O euclidianismo está de luto
Sem dúvida, novembro foi marcado por uma importante lacuna deixada entre os verdadeiros apóstolos de Euclides da Cunha. Uma voz se calou, para tristeza de todos que se acostumaram com o sotaque paraense do intelectual e muito querido Adelino Brandão.
Conheci o professor Adelino em Jundiaí, com quem tive o prazer e o privilégio de conviver durante sete anos, recebendo e publicando seus artigos, semanalmente, nas edições dominicais do Jornal de Jundiaí, onde eu era a editora-chefe e ele um dos nossos mais ilustres colaboradores.
E foi através de seus artigos que também conheci, com maior profundidade, a riqueza de Canudos, a determinação e contrastante despojamento de Euclides da Cunha e passei a entender a verdadeira devoção que os riopardenses desenvolvem, há décadas, unindo intelectuais, maratonistas e o sempre esperado Professor Adelino, que integrava o chamado staff desse evento.
E exatamente há quatro anos – depois de um hiato de quase dez- nos reencontramos na Semana Euclidiana, quando fui convidada a participar como coordenadora da Oficina de Jornalismo. Dupla alegria: rever o amigo e poder enriquecer os conhecimentos euclidianistas com suas palestras, os bate- papos euclidianos e o Episódio Republicano, tão bem rememorado pelo notável Adelino Brandão. Vale lembrar, este ano de 2004 ele foi eleito pelos maratonistas, o Professor Nota 10!
E que bonito ver o casal amoroso, fiel, exemplo de comum união refletida pelo companheirismo entre o Professor e sua esposa, que sempre esteve a seu lado, assessorando, participando, compartilhando. Lindo, mesmo! Por sinal, que doçura ela é.
De repente, um susto! Navegando pelo site da Casa Euclidiana, a notícia de falecimento. E então, passado o espanto, eu pensei: que pena! A imortalidade de Adelino Brandão ficou restrita ao acervo e conteúdo da Academia de Letras de Jundiaí e, evidentemente, às suas obras literárias, ensaios, artigos, com toda certeza arquivados, com carinho, por muitos leitores. Mas, que bom, ele é um Imortal. Porém, esse atributo não nos dá o direito de sua convivência. E aí ficam as lembranças, boas, mas saudosas, nostálgicas...
Porém, há um consolo: o Reino de Deus ficou mais rico, pois acaba de receber não apenas mais uma alma, mas a competência, o intelecto, a alegria espontânea desse estudioso representante do nosso Brasil. E quem sabe não aconteça, na outra Dimensão, um encontro especial entre os nossos historiadores e o protagonista deste Movimento chamado Euclidianismo? Afinal, a Deus nada é impossível.
E me permitam a conclusão: Adelino Brandão se foi. E eu comparo essa partida, triste para todos nós, a um presente de Natal para o próprio Menino Deus. Afinal, o Céu está em festa! Mas o Euclidismo, aqui na Terra, está de luto.
Saudades, professor...
Fátima S. Ribeiro
04-12-2004
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