O Sertanejo seria o produto dos bandeirantes paulistas  que cruzaram com os indígenas, oriundos do continente americano”.

 

“O Sertanejo é antes de tudo um forte.”

 

É uma obra híbrida literatura, história, sociologia, ciência.

 

Euclides e o Perfil do Conselheiro. A tragédia de Canudos. 800 degolas. — Quer morrer de tiro ou facão? Então vai a faca mesmo.

 

Não acertou na interpretação histórica nem no perfil humano e social do Conselheiro.

 

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O “Livro de Horas” do Conselheiro, encontrado em Canudos vai para o Rio. Esteve com Afrânio Peixoto e até com E., que não lhe deu importância.

 

Ataliba Nogueira o recebeu das mãos de Aristêo Seixas ex-Presidente desta Academia, que o comprara em um sebo.

 

Pública o livro: A. Conselheiro e Canudos – Revisão histórica.

 

Altera-se em muito o próprio perfil que Euclides traçara do Conselheiro.

 

6.º Momento Supremo – A Glória do Livro – a  Tragédia do Escritor.

 

Famoso entra para a A.B.L., em 1903 mas, se tivera sucesso como escritor o mesmo não acontecera na vida particular.

 

Vai a uma missão nos sertões do Purus – que lhe da inspiração para os livros “À Margem da História”, “Contrastes e Confrontos” e “Peru x Bolívia”.

 

Essa viagem lhe daria a idéia para um grande livro sobre a Amazônia, que não levou avante.

 

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Plano inclinado.

 

Professor de lógica no Pedro II, após árduo concurso em que disputou com Farias Brito.

 

Em seu regresso no dia 15 de agosto de 1909. Sabedor que sua esposa estava a viver com um cadete do exército quer lavar a honra. Dá-se a tragédia da Piedade em subúrbio do Rio. Morre no jardim.  TV explora lances da tragédia em novela “Desejos”.

 

Dilermando levou 4 tiros e sobreviveu. Dinorá foi ferido e ficou paralítico, vindo a suicidar-se anos depois.

 

Sete anos passados Euclides da Cunha Filho tentou vingar o pai e, também é morto por Dilermando, que prova mais uma vez ser campeão de tiro. Livra-se de condenações, pois em duas vezes exercera defesa pessoal.

 

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A Academia Paulista de Letras, afora as participações de nossos acadêmicos, em obras escritas e da importante contribuição de Ataliba Nogueira, em 14 de agosto de 1982 participou, por sua Diretoria, dos trabalhos para trasladação dos restos mortais de E. da C. do Rio de Janeiro para São José do Rio Pardo.

 

Os esquifes, só liberados após árduo trabalho de Oswaldo Galotti e Honório de Sylos, foram recebidos no aeroporto de São Paulo e conduzidos ao Átrio desta Academia. Aqui promoveu-se visitação pública, com a presença de milhares de pessoas e sessão solene com a palavra de numerosos acadêmicos.

 

Os restos mortais foram velados em Câmara Ardente e, no dia imediato, seguiram para São José do Rio Pardo. A Academia participou de todas as homenagens e, por seu Presidente, que é quem lhes fala, fez discurso naquela cidade.

 

São José é a Meca Euclidiana e todos os anos, em agosto, reverencia a memória do escritor na chamada Semana Euclidiana, com incentivos à juventude para estudar a obra imortal. É caso único no Brasil.

 

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Pergunta-se: Atualmente, em termo de Brasil, estudiosos, professores, jovens leitores têm interesse na leitura e estudo dos livros de E. da Cunha?

 

Peço licença ao Sr. Presidente desta reunião e, na forma adotada na campanha presidencial, para “fazer Considerações finais”.

 

Só que, naquelas oportunidades, os candidatos já estavam massacrados pelos mediadores e pela prepotência das TVs, tentando aumentar as mídias, em detrimento de melhor conhecimento de suas idéias.

 

Em nosso caso aqui só houve monólogo, mas pedimos permissão para alguns desabafos:

 

Francisco Marins

 
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